Editorial Boletim Traços #07
Por Niraldo de Oliveira Santos
(EBP/AMP)
Imagem: Instagram @cleanbluesea
“Alguns sendo singulares, se ajuntam, e podem ser colocados em série porque são, cada um, o que eles são”. Começo este editorial com esta frase de Guilherme de Ockham, filósofo e teólogo inglês, pois acredito que com ela é possível mostrar que o trabalho de organização das IX Jornadas da EBP-SP: “Solidão” tornou-se possível em função desse ajuntamento de desejos em torno do tema e da causa analítica, condições estas que nos permitiram trabalhar em equipes, sem deixarmos de lado o traço de cada um.
É com imensa satisfação que lançamos o ultimíssimo Boletim “Traços”, a poucos dias das nossas tão aguardadas Jornadas. Neste número, os três textos que compõem a coluna “Uns traços” nos ajudam a montar esta sulcagem ímpar que a produção epistêmica em torno do tema da solidão tem favorecido. Eliane Dias, ao abordar a solidão do falasser, questiona em seu texto “qual o fazer da psicanálise com a solidão”, pergunta extremamente oportuna por implicar a ação do psicanalista, e propícia para avançamos para o momento de concluir em torno do tema. Teresinha Prado, ao abordar a solidão ‘na ponta da língua’ a partir de Pascal Quignard, trabalha a possiblidade de a literatura buscar, “com esse momento em que a palavra, ainda sem sentido, fisgara o corpo”, o ponto de incidência do acontecimento de corpo, aquilo que aponta para a solidão fundamental do ser humano. Maria Bernadette Pitteri nos brinda com um encontro entre Platão e Lacan em torno da verdade na solidão, e faz uma clara distinção: “ao indivíduo será permitido alcançar a verdade na solidão, mas não no isolamento, ele deve continuar inserido na pólis”, e conclui que, em Lacan, vemos claramente a insuficiência da linguagem para dar conta da verdade, sempre não-toda. Bernadette nos lança a pergunta: seria louco aquele que vislumbra a verdade?
A partir destes sulcos, destes traços, os textos publicados nesse Boletim compõem uma paisagem digna de ser lida, vista, fotografada. Não se trata da planície da Sibéria, como aquela exposta em nosso cartaz, mas um cenário marcado por ravinamentos e rico de matéria preciosa, significantes destacados pelos aluviões da transferência de trabalho.
Neste número você também encontra: a programação completa das IX Jornadas, as dicas de lançamentos de livros que estarão à venda na Livraria das Jornadas, recomendações de restaurantes e serviços próximos ao local do evento e sugestões culturais e gastronômicas acontecendo em Sampa.
Boa leitura e até as Jornadas!