CARTAS AO ARIEL
Adriana Augusta (participante Núcleo)
Estar presente no grupo de estudos do NEPPSI, desde a “Criminologia da vida cotidiana” até a “Psicanálise em tempos de guerra”, era uma potente e revigorante inspiração para o estudo da psicanálise e para a compreensão dos principais acontecimentos do nosso tempo. As conexões amplas, ricas e politicamente engajadas do Professor Ariel Bogochvol alimentavam-nos com uma força motriz especial, indelével, que só grandes intelectuais são capazes de fazê-lo.
Que caráter genuíno, pensador inquieto, engajado e autêntico!
Em uma de suas últimas falas acerca do tema da guerra e vida cotidiana, Dr Ariel interrogou se vamos nos habituando a tudo. Definitivamente não. E este é o seu legado que nos impulsiona a seguir em frente.
Doravante, se prestar bem atenção e silenciar alguns minutos, aos sábados, quinzenalmente, poderei ouvir sua voz ecoando, enérgica e peculiar, sempre posicionada em defesa da ciência, da democracia e na compreensão do “demasiado” humano.
Alessandra Cunha Andrade Fabbri (associada CLIPP)
“Haverá um ano em que haverá um mês, em que haverá uma semana em que haverá uma hora em que haverá um minuto, em que haverá um segundo e dentro do segundo haverá o não tempo sagrado…” Clarice Lispector.
Na dia 30 de agosto de 2022, faleceu Ariel Bogochvol, médico psiquiatra e psicanalista, coordenador do Núcleo de Ensino e Pesquisa de Psicopatologia e Psicanálise (NEPPSI/CLIPP) e supervisor do centro de atendimento de Egressos e Familiares (CAEF). A CLIPP vem prestar uma última homenagem ao estimado amigo e colega de espírito sensível e atento que, tanto contribuiu com o pensamento Psicanalítico Lacaniano, quanto trouxe aos que o procuraram auxílio e esclarecimento frente ao sofrimento psíquico. Se na linha do tempo nos deparamos com a perda inexorável que repetidamente insiste a cada movimento do tempo, temos no registro da memória a marca que este grande psicanalista nos deixou e que não se apagará.
Carlos Ferraz Batista (associado CLIPP)
“A vida baseada na honra muda o sentido da morte e, portanto, da vida.” Foi com essa máxima que Ariel tocou meu ser. Desde então, comecei a prestar atenção ao que Ariel dizia. Sua erudição era patente. Entretanto, o que me chamava atenção e despertava-me admiração era sua força em defesa das ideias e da Psicanálise. Ariel, Valeu!
BOGOCHVOL, A. (2005). A honra e o sentido da vida. Disponível em: http://www.psicanaliseLacaniana.com/estudos/honra e0 sentido da vida ariel_bogochvol.html>.Acesso:12 mai. 2012.
Carmen Silvia Cervelatti (associada CLIPP)
Ariel foi um querido colega que esteve presente por muitos anos em inumeráveis atividades e situações de minha vida institucional na psicanálise. Privilegio duas, nas quais sua luta, seu entusiasmo e sua obstinação se fizeram notar. Para o VII Enapol trabalhamos juntos na produção de um texto sobre Bipolaridades, quando convidou alguns Núcleos de pesquisas da CLIPP para uma elaboração conjunta. Parecia que ele buscava incessantemente uma “perfeição” nunca alcançável na escrita de seu texto.
Ele foi Diretor de Intercâmbio e Cartéis quando fui Diretora geral da EBP-SP, presença marcante em momentos de parceria bem como naqueles em que sua inquietude política se traduzia em questionamentos. Uma presença marcante e inesquecível.
Cássia Maria Rumenos Guardado (membro EBP)
“Contingência… na tarde de segunda-feira, 29-08-2022, falei de Ariel para uma colega, lembrando sua excelência e domínio de teorias e autores da psiquiatria, e de sua transmissão clara e rigorosa do tema em nossas instituições, contribuindo de forma decisiva para meu percurso e minha formação. No fim da noite de 30-08-2022, recebi consternada e surpresa a notícia de seu falecimento precoce. Que tristeza, que pesar… quanta saudade já…”
Cláudio Ivan Bezerra (associado CLIPP)
O que fazer diante da iminência do real?
