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  • Tel.: (11) 3864.7023

A Clipp em Buenos Aires

“Tudo pode acontecer, inclusive nada”*

 

Sandra Grostein

Diretora de Ensino

Apresentação da CLIPP

 

 

CLIPP é uma associação sem fins lucrativos, com duração por tempo indeterminado, que tem como finalidade o atendimento em psicanálise preferencial à população de baixa renda, a educação em psicanálise e a realização de estudos, pesquisas, cursos e supervisões, especialmente voltados para a produção de conhecimento técnico e científico em psicanálise, saúde e cultura.

 

 

Questão

 

A principal questão que se coloca em relação à finalidade – O que é atendimento em psicanálise?

 

“O que é a clínica psicanalítica?” É a mesma pergunta faz Lacan na Abertura da Sessão Clínica. E, responde:

 

Não é complicado. Ela tem uma base – aquilo que se diz em uma análise-“.

 

“A clínica psicanalítica consiste no discernimento de coisas que importam e que se tornarão maciças a partir do momento em que se toma consciência delas.

 

A inconsciência em que estamos em relação a estas coisas que importam não tem absolutamente nada a ver com o inconsciente, que com o tempo acreditei ter de designar l’une-bévue. Não basta que se pressinta o seu inconsciente para que ele recue – isso seria muito fácil. Isso não quer dizer que o inconsciente nos guie bem. Um tropeço precisa ser explicado? Certamente não. A psicanálise supõe simplesmente que estamos advertidos para o fato de que um tropeço é sempre de ordem significante. Há tropeço (une-bévue) quando nos enganamos de significante.

”Jacques Lacan(1)

 

Origem

 

Diferentes desdobramentos da política institucional local, deram origem à CLIPPClinica Lacaniana de Atendimento e Pesquisas em Psicanálise, associada ao Instituto do Campo Freudiano de São Paulo, tendo como base o que foi  levantado por Lacan no texto anteriormente citado.

 

Em junho de 2003,  no calor da discussão sobre a psicanálise pura e psicanálise aplicada, um grupo de 30  analistas remanescentes do Instituto de Pesquisas em Psicanálise, decidiu dar continuidade a um trabalho que estava em andamento e apostar na difusão da psicanálise de orientação lacaniana, criando um novo espaço clínico na cidade de São Paulo.

 

Privilegiamos a modalidade de rede assistencial, pois levávamos em conta  aspectos pragmáticos tais como o tamanho da cidade, o sistema de transportes, o número de habitantes etc. e os aspectos teórico-clínicos onde a  sustentação da clínica se desse através de dois eixos: sujeito suposto saber como formalização da transferência e a construção do caso clínico situando a relação do sujeito a seu gozo. Além disso, buscávamos e persistimos na busca, de que a CLIPP “seja uma forma de interrogar o psicanalista e forçá-lo a declarar suas razões”, como propõe Lacan, no mesmo texto. Acreditávamos, à época e ainda hoje, que o modelo de consultório adaptado à instituição poderia melhor responder a este propósito, uma vez que ao espalhar a psicanálise pela cidade, contaríamos a principio mais com as transferências já estabelecidas com os responsáveis pela iniciativa, do que com a instituição propriamente dita.

 

Sustentação da clínica

 

Aspectos  pragmáticos:

 

A cidade de São Paulo está dividida em 31 subprefeituras , tem uma área de 1523 Km2 e abriga atualmente aproximadamente 10 milhões de habitantes.

 

O nosso sistema de transportes é moroso e em uma viagem  média gasta-se em torno de 1 hora e meia por deslocamento, seja trabalho–casa-trabalho ou outra atividade qualquer.

 

Levando em conta estes dados, além do já exposto acima, decidimos que os atendimentos seriam feitos nos próprios consultórios dos profissionais, atingindo assim uma grande área dentro do território da cidade. Atualmente, são 28 consultórios distribuídos em 10 subprefeituras diferentes, abrangendo  prioritariamente  uma população entre 2 e 3 milhões de habitantes.

 

Aspectos teórico-clínicos:

 

Os 28 analistas que atualmente atendem através da Seção Clínica da CLIPP,  além de abrirem seus consultórios para acolher a enorme demanda que cresce dia a dia, se comprometem a estar em análise, a fazer supervisão dos casos atendidos e a participar das reuniões semanais promovidas pela coordenação. Estas reuniões visam ao debate contínuo dos atendimentos, através do exercício da construção do caso clínico (casuística), da apresentação de pacientes feitas em parceria com o Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo e a discussão teórica sobre temas emergentes da clínica.

 

Há não somente muita diversidade nas demandas de tratamento e de ajuda como também um grande número; a tal ponto que nestes dois anos  ultrapassou-se  a cifra dos quatro dígitos, isto é  mais de mil procuras.  O significante CLIPP rapidamente se espalhou pela cidade, recebemos pacientes de praticamente todos os grandes Hospitais Públicos, Clínicas de Faculdades, CAPS – Hospitais Dia, Instituições de Saúde e Universitárias; a precariedade do sistema de saúde em atender a demanda associada à suposição de saber atribuída à CLIPP, permitem o encaminhamento, mas nem sempre a demanda do médico ou do profissional de saúde corresponde à demanda do paciente. “Com isto nos deparamos com uma nova forma de demanda, diz J.-A. Miller(2), Isto significa que há um novo Outro no campo, prossegue , que está pedindo tratamentos mais rápidos, menos custosos, absolutamente previsíveis, cujos finais e duração possam ser previstos.”

