Scroll to top
  • Tel.: (11) 3864.7023 / 3938.2611

ENSINO DA PSICANÁLISE – Um estudo de Texto

Imagem: Instagram @art.upon.contemporary

Imagem: Instagram @art.upon.contemporary

Leny Magalhães Mrech

Eric Laurent em Como se ensina a Clínica? aborda questões relativas ao ensinar e parte de que o psicanalista não tem como vocação o ensinar, sua formação não está centrada no ensino, mas em praticar a psicanálise. Com isso, ele faz um contraponto com a Universidade, constituída para dar lugar ao ensino e que, no entanto, apresentou um fracasso identificado no período de 1966 e 1969.
Laurent destaca que nenhuma outra orientação, dentro da psicanálise, colocou tanto destaque no ensino como a orientação lacaniana. Este ensino precisa ser distinguido em função de dois registros distintos: 1. A transmissão da disciplina precisa, do saber do psicanalista; e 2.

Essa transmissão introduz uma forma de ler o inconsciente não como uma coisa morta, mas como uma significação viva.
Para isso, destaca Laurent, é preciso fugir do já sabido, fugir da erudição. Trata-se na transmissão da coisa viva (p.18). Quando o psicanalista trata de ensinar o que a psicanálise ensina, altera os modos admitidos de ensinar o que a psicanálise lhe ensina, tanto nas agrupações de saberes como na maneira como o faz.

Na Universidade o estudante é um ouvinte, o saber na posição dominante esconde a presença do amo. Laurent revela: A dificuldade de ensinar é como romper com a conformidade induzida pelos interesses do significante mestre e pela comodidade da orelha (p. 20).
Laurent destaca que é preciso lutar contra as fabricações de significações já feitas e o esforço como ensinante consiste em conseguir dar a cada noção, não uma história morta, senão sua vida própria, para encontrar a cada vez a pergunta que venha responder a cada noção ensinada. Se a encontramos, o ensino pode chegar a ser vivo e ensinar o vivo.

Ele assinala também que a ciência com seus êxitos – porque é um saber eficaz – leva à ideologia da eliminação do sujeito, à necessidade do para-todos como certeza (p. 21). Há uma demanda social do mental, porém, a psicanálise não necessita do mental; a tarefa é inventar o novo e ser eficaz na interpretação dos sintomas sociais de demanda que se dirige ao saber. Manter viva a teoria e a prática que ensinamos.
Atualmente, os estudantes não têm acesso aos saberes sobre os quais se apoiava Lacan; Laurent frisa que o mais importante é o ponto candente de não-saber. Não somente repetir o bem sabido, senão dirigir-se a cada vez ao ponto candente de não-saber (p. 24).

Aí se encontra a diferença entre o ensino e a transmissão, oposição fundamental. A transmissão seria um saber não constituído, parte da lógica da conversação que é ir do sabido ao não-sabido. Laurent destaca que o que se transmite não precisa ser entendido, a

transmissão nunca garante que alguém entenda o que disse (p. 26).

Para Laurent nem toda transmissão é ensino, mas ensino é um modo de transmissão possível (p. 26) e acrescenta ainda que, se o ensino é um ensino, ele se dá ao redor de sua ignorância, porque visa o ponto de desconhecimento, o que inclui o silêncio, ou seja, no ensino há que incluir o impossível de ensinar.


BIBLIOGRAFIA: Laurent, Éric. Como se ensina la clínica? Buenos Aires: Instituto Clínico de Buenos Aires, 2019.