Tive uma trajetória curta ao lado Ariel Bogochvol, médico-psiquiatra, psicanalista, idealizador e trabalhador incansável do NEPPSI (Núcleo de Ensino e Pesquisa de Psicopatologia e Psicanálise), um núcleo instigante que passava a estudar os horrores da violência no cotidiano e na História.
E que teve seu surgimento diante de um dos capítulos mais perturbadores da história recente, a pandemia do coronavírus, atividade que veio se fixar como um encontro potencializado para se investigar um dos nomes do real.
Com vigor e muita determinação, Ariel me enviava nas madrugadas de sexta as referências de aula. Eram reportagens, discursos políticos, cenas de filmes, matemas e textos psicanalíticos ao qual sempre pedia para alguém ler; muitas vezes era eu, e ele corrigia metodicamente qualquer desvio na leitura.
Apesar do seu rigor epistêmico, estava sempre pronto a abrir para as perguntas e construía um saber in loco valorizando as trajetórias dos colegas mais adversas por diversas áreas do conhecimento, e os convidando a dividir o púlpito.
Certa vez, eu fascinado pela leitura do discurso de guerra de Vladmir Putin, passei a discutir conceitos da propaganda e passei a indagar sobre os efeitos da palavra numa sociedade. Foi quando entramos num tema complexo, a propaganda nazista, e eu citei uma declaração de estratégia de campanha de Hitler: “Quando alcançarmos o poder, cada mulher alemã terá um marido”.
Apesar de todo horror que envolve a questão nazista, eis num momento raro que surgiu uma risada chistosa nos lábios de um autêntico psicanalista lacaniano.
Fica a memória!
Daniela de Camargo Barros Affonso (associada CLIPP)
Ariel sabia que combater enfaticamente o fascismo que se avizinha em nosso país era defender a psicanálise do obscurantismo. Perder Ariel é perder um aliado da democracia e, portanto, da sobrevivência da psicanálise.
Uma perda inestimável.
Débora Cristina Garcia de Oliveira de Camargo (associada CLIPP)
Tive o privilégio de recentemente coordenar na Clipp uma aula do Ariel. A disponibilidade dele em transmitir a psicanálise e a psiquiatria me marcou!
Seu conhecimento e jeito enfático em participar das reuniões da Seção Clínica, traziam um tempero especial para as nossas discussões. Minha admiração e saudade deste colega tão especial!
Désirée Mauro (associada CLIPP)
Momento de concluir
Interessante a vida.
Sexta-feira a última imagem que tive ao sair da Seção Clínica da CLIPP foi a do Ariel. Quase como um poeta ou um flautista nos conduzia com suas explicações aprofundadas sobre a psicanálise.
Terça-feira a constatação de que essa experiência jamais se repetiria, nos entristeceu profundamente.
Só tenho a agradecer o privilégio de ter conhecido essa pessoa dedicada e sempre disponível em compartilhar saber ao seu grupo por todos esses anos.
Para a psicanálise fará falta
Para nós um buraco
Diana Mármora (participante Núcleo)
Vez por outra, o Universo, em uma explosão de estrelas, esculpe um novo ser que, enviado ao orbe terreno, sedimentará, dia a dia, todo o conhecimento adquirido em vivências extraordinárias, com rapidez inimaginável, transformando vidas, trazendo paz àqueles que buscarem nele o socorro para suas dores e deixará o mundo iluminado pela sua passagem, que se fará presença perene no espírito de todos que tiveram o privilégio de, com ele, conviver.
“O que, em última análise, acalma o medo da morte… é a lembrança e a gratidão.” (Arendt, Hannah)
Durval Mazzei Nogueira Filho (associado CLIPP)
A lembrança mais antiga que tenho do Ariel aconteceu no Pinel, hospital psiquiátrico em Pirituba. Durante os anos 80. Fui fazer uma fala à equipe do hospital sobre a psicanálise. Soltei a frase: o objeto da psicanálise é o inconsciente. Alguém na plateia retrucou: “não é melhor o objeto a”. Era o Ariel. Daí em diante, um amigo.
