Carlos Ferraz Batista (CLIPP)
O poema No meio do caminho permite um enlace da arte com a psicanálise. O adágio lacaniano de que a verdade tem estrutura de ficção possui pertinência, pois desvela o sujeito e abre a via do indizível, cuja singeleza se constitui em uma caixa de ressonâncias. Muito mais que a lógica do sintoma, o poema descreve as dificuldades da vida do sujeito, das mais simples às mais complexas. Drummond (1930) escreve: “Tinha uma pedra no meio do caminho”. Sexualidade e morte são questões fundamentais, e o traumatismo faz marca, cifra, deflagrando contingências inomináveis. “Nunca me esquecerei deste acontecimento” (DRUMMOND, 1930). Deste modo, o poeta dá corpo ao não-sentido, e favorece ao falasser inventar um artifício para que possa fazer uma suplência daquilo que não há.
Referência:
DRUMMOND; C.A. (1930) No meio do caminho. Disponível em:http://www.algumapoesia.com.br/drummond/drummond04.htm. Acesso em 27/02/2021.