Maria Wedna Tabosa Henriques (CLIPP)
Esta epígrafe foi a dedicatória que me fez Lêda Guimarães [1] quando recebi seu livro, e isto me instigou. Marie-Hélène Brousse [2], tomando o axioma de Lacan A Mulher não existe, diz que ela existe à condição de ser escondida. Ela é “A” causa, o objeto a e o objeto escondido de “uma mulher” é o falo. Como objetos, se fazem amadas; como desejantes, são narcísicas. Entre ter e ser o falo, ela se devasta, se esconde, às vezes enlouquece. É o que acontece em algumas parcerias amorosas, quando são tomadas enquanto “objetos a” por seus parceiros, sem se darem conta de que nessa relação sexual, que não há, o seu ser de gozo se esconde. “Só o amor permite ao gozo condescender ao desejo”[ 3]. Lacan marca com esse aforismo o que vai elucubrar mais para frente: é preciso ter um corpo para poder gozar dele. Na tabua da sexuação, a “mulher” está do lado do não-todo fálico, localizando assim o gozo feminino. Ter Um corpo e poder gozar dele não é tão simples assim. Passa pelo amor. Entre o masculino e o feminino e a relação sexual que não há, pode haver passos cadenciados?
[1] Guimarães , Lêda. Gozos da mulher. KBR Petrópolis 2014.
[2] Brousse, Marie-Hélène. Mulheres e discursos. Contra Capa. Ed. 2019, p. 37-38.
[3] Lacan, J., O seminário, livro 10: A angústia. Rio de Janeiro: Zahar, Ed. 2005, p. 197.