feito por nós
Será uma coletânea de textos, artigos e conferências de autoria dos associados da CLIPP que, neste ano, comemora 18 anos desde sua fundação em 19 de agosto de 2003.
Em tempos tão sombrios, de isolamento, tornou-se imperioso procurarmos novas formas de transmissão e trabalho entre nós.
Relançando algo da produção realizada ao longo de anos, feito por nós se propõe a colocar mais algumas voltas, outros nós sobre ela, renovando seu valor.
A cada texto, convidamos um colega a trazer sua contribuição que é instigada por uma pergunta, para assim atualizar e relançar a transmissão contida nele.
Maria Helena Barbosa
A CARTA ROUBADA, OS TRÊS PRISIONEIROS E O DESLUMBRAMENTO DE LOL V. STEIN*
Maria Helena Barbosa – Membro da EBP/AMP
feito por nós: Maria Helena aborda três textos de Lacan indicando que neles “o objeto olhar e suas posições na gramática do sujeito ocupam um lugar destacado”. No primeiro, “o lugar que o objeto olhar ocupa é de sombra e reflexo da ‘determinação maior que o sujeito recebe do percurso de um significante’”, o automatismo de repetição. No segundo, marca que “(…) a topologia do olhar se sustenta na visão de pura lógica”, apresentando o sujeito enquanto calculável. Nesse processo, o sujeito conclui o movimento lógico numa asserção subjetiva sobre si, como “a forma pessoal do sujeito do conhecimento, aquele que só pode ser expresso por eu”. Por fim, sobre a interpretação que Lacan faz do romance O arrebatamento de Lol V Stein, como uma homenagem à sua autora, diz que nesse trabalho “o olhar (…) se encontra em diferentes posições, dependendo do ternário que se constitui e do nó lógico que o encerra”. Declara que no primeiro ternário “O olhar é recuperado no estado de objeto puro”; no segundo seu estatuto é imaginário e no terceiro, simbólico.
Rosangela, considerando o objeto olhar e suas posições na gramática do sujeito, você poderia comentar a importância que ele ocupa na experiência analítica?
PORNOGRAFIA: A FANTASIA NA PRATELEIRA*
Niraldo de Oliveira Santos (EBP/AMP)
feito por nós – Focalizando o fenômeno digital que caracteriza o século XXI, Niraldo fala sobre os efeitos que este pode causar na sexualidade dos chamados jovens da geração internet. Situa a fantasia, sublinhando as modificações que Lacan fez no decorrer de seu ensino quanto à sua função. Indica que, inicialmente, serve “como anteparo à relação simbólica entre o sujeito e o Outro” e, depois, “passa a ser a ‘relação essencial do sujeito com o significante’ (…)”. Sobre uma abordagem que localiza a clínica da pornografia como uma marca do século XXI, salienta que quando uma gama de fantasias filmadas é ofertada aos sujeitos “o objeto a abandona seu lugar de causa de desejo e passa a ser objeto de puro gozo”. E, nesse sentido, sublinha também que: “Ter a fantasia pré-fabricada ao alcance do bolso implica em se defender do encontro sexual com o(a) parceiro(a) – encontro este que é sempre faltoso (…)”.
Katia, considerando a relação que os sujeitos mantêm com o fenômeno contemporâneo da rede digital e a indicação de Niraldo quanto a desarticulação entre desejo e gozo como um efeito colateral, o que você poderia nos dizer sobre as manifestações sintomáticas oriundas dessa relação?
A SOLIDÃO E AS SOLUÇÕES DO FALASSER
Eliane Costa Dias (EBP/AMP)
feito por nós – Numa articulação sobre os diferentes modos de solidão Eliane propõe o deslocamento do eixo de abordagem do par sujeito-Outro para o par falasser-gozo. Deslocamento que segundo ela remete a uma nova teoria da constituição subjetiva que, no último Lacan, passa a focalizar o falasser e não o sujeito. Explica que, “todo falasser (…) se confronta com o desafio de encontrar solução para o vazio que lhe é constituinte e para a dimensão opaca e inominável do ser – o gozo”. Ao indicar a perspectiva da foraclusão generalizada proposta por Miller, ela salienta que “a solidão é um afeto inerente ao falasser” sendo possível, portanto, “pensá-la a partir dos três registros – RSI”. Destaca que o Simbólico e o Imaginário não são suficientes para dar conta da solidão o que abriria caminho para sua vertente real onde, “a solidão remete ao Um do gozo, (…) é uma condição subjetiva inexorável e está atrelada à angústia, outro afeto igualmente estrutural e estruturante”.
Leny, uma vez que na vertente real a solidão remete ao Um do gozo, está atrelada à angústia e é condição subjetiva inexorável, como pôr em marcha a experiencia analítica considerando o par falasser-gozo?
