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A QUESTÃO DOS POVOS ORIGINÁRIOS E A PSICANÁLISE

 

                  Rochelle Feinstein

Leny Magalhães Mrech (CLIPP/ EBP/AMP)

Há uma dificuldade inicial em se abordar esse tema, pois existem diversos elementos em jogo. Além das descobertas de Freud, pode-se dizer que houve uma influência bastante grande das Ciências Sociais em Jacques Lacan. Marcos Zafiropoulos (2002) aponta a importância de Émile Durkheim, Marcel Mauss e, sem dúvida, Lévi-Strauss e assinala ainda que é pelo paradigma científico das ciências sociais que Lacan se pautará, influenciando o seu “retorno a Freud”. (Zafiropoulos, Marcos – 2002, p. 11)*.

Através de Lévi-Strauss, Lacan se apoiou para estabelecer alguns dos seus conceitos mais importantes como o do mito individual do neurótico, o de matema extraído do mitema, o da imago paterna, do declínio da imago paterna, etc.

Para Lacan, a escuta das contribuições trazidas pelos antropólogos, delineou outro universo de trabalho do que aquele trazido pelos médicos: a descoberta do Outro nos “povos primitivos”, Outro a ser escutado em sua singularidade e diversidade.

Passados mais de oitenta anos, no Brasil, essa escuta do Outro dos atualmente chamados povos originários, ocupa lugar estratégico. Um lugar político. Nos últimos anos do governo Bolsonaro houve um quase holocausto dos Yanomanis, revelando a face mais cruel e perversa de uma cultura pautada na necropolitica e biopolítica.

Emergiu um ódio ao lugar do Outro da diferença, a ser extirpado ou adaptado aos parâmetros da sociedade contemporânea. Os Yanomamis, como outros povos originários, sofreram especialmente esse processo. Não lhes foi dado o direito à singularidade, recusando-lhes os itens mais simples para a sobrevivência: comida, remédios e até água. Isto porque o garimpo ilegal contaminou os seus rios, com a conivência do governo anterior.

A Psicanálise de Orientação freudiana e lacaniana ocupa um lugar estratégico, não compactua com políticas autoritárias, homofóbicas e racistas, pois a preservação da singularidade dos falasseres é fundamental.

Referência bibliográfica:

*Zafiropoulos, Markos. Lacan e las ciências sociales, La declinación del padre (1938-1953). Buenos Aires: Nueva Visión, 2002.