 

Conseqüentemente, nosso principal objetivo tem sido acolher as diferentes demandas, não para desencorajá-las ou fazê-las desaparecer, mas precisamente redirecioná-las para uma psicanálise, quando possível. Em nossa prática verifica-se a importância fundamental das entrevistas preliminares e da escuta que é oferecida aí.

Neste sentido, das mais de mil procuras resultam atualmente em atendimento 312 pacientes e 15 com os tratamentos concluídos, a partir de efeitos terapêuticos alcançados, desde a perspectiva psicanalítica.

 

Sustentação Epistêmica

 

Pesquisas

 

Desenvolvemos diferentes modalidades de pesquisas no âmbito da CLIPP – os Núcleos de pesquisas da Seção Clínica – sob a coordenação de Carmen Silvia Cervelatti, atualmente se responsabilizam por três tipos: a contabilizável, a saber quantas demandas foram feitas, quantas por dia, por semana, por mês, quem são as principais fontes de encaminhamentos, duração de cada tratamento, perfil dos pacientes, valores pagos por sessão etc.; a pesquisa bibliográfica – levantamento de textos sobre os temas trabalhados, disponibilizando para os participantes da clínica e a pesquisa qualitativa que busca  elementos para transmissão de resultados. Além disso – oNúcleo de Pesquisas em psicanálise e medicina, sob a coordenação de Eliane Costa Dias e Niraldo de Oliveira Santos, sendo que alguns resultados serão apresentados na conversação deste Encontro.

 

Cursos, Seminários e Jornadas

 

Curso para a Formação em psicanálise

Os casos clínicos de Freud e o percurso de Lacan, curso de três anos, para aqueles que queiram iniciar o estudo da psicanálise de orientação lacaniana.

 

Seminários para a Formação Permanente

Seminários semanais sob a responsabilidade de membros da EBP e docentes da CLIPP, trabalhando temas atuais no Campo freudiano, como por exemplo a Leitura comentada do Seminário de Lacan, Livro X – A angústia, sob a responsabilidade de Carlos Augusto Nicéas ou ainda um estudo aprofundado feito por Maria do Carmo Dias Batista, dos relatos de passe publicados etc.

 

Jornadas da CLIPP

São semestrais e visam questionar o trabalho desenvolvido no semestre. É o momento privilegiado para interrogar os praticantes e para tanto entendemos  que extimidade é fundamental. Convidamos, então, para exercer esta função membros do Conselho da EBP.

 

Divulgação

 

Usamos uma ampla divulgação de nossas atividades, através de um Site próprio, de material gráfico, cartões, folders, cartazes, etc. e por meio de listas eletrônicas.

 

Convênios e Parcerias 

Com hospitais e Universidades

 

Encontre um analista

Se a finalidade da CLIPP é facilitar que se encontre um analista, lembramos constantemente da advertência de Lacan de que “sem princípios e sem ética, a análise se degrada em uma imensa bagunça psicológica”. O grande risco é a psicoterapia.

Vale aqui relembrar três deveres do psicanalista propostos por J.-A. Miller(3) em seu texto Psicoterapia e Psicanálise:

 

Ser um psicanalista

Indicar ao público o que é um analista, isto é, o que ele não sabe e o que ele pode prometer.

 

Sua responsabilidade é proporcionar efeitos analíticos de acordo com as capacidades do sujeito de suportá-los.

 

Se observarmos os riscos, se considerarmos que um tropeço é sempre de ordem significante, quanto às demandas  feitas à CLIPP cabe aplicarmos – o espirituoso ditado popular angolano – que dá título a este texto: “Tudo pode acontecer, inclusive nada”.

 

Isto é, tirando conseqüências de que o sucesso da psicanálise é o seu fracasso, concluímos, considerando as iniciativas bem sucedidas:

 

– Ter conseguido o registro em cartório de uma clínica de psicanálise sem a participação ou controle dos órgãos de classe – medicina e psicologia –

– Ter obtido a autorização  legal de exercer a prática de apresentação de pacientes.

– Organizar um banco de dados que possa, se necessário, ser  confrontado com as pesquisas feitas através das terapias cognitivo-comportamentais.

– Ter podido espalhar o significante CLIPP pela cidade através da transferência de trabalho, isto é no um a um :

– Gerando um outro espaço de debate e

– Dando acesso à psicanálise  a uma população que por falta de oportunidade, de conhecimento, de dinheiro, entre outras faltas, habitualmente fica à margem.

 

*(Ditado popular angolano)

 

 

 

 

Referências:

 

(1) LACAN, J. – Abertura da Seção Clínica. Opção Lacaniana nº 30, abril 2001, pp. 6 – 9.

(2) MILLER, J.-A. – La respuesta del psicoanálisis a la terapia cognitivo-comportamental. Texto site AMP.

(3) MILLER, J.-A. – Psicoterapia e Psicanálise. Biblioteca Freudiana Brasileira. Campinas. Papirus, 1997. pp. 9 – 19.