Eliane Chermann Kogut (associada CLIPP)
Em 2013, Carmen Cervelatti me convidou para fazer parte de um trabalho sobre Melancolia para o VI Enapol. Quem nos coordenava sobre o tema era o Ariel com o qual tive certo contato por alguns meses. Pessoa que além de seu vasto conhecimento e profissionalismo, foi de uma enorme generosidade. Vai deixar muitas saudades.
Eliane Costa Dias (associada CLIPP)
“Esse é um daqueles momentos em que nenhuma palavra cabe, nenhuma palavra é suficiente.
Ariel Bogochvol marcou nossa comunidade analítica com uma transmissão precisa e decidida. Que saibamos fazer com o que ele nos ensinou. Saudade!”
Elisabeth Almeida (participante Núcleo)
Nós estávamos lá. No horário marcado, 11h, no local indicado, Cemitério Israelita do Butantã. Mas você, claro, nos deixou esperando, você estava atrasado. Como sempre esteve. E ao demorar, você, generosamente nos deu um tempo para que nós nos olhássemos, nós, com nossos olhos cheios de susto. Um tempo para nos encontrarmos com outros, com os quais compartilhamos, de diferentes maneiras, da sua presença. Um tempo para falarmos de você, recortando histórias, aos poucos, bem devagarinho, nos dando conta de que você não viria mais como antes.
E, nos fragmentos das lembranças, recordando seu vigor, sua entrega incansável ao trabalho, sua curiosidade apaixonada, seu rigor teórico, nós, que ali o esperávamos, íamos reencontrando-o de uma maneira nova. E bonita.
Muito duro lidar com sua falta. Uma dureza que dá a dimensão do quão marcante foi sua presença.
Acompanhando você nos últimos quase três anos, no seminário “Criminologia da vida cotidiana”, e nele, seu intenso e imenso trabalho de leitura da violência e das manifestações e incidências da pulsão de morte na contemporaneidade, seus impasses, e leituras a partir de Freud e de Lacan, você não hesitou frente a nada. Passou e comentou os crimes extraordinários trabalhados por Lacan, deles você deslizou para os crimes ordinários, as violências cotidianas. Da Covid à política, das guerras no macro às guerras internas, você se debruçou e articulou com as lentes da psicanálise.
Corajosamente se entregando, contando de suas raízes, marcas inscritas na história de vida pessoal, suas lutas políticas, suas inserções históricas.
Retomando sempre o texto freudiano “O mal-estar na civilização”, buscou ler o mal estar contemporâneo.
Seu interesse pela “apoptose” – a morte celular programada -, sua parceria com Poliana Martins – colega geneticista – participante do NEPPSI, para desenvolver este tema, levando-nos a refletir sobre a morte que nos habita – ou não- no nível celular. Sua última aula, sábado passado, aula centrada na pulsão de morte, aula intensa, nos convidando a prosseguir a partir “Da agressividade à pulsão de morte”, de E. Guillot, onde nos encontraríamos com a pulsão de morte retomada em Lacan. Estes foram os últimos momentos de sua transmissão.
Nós, por obscuras razões contingenciais, continuamos aqui. Nunca mais seremos os mesmos. Transformados pelo bom encontro com você, seguimos agradecidos, cheios de saudades, porém marcados pelo seu desejo transbordante, pela sua generosa transmissão.
É o que consigo te dizer hoje, tão tocada pelo abrupto da sua partida, enviar esta carta, que sim, claro, só poderia ser uma carta de amor.
João Paulo Desconci (associado CLIPP)
“Presente, por estilo.
Sempre pensante. Demasiado pensante.
E não menos generoso em sua transmissão.
À família, as lembranças de seu amor.
Aos amigos, a mais doce saudade e respeito ao seu legado.”