A GENTE TAVA BRINCANDO, SENHOR*
Daniela de Camargo Barros Affonso
Membro da EBP/AMP
feito por nós –
Ao descrever cenas televisivas que exibem violência, Daniela fala sobre as consequências que a veiculação destas produzem: “Elas afetam as subjetividades, estabelecem modos de gozo que se manifestam em atos de ódio e segregação, e respondem pelo mal-estar na civilização em que os indivíduos são consumidos por imagens”. Abordando a leitura que Lacan faz do conceito de Unheimlich de Freud, diz que “(…) cria-se, a partir da pregnância da imagem, uma espécie de categoria social a ser segregada, eliminada”. Numa referência a Antônio Teixeira “aponta que a dimensão do universal que organiza o modo de pertencimento de um sujeito a uma comunidade depende, para se instituir, da violência de uma expulsão”.
Durval, você poderia comentar sobre a política da psicanálise considerando essa referência da dimensão do universal e da violência segregativa?
DAS SUPLENCIAS: DO SINTOMA AO SINTHOME¹
Marizilda Paulino
Membro da EBP/AMP
feito por nós – Partindo de verbetes do Scilicet dos Nomes do Pai, Marizilda realiza uma curiosa explanação acerca da formalização dos achados clínicos psicanalíticos. Cita que “No Seminário 23, O Sinthoma, Lacan inventa o termo pai-versão a partir do termo perversão” sinalizando que, “‘perversão não quer dizer versão ao pai’, – o pai é um sintoma ou sinthoma”. Destaca que “Lacan interpretou a escrita de Joyce como ‘sinthomática’, misto de sintoma e gozo, e propôs que o caso Joyce fosse considerado como resposta a uma maneira de fazer suplência a um desenlaçamento do nó”. Sublinha que “O Nome-do-pai aparece em Freud nas funções, nas leis que ele promulga” e que, no primeiro ensino de Lacan, “o Nome-do-Pai é a função que assegura a ligação entre o significante e o significado. É a ancoragem simbólica que permite ao sujeito o acesso à normalidade”, salientando que, “Para todo sujeito falante, o Nome-do-Pai é o significante que ordena o mundo e as questões da existência humana: as relações entre os sexos e as que dizem respeito à vida e à morte”. No que se refere ao sujeito psicótico destaca que, ao estudar o caso Schreber, Lacan apresenta o delírio enquanto metáfora delirante. “O delírio é pensado como uma metáfora que faz suplência àquela que não se instalou”. De modo que, o que Lacan propõe é “(…) uma clínica das suplências, sem o recurso no Nome-do-pai, onde se estuda como o sujeito pode manter juntos, Imaginário, Real e Simbólico”.
Perpétua, tendo em conta que Lacan considerou a escrita de Joyce como uma maneira de fazer suplência a um desenlaçamento do nó e que, no caso Schreber é a metáfora delirante que é postulada por ele como a forma de fazer suplência à metáfora paterna que não se instalou, o que distingue a suplência estabelecida no caso Joyce da suplência estabelecida no caso Schreber? Em termos de função, o que você poderia nos dizer sobre essas suplências que não contam com o Nome-do-Pai?
JACQUES LACAN: O SIMBÓLICO, O IMAGINÁRIO E O REAL
Maria Bernadette Soares de Sant´Ana Pitteri
Membro da EBP e da AMP
feito por nós – Bernadette faz uma breve e instigante leitura acerca da conferência Simbólico, Imaginário e Real que Lacan pronunciou pouco antes de escrever o Relatório de Roma. Assinala que “(…) O Real aparece jungido ao Simbólico e ao Imaginário, parte do ‘nó borromeano’, onde os três registros se sustentam mutuamente”. Mas, no final de seu texto, aponta que no Seminário R.S.I “(…) O Real aparece como o primeiro termo e [que] Lacan trabalha com ‘rodelas de barbantes’ para teorizá-lo, pois, por não ser simbolizável, seria estritamente impensável”.
Ariel, podemos observar que quando Lacan aborda o enlaçamento dos três registros ele privilegia um deles, num primeiro momento, e depois, inverte esse privilégio atribuindo-o a um outro registro. Como você explicaria essa virada articulada por Lacan no decorrer de seu ensino?
Homem dos Lobos – Um nome para Serguei
Carmen Silvia Cervelatti
Membro da EBP e da AMP
FEITO POR NÓS: Ao falar sobre o caso clínico freudiano “Homem dos Lobos”, Carmen aponta para duas possibilidades de suplência da foraclusão do Nome do Pai. A fobia de lobos apresentada por Serguei Pankejeff durante a infância e a assimilação, enquanto um nome próprio, do pseudônimo que Freud lhe deu ao publicar o caso. Isso nos leva a interrogar se os novos sintomas apresentados na clínica psicanalítica da atualidade também não seriam indicativos de tal suplência.
Eliane, sabendo que você desenvolveu uma pesquisa sobre a psicose ordinária, poderia comentar sobre a questão da suplência e mencionar as possíveis repercussões disso na direção do tratamento?