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DELÍRIO COMO GÊNESE E RESPOSTA AO REAL

 

(recorte) Vendedor de gado, Marc Chagall @masp

Carlos Ferraz Batista (CLIPP)

“Assim como todo discurso, um delírio deve ser julgado em primeiro lugar como um campo de significação que organizou um certo significante, de modo que as primeiras regras de um bom interrogatório, e de uma boa investigação das psicoses, poderiam ser a de deixar falar o maior tempo possível. (Lacan, J. O Seminário – Livro III As Psicoses. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, p. 141)

O comentário a seguir, tem como base, a citação de Lacan: . “Assim como todo discurso, um delírio deve ser julgado em primeiro lugar como um campo de significação que organizou um certo significante, de modo que as primeiras regras de um bom interrogatório, e de uma boa investigação das psicoses, poderiam ser a de deixar falar o maior tempo possível”. Partimos da seguinte questão: O que o delírio nos ensina? Se inicialmente, com Freud, o delírio é entendido como uma tentativa de cura. Com Lacan, aprendemos que toda atribuição de sentido é delirante. Vale precisar que, respeitando as devidas proporções, tanto nas neuroses como nas psicoses, o sujeito é referenciado por um S1. Por meio do significante mestre é possível obter uma referência no discurso, podendo constituir-se em uma fantasia ou um delírio. Nas psicoses, o delírio poderá advir por meio das percepções ou interpretações. Nos casos de paranóia, há um discurso sistematizado. O delírio é caracterizado pela invasão do Outro. Na esquizofrenia, ocorre uma pluralização significante. Assim, nas psicoses não há a verificação do Édipo, devido à impossibilidade de identificação com o Outro e escolha de objeto. Nos tempos que correm, o real possui prevalência, nas relações e constituições subjetivas. Servindo-me do adágio lacaniano: “Todo mundo é louco” (MILLER), o campo de significação é constituído pelo imaginário, com prevalência do real. O delírio é uma resposta ao real e tem a função de suprir a ausência do Nome do Pai. Retomando a contemporaneidade, a via do inventivo se abre, sob a perspectiva de prescindir Nome do Pai, com a condição de servir-se dele. Sobre a conduta de deixar o paciente falar o maior tempo possível, posteriormente, Lacan apresenta o conceito de Secretário do alienado, que tem a função de auxiliar o sujeito, na construção do discurso e arborização do delírio. Destarte: o delírio possui várias funções, tanto na clínica como na leitura da cultura, em que há prevalência da defesa do real, sob a égide de todo mundo delira!

Referências:

 

LACAN, J. O Seminário: Livro III As Psicoses. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1985, p. 141

 

MILLER, J-A. Todo el mundo es loco. Buenos Aires: Paidós, 2020.