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Editorial Hades #22

HADES#22 – EDIÇÃO ESPECIAL – JORNADAS

 

Sandra Arruda Grostein (AME-EBP/AMP)

No dia 4 de março de 2023 ocorreu a Jornada de Cartéis da EBP, atividade que não acontecia há muitos anos. Foram 130 trabalhos apresentados e discutidos em 30 mesas simultâneas e duas plenárias.

Dentre estes textos destacamos oito que são de responsabilidade dos associados da CLIPP, para publicá-los neste número de Hades.

Três deles tratam do conceito de difícil compreensão da histeria rígida, apresentado por Lacan no Seminário XXIII, Cristina Merlin parte de um caso discutido por Lacan no Seminário III para diferenciá-lo do caso Dora tal qual apresentado por Freud. Ela marca a importância desta discussão visando levar a histeria além do discurso histérico. Perpétua Medrado destaca a importância da perspectiva da histeria desde um enodamento ao corpo, bem como estabelecer que a rígida da histeria estaria ligada à cadeia borromeana como sendo ela mesma rígida. Já Katia Nadeau propõe a leitura dos Estudos sobre a Histeria pelo avesso, recolocando o sintoma como algo do indizível e, portanto, o nó da histeria rígida se sustentaria sem o Nome do Pai e sem o Sintoma, ao se apoiar na repetição do UM como letra de gozo.

As três colegas se baseiam na peça de teatro de Hélène Cixous, comentada por Lacan para, de um lado diferenciar a Dora de Cixous da Dora de Freud, e aproximá-la do conceito de histeria rígida. Vale conferir como cada uma seguiu uma trama diferente para repensar a histeria orientada pelo real.

A ineficácia simbólica é o título do trabalho de Rodrigo Camargo onde ele busca questionar a atualidade da referência lacaniana aos estudos de Lévi-Strauss sobre a eficácia simbólica. Ao estabelecer uma comparação entre o Xamã e o psicanalista, Lévi-Strauss aproxima a experiência analítica a uma experiência mítica vivida por aqueles que se submetem às curas xamânicas. Para não dar spoiler deixo para o leitor a curiosidade sobre o caminho tomado por Rodrigo para chegar até a ineficácia do simbólico.

Para Débora Garcia a questão a ser trabalhada no cartel diz respeito ao destino da transferência que tem seu início na experiência de cada analista praticante, ou seja, em sua própria análise, para poder sustentar tanto o lugar de analista quanto a transferência de trabalho necessária para a sustentação da instituição analítica.

Como só poderia ser há uma grande diversidade de temas apresentados nesta Jornada, uma vez que ela buscava representar a variedade de interesses dos cartelizantes, Sonia Perazzolo foi buscar nas estatísticas, questões muito interessantes sobre a famigerada identidade de gêneros. Sua questão para o cartel visa uma pesquisa sobre o ódio à diversidade de gênero no laço social, e suas consequências para a psicanálise.

Para finalizar vamos falar do novo imaginário, dois textos se dedicam a este tema: o de Cláudio Ivan Bezerra e de Bernadette Pitteri, ambos buscam atualizar o registro do imaginário na clínica hoje. Cláudio se apoia num caso de cuidados paliativos para articular o imaginário e o corpo em momentos de muita urgência.

Já Bernadette se interessa em aprofundar teoricamente fazendo a distinção entre a consistência do imaginário, o furo no simbólico e a ex-sistencia do real e retoma a partir do Seminário XXIII de Lacan, a função do ego em Joyce, para privilegiar a operação de amarração e fazer a função do Nome do Pai. Localiza então algo que está presente em quase todos os trabalhos, isto é, a dificuldade em tratar o gozo, já que se goza onde não há fala, onde não há possibilidade de sentido. Problematizando, portanto, a intervenção possível do analista, fora do sentido.