Bernadette S. de S. Pitteri
HADES, o imortal deus dos infernos, de acordo com uma tradição, traz em seu nome uma composição do alfa privativo e idein (ver), o que evoca uma ideia de mistério, de invisível. Mas chegando a seu sexto número, ainda em plena pandemia do coronavírus que, neste momento, está chegando a ceifar quinhentas mil almas brasileiras, o HADES se mostra através de seus associados e convidados, que persistem e se recusam a ceder aos tempos inglórios que atravessamos.
Marcela Antelo, nossa amiga e colega da Bahia, ao abrir a atividade do semestre do curso da CLIPP, brindou-nos com uma palestra densa e criativa que, transformada em texto, foi nomeada como “Psicanálise e Contemporaneidade: Homem dos Lobos, Imortal”. Marcela nos falou a partir de três significantes: infamiliar, inclassificável e indizível, três fios tecidos ao redor do caso do “Homem dos Lobos”, cujo título “também inclui o diferencial negativo em relação à morte, imortal: não-todo é mortal”.
Alfredo Zenoni, nosso colega da Bélgica, autor de L’autre Pratique Clinique: Psychanalyse et Institution Therapeutique, no artigo “Destinos da anatomia”, traduzido por Paula Caio, esclarece que, a passagem pelas redes significantes, “afasta o ser falante de toda a determinação biológica do comportamento, mas não o afasta de seu corpo”, e adverte que o falasser não vem com um manual de instruções e nada há no inconsciente que corresponda a uma bipolaridade entre os sexos, o que nos leva à discussão muito atual sobre a questão dos gêneros.
Em Ressonâncias, o HADES convida colegas a fazer um comentário psicanalítico sobre alguma modalidade de arte, fiel a Freud e Lacan, que afirmavam estar o artista à frente do psicanalista. Temos o belo comentário de Noemi Araujo sobre “A mulher que não existe e o Amor”, analisando a canção-poema Angélica, onde Chico Buarque reverbera seu estranhamento e seu fascínio diante do feminino. Kátia Nadeau com “A mulher não existe e o Amor no balé contemporâneo”, fala da “fluidez dos corpos escandalosamente apresentados numa mistura entre o belo e o sensual” e nos arremete ao belo e ao real do corpo. Marcia Aparecida Barbeito, em “A Mulher não existe”, reflete sobre este aforismo lacaniano, a partir do filme “Uma Mulher Alta”, onde vislumbra mulheres “contadas uma a uma”. Maria Wedna, numa lembrança profética, comenta a dedicatória que a colega Lêda Guimarães escreveu por ocasião do lançamento de seu livro: “Que o feminino e o masculino dancem na cadência dos seus passos”. Lembrança de uma querida colega que acaba de nos deixar.
Entre ensino e arte, o HADES se faz porta voz da CLIPP.