Juliana Gayoso Franco de Toledo (associada CLIPP)
Nosso caro Dr. Ariel que nos deixou, sempre ofereceu generosamente um saber particular e articulado ao novo, com rigor e energia viva nas palavras.
Foi um privilégio escutá-lo ao longo dos anos, mas principalmente nesses últimos tempos, porque mais próximo ele estava, que sorte!
Um presente que será pra sempre.
Kátia Ribeiro Nadeau (associada CLIPP)
Ariel transitava com sua presença marcante e polêmica, entre o sorriso elegante e gentil e a vociferação de suas ideias nas articulações entre a psiquiatria e a psicanálise.
Exigente, rigoroso, levou sua voz, seus textos e seu corpo até as últimas consequências à psicanálise de orientação Lacaniana.
Ao trabalho desenvolvido com os colegas da CLIPP, agradecemos e levaremos seus efeitos!
Leny Magalhães Mrech (associada CLIPP)
Se perde no tempo quando tive o primeiro contato com o Ariel. No IPP a sua presença constante, suas discussões acaloradas, o impacto de um pensamento vivo atrelado a uma maneira de ser.
A sua entrada na CLIPP foi de extrema importância. Discutir a criminologia.
Fazer uma análise constante do momento atual. A Psicanálise apresentada de uma forma viva. Cada aula um novo aprendizado. Cada conceito um novo uso.
Olhar a Psicanálise de vários ângulos.
Na Seção Clínica sua busca por precisão. Psiquiatria e Psicanálise eram braços de um pensamento investigativo. O real sendo analisado de múltiplas formas.
Agora ficou o furo. Ficou a marca. Ficou um legado.
Luiz Fernando Carrijo da Cunha (membro EBP)
Morro velho*, uma canção para Ariel
Conheci Ariel no início dos anos 90, sisudo, mas de uma inteligência notável.
Começávamos, ambos, uma trajetória na psicanálise lacaniana. Médico psiquiatra de formação, jamais abdicou do que aprendera antes do devir da psicanálise; rigoroso quanto ao saber, tornou-se referência da psiquiatria entre nós. Não chegamos a ser grandes amigos, mas o respeito de ambas as partes possibilitou parcerias de trabalho ao longo destes anos.
Quero homenageá-lo com uma dessas parcerias, aliás, com um momento que derivou de uma delas: estávamos num grupo grande em sua casa, as vozes e o violão eram o pano de fundo desse encontro. A exaustão do trabalho nos levou a lembranças do cancioneiro. Cantávamos… e entre o burburinho dos que não cantam, Ariel começou a esboçar o arranjo de uma canção muito especial: “Morro velho”, de Milton Nascimento. Reconheci o arranjo e comecei a cantar; ele sabia todo o arranjo e eu a letra, pouco conhecida entre os convivas. O silêncio dominou a sala para nos ouvir… compartilhamos ali do mesmo prazer de reproduzir uma música pela qual ambos eram fascinados… Hoje ouvi “Morro velho”, a voz era do Milton, mas o violão que ressoava em mim, era o Seu, Ariel. Muito obrigado por aquele momento.
“Parte, tem os olhos tristes, deixando o companheiro na estação distante…” (trecho da canção “Morro velho”, de Milton Nascimento).
Luiz Fontes Teixeira (participante de núcleo)
Ariel Bogochvol — In memorian
Em meio ao corpo de formação do instituto de psicanálise, um analista se destacava por sua postura singular. Chegava para ministrar suas aulas como se viesse de um dia ocupadíssimo de trabalho e as encerrava como se tivesse outros mil afazeres logo em seguida. No consultório, a rotina não parecia ser diferente. Caso preciso fosse, ficava até altas horas da noite atendendo seus pacientes. Nunca se recusava a escutar.
Ariel Bogochvol era médico psiquiatra e psicanalista. Obteve a graduação em Medicina na Universidade de São Paulo, onde também realizou a residência em Psiquiatria. Concomitantemente, atravessou seu caminho pela psicanálise, tornando-se um dos mais respeitados analistas do Campo Freudiano.
