Carlos Ferraz Batista (CLIPP)
Ensinar é um dos três ofícios impossíveis para Freud, mas Freud e Lacan não recuaram diante deste desafio. Lacan por mais de quarenta anos dedicou-se a transmitir e interrogar os conceitos psicanalíticos. Logo após sua exclusão da IPA, propôs a fundação de uma Escola, onde poderia tornar possível um laço entre o analista e o saber, sustentado pela transferência.
Em junho de1964, no ato de fundação1, Lacan trouxe as diretrizes para a criação da Escola Freudiana de Paris afirmando que em seu interior seria possível reconduzir à práxis psicanalítica desenvolvida por Freud, através de um trabalho realizado por meio de uma crítica contínua, que denunciasse os desvios e as concessões que amortecessem seu progresso e degradassem seu emprego. A Seção de Psicanálise Pura se ocuparia da práxis e da doutrina, a Seção de Psicanálise Aplicada é conhecida como análise didática e à Seção de Recenseamento do Campo Freudiano caberia fazer “a atualização dos princípios dos quais a práxis analítica deveria receber na ciência seu estatuto”2. Portanto, são os psicanalistas convocados a instruir e comunicar nossa experiência.
Lacan havia escrito um programa para Sociedade Francesa de Psicanálise que não foi aceito, ele o implantou na EFP. Uma das questões que surge é: como ensinar o que a psicanálise ensina?
Em 1967/68 em “Meu Ensino”3 , Lacan diz do lugar, origem e fim de seu ensino.
O lugar – “dar lugar a um certo dispositivo que deveria regular o status dos psicanalistas do futuro.”4
A origem – “A origem de meu ensino é bem simples, está presente desde sempre, uma vez que o tempo nasceu com aquilo de que se trata. Com efeito, a linguagem, nada além disto.”5 A linguagem já estava aí antes dos homens, o homem nasce na linguagem e pela linguagem.
O fim – “Seria fazer psicanalistas à altura dessa função que se chama sujeito, porque se verifica que só a partir desse ponto de vista se enxerga bem aquilo de que se trata na psicanálise.”6
Imbuído desta tarefa, a cada dois anos, a CLIPP realiza eleições entre seus associados, para Diretorias, Conselhos e Comissão Científica. Esta última tem como função zelar pela transmissão da Psicanálise, suas atividades de ensino e pesquisas e, com isso, abrir as vias do inventivo, para todo aquele que se interesse pela Psicanálise.
Esta “nova” Comissão Científica da CLIPP pretende continuar favorecendo o percurso para aqueles que desejam trilhar o caminho da Psicanálise. Partimos da premissa de que cada sujeito que busca um Instituto possui um desejo singular e seu uso será único.
A “Causa Analítica” é partilhada pelos integrantes da Comissão Científica, cada um com sua solidão e com seu desejo decidido, sendo experienciada pela transferência de trabalho. Portanto, na CLIPP, a Comissão Científica é uma instância de transmissão da Psicanálise.
Nosso objetivo é manter um olhar atento sobre todas as atividades da CLIPP, com a finalidade de promover interlocuções entre alunos, professores e coordenação. A circulação da palavra terá por objetivo zelar pela transmissão da Psicanálise.
No momento, temos sob nossa responsabilidade a apresentação das monografias de final de curso dos alunos e a JAM SESSION. Nesta atividade, o intuito é apresentar um texto de Jacques-Alain Miller, trazido por um dos membros da CLIPP e que tenha sido importante na sua formação. Isso sendo regado, em nossa conversa, pelos princípios musicais do JAZZ. Uma renovação a todo o pique. Seria uma ousadia?
Agradecemos e parabenizamos a Comissão que nos precedeu e nos colocamos o desafio de equalizar os limites do instituído para o instituinte, primando pelos ensinamentos de Freud e Lacan.
Integrantes da Comissão Científica: Carlos Ferraz Batista, José Wilson Ramos Braga Júnior, Leny Magalhães Mrech, Maria Cristina Merlin Felizola, Rodrigo Camargo e Rosângela Carboni Castro Turim.
1 Lacan, J. in Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 2003.
2 Ibid. p.238.
3 Lacan, j. (2006) Meu ensino. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 2006.
4 Ibid. p. 13.
5 Ibid. p. 34.
6 Ibid. p. 53.