EDITORIAL #16
M. Bernadette S. de S. Pitteri (EBP/AMP/ CLIPP)
HADES chega a seu 16º número num momento de recrudescimento da Pandemia de COVID, com novas cepas ameaçadoras – o vírus se defende. E os humanos? Eles parecem buscar se defender, como afirma Lacan, dos efeitos da cicatriz, consequência da evaporação do Nome do Pai. E se defendem juntando-se em grupos, buscando nomeação, ignorando e eliminando as diferenças, o que redunda logicamente em segregação – aquele que não carrega o meu nome é ignorado, desconsiderado e até eliminado. Haveria outra forma ou formas de se enfrentar o horror da cicatriz escancarada?
Nietzsche já havia alertado para as consequências da queda da metáfora paterna, que ele chamou de “A morte de Deus” (Gaia Ciência, aforismo 125), do horror e da perda dos referenciais acarretados por tal morte.
Nosso Boletim privilegia, neste número, a questão da segregação, desde o conceito em Jacques Lacan trazido por Leny Mrech em seu texto e no Podcast no qual ela e Cláudio Ivan conversam, passando por Eliane Costa Dias, que reflete sobre o Corpo Trans, pela segregação que é a “Cracolândia” e que leva Durval Mazzei a refletir sobre as políticas públicas envolvidas, a segregação racial trazida por Melissa Ágda da Silva, num resumo de sua belíssima monografia, até as questões segregativas que ocorrem em tempos de guerra, interna e externa, como analisa com finura Ariel Bogochvol.
HADES é o guardião dos Infernos na Mitologia Grega, o guardião das almas dos mortos para que as mesmas não voltem ao mundo dos vivos para perturbá-los. Precisamos invocar o HADES para que mantenha inexpugnáveis seus portões de onde estão escapando os piores males que assombram a humanidade?