Leitor voraz dos clássicos, dominava a literatura psicopatológica com destreza ímpar. Entusiasta das ciências sociais e das humanidades, interessava-se por uma incomensurável miríade de temas. Ademais, passava a impressão de transmitir suas ideias mais ou menos como lia e pensava: com associações eruditas, todavia ousadas; com ponderação e equilíbrio, mas sem jamais demonstrar qualquer receio de se posicionar e avançar.
Clínico afiado, Ariel Bogochvol se empolgava e se engajava diante dos casos mais complexos — daqueles que causam hesitação até nos profissionais mais experientes. Escritor acurado e detalhista, dedicava-se aos seus textos com o máximo de compromisso. Dizia nunca se dar por satisfeito com seus escritos (característica dos autores que prezam pelo rigor). Revisava-os incansavelmente. Era mesmo capaz de revisitar um texto dezenas de vezes se julgasse necessário — exceto por um único texto. Certa vez, contou que, quando do nascimento de sua filha caçula, seu entusiasmo foi tamanho que, em apenas uma noite, escreveu, de uma só vez, páginas e mais páginas. “Não tem como não dizer que é um milagre”, dizia ele sobre o nascimento da filha. Mais do que escritor, psicanalista e médico psiquiatra, Ariel Bogochvol era, sobretudo, um entusiasta da vida.
Ariel Bogochvol faleceu na terça-feira, 30 de agosto de 2022. Os psicanalistas que tiveram a oportunidade de o conhecer levarão, certamente, um exemplo do que quer dizer psicanalisar. Amigos e familiares guardarão, sem dúvidas, um exemplo do que quer dizer viver.
Márcia Aparecida Barbeito (associada CLIPP)
Lembrar de Ariel Bogochvol é recordar do seu entusiasmo sobre a psicanálise de orientação lacaniana e suas articulações com a psiquiatria e até mesmo com a teoria marxista.
A sua inspiração aliada ao estudo dedicado nos fará muita falta.
Sou grata por ter podido aprender, participar e escutar os seus ensinamentos.
Maria Cecilia Branco de Souza Leite (associada CLIPP)
Silêncio. No início era o silêncio.
Na morte, nada para além do silêncio. Entre o início e o fim, palavras e gestos invadem e atravessam o tempo.
E no caos da falta de palavras frente ao real da morte, o silêncio – como nos disse Lacan, “toma todo o seu valor para além das palavras. Certos momentos de silêncio… representam a apreensão mais aguda da presença do outro como tal”
Dr Ariel Bogochvol deixa o eco de sua voz em todos aqueles que, de formas e em momentos diferentes, puderam conviver com ele.
Maria Cecília Galletti Ferretti (membro EBP)
Com o falecimento de nosso querido colega Ariel Bogochvol perdemos um companheiro de longa data!
Desde a década de 1980, na Biblioteca Freudiana Brasileira, com a coordenação de Jorge Forbes, tínhamos entre nós uma grande transferência de trabalho endereçada à psicanálise e que se encarnava em nossas relações.
Éramos pares que buscavam difundir a psicanálise e que estabeleceram laços de amizade. Ariel nos propiciou uma proximidade com a psiquiatria ao estabelecer a possibilidade de estágios no Hospital Mandaqui, juntamente com os estudos que permeiam tal especialidade.
Não poderíamos ter imaginado que ali estava a semente do que viria no futuro: a Escola Brasileira de Psicanálise.
Deixo aqui meus sentimentos por esta perda.
Maria do Carmo Dias Batista (membro EBP)
A árvore Ariel carregou, desajeitado, cigarro na boca, a muda plantada em vaso grande pra dentro da minha casa.
Feliz, o olhar afetuoso como sempre, acompanhado da mulher grávida e de duas filhas.
Uma árvore de presente! Uma vida de presente!
Faz vinte e cinco anos isso. A árvore, larga, irregular, um pouco torta, muito vivaz, se parece com ele.
