Scroll to top
  • Tel.: (11) 3864.7023

As versões do objeto – Eixo 2 : As estratégias de apropriação do corpo nos seres falantes

Katia Ribeiro Nadeau

O Nome do Pai como conceito, inicialmente desenvolvido por Lacan em relação à neurose em seu primeiro ensino, se multiplica e se abre em seu último ensino sob a forma de Nomes do Pai e versões do Pai cuja função é o enodamento dos três registros (RSI ) e localização do gozo.

A clínica dos Nomes do Pai, versões do Nome do Pai ao plural, se aplica à neurose, à perversão e à psicose, para além da estrutura, o que Lacan nomeia Sinthome.
Se no seminário 22, Lacan formula o conceito de pai-versão, bem como sua equivalência ao sintoma. Será no seminário 23 que elabora o conceito de Pai-Versão como enodamento dos registros Real-Simbólico-Imaginário, ou seja, Sinthome.
Pretendo desenvolver aqui uma articulação entre PAI-VERSÕES e OBJETO.
Será pela clínica do fetichismo e da perversão que Lacan se referencia ao conceitualizar e subverter a verdadeira dimensão do objeto visado pelo desejo.

O fetiche é exatamente a condição para que o sujeito sustente seu desejo, mesmo que ele não se encontre sobre o corpo do parceiro sexual, mesmo que o fetiche esteja separado do corpo do parceiro. O objeto fetiche é a causa do desejo e o desejo vai se enlaçar onde conseguir, visando o falo imaginário da mãe, explicitando a disjunção entre o que causa o desejo sob a forma do fetiche e o que é desejado pelo fetichista.
É pela via da perversão que Lacan se aproxima da função do objeto como causa de desejo. Em seu texto “Kant com Sade” demonstra pela via do desejo sádico que este desejo visa introduzir o sujeito numa divisão subjetiva entre a vida e a morte. Busca a divisão do Outro, visa angustiar o Outro ao produzir uma divisão radical entre o ser e a existência.

Mesmo sem assim o saber, o sádico se encontra no lugar do objeto a, objeto esse que causa a divisão do sujeito a serviço do gozo.

Do lado masoquista, o sujeito também encarna o objeto, aquele do registro imaginário, o que difere do objeto causa de desejo.

Ao visar se apresentar como objeto de troca, identifica-se ao objeto causa de desejo, entra na cena como objeto dejeto, fazendo equivaler o lugar do sujeito ao objeto.
O que a relação perversa demonstra, no sadismo ou masoquismo, é que o sujeito é o objeto.

Sem o véu de que se vale a neurose transformando o objeto como inatingível, como na insatisfação histérica que mantém o objeto visado pelo desejo inalcançável, ou, o obsessivo que crê na impossibilidade de acesso a esse objeto, transforma e sustenta seu desejo como impossível, na perversão, sem barreiras em torno dos objetos, demonstra que em se tratando do desejo, o objeto (a) é causa do desejo.

O desejo do perverso é a divisão subjetiva no nível do objeto. É precisamente neste ponto que Lacan subverte e separa o objeto da interdição, dizendo que não é a interdição que promove o desejo, mas sim o objeto(a) que como causa é responsável pelo desejo.

O objeto causa de desejo como aquilo que a angústia presentifica.
Se a verdadeira finalidade da pulsão é a satisfação, deduziremos que seu verdadeiro objeto também é a satisfação. A satisfação da pulsão como objeto é precisamente o objeto a.

O objeto a, satisfação encontrada como objeto, possui a consistência e contradição interna que o próprio Lacan nomeou por GOZO.

A perversão, longe de ser uma pergunta sobre seu desejo, é uma resposta ao gozo do Outro e a maneira de assegurar seu próprio gozo. Em seu primeiro e último ensino articulará a posição do perverso como capaz de presentificar o mais de gozar a fim de restituir o gozo perdido.

No primeiro tempo de seu ensino o articulador é o falo – ser o falo, e no segundo tempo o articulador será o objeto (a). Ao pretender que a relação sexual exista, o desejo do perverso é a união do corpo e do gozo, disjuntos por estrutura.
Lacan assinala que “não há relação sexual” porque o gozo do Outro, tomado como corpo, é sempre inadequado, perverso de um lado, no que o Outro se reduz ao objeto a, e de outro, um enigma”. ( sem. 20 , pg 197 ).

Segundo Miller, a pére-version é uma ironia sobre a metáfora paterna, sendo esta já uma perversão.

 

Bibliografia
Lacan, Jaques, in Seminário 6, O desejo e sua interpretação, Jorge Zahar Ed.Rio de Janeiro
Lacan, Jaques, in Seminário 10, a angústia, Jorge Zahar Ed. Rio de janeiro
Lacan, Jaques, in Seminário 23. O Sinthoma, Jorge Zahar Ed. Rio de Janeiro
Lacan, Jaques, in Escritos, Kant com Sade, Jorge Zahar Ed. Rio de Janeiro
Miller, J.A, in “A salvação pelos dejetos”, correio 67
Miller, J.A, in Los divinos detalles, Paidós Buenos Aires, cap .6