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FURO NO SIMBÓLICO

Valdirei Dias Nunes @masp

Eliane Costa Dias (CLIPP/ EBP/ AMP)

 

“Mas, como pode o Nome-do-Pai ser chamado pelo sujeito no único lugar de onde poderia ter-lhe advindo e onde nunca esteve? Através de nada mais nada menos que um pai real, não forçosamente, em absoluto, o pai do sujeito, mas Um-pai”. (Lacan, J. De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose. In: Escritos, p. 584. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 1998).

 

No texto De uma questão preliminar…1, na vigência de seu primeiro ensino, retomando o caso Schreber como paradigmático do funcionamento psíquico em jogo na psicose, Lacan reafirma sua tese sobre a estrutura da psicose: a não incidência do NP (P0), o fracasso da operação da Metáfora Paterna, deixaria o sujeito sem a referência ordenadora da significação fálica (Φ0) implicando um desarranjo tanto no Simbólico como no Imaginário, o que resultaria nos fenômenos psicóticos. O referente desse déficit simbólico da psicose seria o momento do desencadeamento.

Ou seja, numa abordagem da psicose a partir da lógica da metáfora subjetiva, o desencadeamento corresponde a esse ponto em que, algo da ordem da contingência (uma perda significativa, uma mudança de posição simbólica, o encontro com o Outro sexo) confronta o sujeito com o real da falta, com o real do sexual, com o real do sem sentido. Nesse momento em que o sujeito necessitaria de um significante ordenador que lhe permitisse produzir significação, o que se evidencia é o furo situado no campo do Simbólico.

Verwerfung será tida por nós, portanto, como foraclusão do significante. No ponto em que, veremos de que maneira, é chamado o Nome-do-Pai, pode pois responder no Outro um puro e simples furo, o qual, pela carência do efeito metafórico, provocará um furo correspondente no lugar da significação fálica.2

Na ausência do elemento simbólico que permitiria a metaforização, no momento do desencadeamento o sujeito é tomado por um gozo intrusivo – gozo Outro – e confrontado com a impossibilidade de encontrar para ele um modo de subjetivação. Um encontro fortuito com o real que o deixa frente a Um-pai no real, como um Outro gozador, frente ao qual só se pode ser arrastado à posição de objeto.

Como efeito desse furo no Simbólico, diante da irrupção desse gozo, o sujeito experimenta o vazio como tal: um abismo no campo do Simbólico, que se manifesta pela desarticulação de todo o aparelhamento significante do gozo – o que não pode ser inserido na cadeia simbólica emerge como significante no real; e um abismo no campo do Imaginário, resultante da elisão da significação fálica, que se manifesta pela cascata de desmoronamento do campo do imaginário e do campo da realidade.

1 Lacan, J. De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose. De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose. Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998, p.
2 Lacan, J. Ibid., p. 564.