Marizilda Paulino (associada CLIPP)
Ao descer do avião no aeroporto Santos Dumont no ano de 2000, minha atenção foi despertada por um casal que zelosamente cuidava de duas crianças pequenas. A mãe aconchegando as crianças e o pai protegendo os três da ventania e das pessoas que apressadamente desciam as escadas do avião. Mais tarde, já no Encontro da EBP, conheci o casal: Ariel e Maria Helena.
Anos mais tarde, em 2005, fiz parte da Diretoria da EBP-SP, como Diretora de Biblioteca, e Ariel, o Diretor Geral. Sua presença, sempre interessada e dinâmica, conduziu a Diretoria em um ano particularmente difícil para a EBP-SP. Solidificamos um laço, e depois disso, embora um pouco mais distanciados, sempre o admirei por sua dedicação e trabalho decidido para a psicanálise de orientação lacaniana.
Perdemos um amigo, e a orientação lacaniana acaba de perder um trabalhador decidido e perspicaz.
Já faz falta!
Paulo Grande (participante Núcleo)
Sinto muito pela perda do Professor Ariel. Infelizmente assisti apenas uma aula dele. Foi uma grande oportunidade de contato com profundo saber.
Perpétua Medrado Gonçalves (associada CLIPP)
A triste notícia do falecimento de nosso colega Ariel Bogochvol chegou em um momento que estava iniciando uma atividade com algumas colegas da CLIPP.
Alguns flashes então vieram a cabeça.
Sua presença foi fundamental na EBP, na EBP Seção SP, na CLIPP; sua clareza e a vivacidade do pensamento em muitos momentos foi uma boa orientação para o trabalho.
A psicanálise, a EBP, a CLIPP perdem; perde um leitor rigoroso que sabia sustentar suas ideias que estavam ali para serem ditas.
Aqui, neste pequeno texto, quero prestar uma homenagem a alguém, que muito nos ensinou com sua palavra, com a sua presença. Já sentimos sua falta…
Poliana Martins (participante da Seção Clínica e aluna CLIPP)
Minhas condolências ao Dr. Ariel, pela oportunidade dos momentos alegres vividos! No dia 30 de agosto me despedi do psicanalista, professor e amigo Dr. Ariel Bogochvol. Como meu psicanalista me encorajou aos caminhos do meu inconsciente, com a palavra que lavra feito ouro ou escalavra como diamante em vidro. Como meu professor retomava, por vezes, as teorias lacanianas em rabiscos ilegíveis. E seu fascínio pela biologia tornou nossas conversas teóricas longas. Despeço-me dele guardando na memória, em tinta desbotada, nossas conversas teóricas, tendo sido os momentos mais divertidos que produziram as mais primorosas reflexões e nos permitiram muitas risadas.
As anotações de Freud!
Eu – Sobre Mendel: Dr. Ariel é necessário compreender os experimentos realizados, levou dez anos.
Ele – Por favor, me explique todo o experimento.
Eu – Expliquei minuciosamente três vezes, e acrescentei: o senhor deveria anotar como Freud fazia.
Ele – Freud não anotava sobre cores de ervilhas, que absurdo é este!
(Irritado)
Eu – Ah… Freud anotava tudo! O senhor deveria anotar as cores das ervilhas. (Rindo baixo)
Ele – Ascendeu um cigarro e me olhando fixamente, repetiu o experimento de Mendel com perfeição.
Eu – Acertou, mas não disse as cores das ervilhas, o Freud teria anotado!
(Rindo alto)
Ele – Você acredita mesmo que Freud iria anotar cores de ervilhas! (Rindo alto)
Ele – Até a próxima análise e me levando até a porta disse as cores da ervilha. (Riamos alto)
Renato Costa Mendes (aluno CLIPP)
“Nos meus primeiros contatos no estudo da psicanálise, o entusiasmo que me tomou após as primeiras aulas com o Professor Ariel Bogochvol no NEPPSI, sempre conjugando brilhantismo crítico com valores humanos, foi fundamental para compreender que essa jornada árdua será absolutamente recompensadora. O Professor nos deixa saudades, mas também o legado e a tarefa de defender esses mesmos valores em nosso percurso, sem os quais a técnica, em si mesma, não teria o condão de atuar na realidade como deve ser: de forma social, democrática, humanitária e, especialmente, crítica.”
Rodrigo Camargo (associado CLIPP)
Conheci muito pouco o Ariel. Tivemos juntos numa mesa em algum congresso, participamos de reuniões clínicas, conversamos uma vez ou outra. No entanto, sempre soube de seu comprometimento com a psicanálise de orientação lacaniana. Ele fez parte de uma geração de psicanalistas fundamental na constituição da Escola Brasileira de Psicanálise. Fará muita falta no debate que articula psiquiatria e psicanálise.
Rômulo Ferreira da Silva (membro EBP)
Meu encontro com Ariel se deu em 1988 na Biblioteca Freudiana Brasileira, antes mesmo de encontrá-lo no IPQ- HCFMUSP. Seu interesse pelo tema das psicoses e conhecimento da psiquiatria clássica, foi o que determinou nossa aproximação.
Dotado de um humor particular, Ariel expunha suas inquietações na diferença de abordagem da psicose na psiquiatria e na psicanálise. Tenaz, ele deixa saudade!
Rosangela Carboni Castro Turim (associada CLIPP)
Últimos encontros
A perda repentina nos faz acessar lembranças recentes : sua participação ativa e convicta na seção clínica compartilhando seu conhecimento em Psicopatologia geral e lacaniana. E a última aula no sábado no NEPPSI sobre pulsão de morte e agressividade em Freud e Lacan, trabalhando o tema Criminalidade na vida cotidiana. Muito inteligente, antenado com as últimas notícias, generoso ao compartilhar seu conhecimento com a articulação psicanalítica. Um mestre. Muito vivo até o fim, se despedindo de cada reunião com a promessa dos próximos encontros. Partiu sem se despedir, nos deixando perplexos. Presença marcante, teimosia inteligente, vai fazer falta à comunidade CLIPP.
Sandra Grostein (associada CLIPP)
Que falta me faz o Samsung!
“Naquela tela está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim”
Conheci Ariel no Curso Fundamental de Freud a Lacan da Biblioteca Freudiana Brasileira, nos anos 80.
Eu professora, ele aluno, nos reencontramos inúmeras vezes trocando de Lugares: ele me ensinando com sua inquietação, o valor inabalável do amor aos conceitos.
Obrigada Ariel por todos os encontros e desencontros que vivemos juntos.
Saudades
Sheila Gama (participante Núcleo)
Gostaria de expressar minha gratidão ao Dr. Ariel Bogochvol, grande médico, psicanalista e professor que nos deixou recentemente de forma inesperada.
Dotado de uma mente questionadora e investigativa, ele foi brilhante em tudo que se propôs a fazer, especialmente na luta incansável em defesa do conhecimento, da ciência, da saúde e dignidade humana. Muito obrigada, Dr. Ariel!
Vera Lucia Dias (associada CLIPP)
É uma tristeza! A perda de Ariel certamente deixará uma falta enorme na comunidade psicanalítica. Eu me sinto muito honrada por ter tido a oportunidade de receber dele, em diversos momentos, uma generosa transmissão da psicanálise.
Muita gratidão mesmo!
Yára Wandick Valione (associada CLIPP)
Da hora que soube da sua partida até o presente, venho revivendo as lembranças iniciadas em 1994 no IPP e EBP. Lembranças de você participando ativamente das atividades dessa época, assim como de outros momentos no Hospital do Mandaqui. Aqui eu como estagiária do curso de psicologia. Lá como iniciante de psicanálise lacaniana.
De lá para cá, sempre dinâmico e ativo, com explicações minuciosas e precisas tanto da psiquiatria como da psicanálise. Um exemplo para todos que o viam e ouviam.
Sua partida deixará uma grande tristeza e um grande vazio.
Mas a sua performance inigualável e inconfundível ficará como marca de alguém que sabia o que falava, sabia ouvir e assim levava consigo uma legião de seguidores.