Leny Magalhães Mrech (CLIPP/EBP/AMP)

HADES voltou – mais um número, robusto, trazendo novidades; textos ricos e pertinentes que abraçam diferentes momentos do pensamento de Freud, Lacan, Miller.

Essa continuidade revela a pujança da CLIPP, que se posiciona em relação ao múltiplo nas diferentes perspectivas e no singular de cada sujeito. Temos nessa edição opções diferentes, a partir das inserções de cada autor. Apresento pequenos recortes, pequenos pedaços para despertar no leitor o desejo de ler os textos na íntegra.

Em LACAN E O DESEJO DE AUTOPUNIÇÃO: REVISITANDO O CASO AIMEÉ, Carlos Ferraz Batista resgata a tese de doutorado, na qual Lacan explora posições para além das vertentes desenvolvimentistas na psicologia e na psiquiatria, introduzindo uma quebra na posição que associava psicose à criminalidade. O sofrimento de Aimeé aparece vinculado ao sentimento de culpa; sua possível inscrição no social propicia alívio dos sintomas.

Em AS TEORIAS SEXUAIS INFANTIS: DE FREUD A LACAN, Kátia Ribeiro Nadeau aborda as teorias sexuais infantis e a criança perversa polimorfa em Freud. Cito: o tratamento psicanalítico mira aquilo que fracassa na via do sentido e a neurose surge como resposta ao fracasso do Édipo. Freud percorre o caminho da prevalência do Falo, Lacan privilegia o significante no campo simbólico em seu primeiro ensino.

No texto A IRRUPÇÃO DO UM SOZINHO NAS PARCERIAS CONTEMPORÂNEAS, Niraldo de Oliveira Santos discute uma questão fundamental na atualidade: Pode um analista fazer um amor dar certo? Enfocando as discussões em relação ao último ensino de Lacan, Niraldo aponta como lidar com o axioma “Não há relação sexual” e revela que: afinal, a ausência de relação sexual obviamente não impede, muito longe disso, tal ligação, mas lhe dá suas condições.

Maria Bernadette Soares de Sant´Ana Pitteri discute DO DIZER “APOFÂNTICO” no De Interpretatione, onde Aristóteles propõe que um dizer pode ser verdadeiro ou falso, destacando ainda que: Na lógica só entra o raciocínio apofântico ou declarativo, ou seja, qualquer enunciado passível de ser verdadeiro ou falso, em função da descrição correta ou não do mundo real, no sentido de realidade tal como refere Aristóteles. Além disso, Bernadete trabalha com Lacan em O Aturdito, ao enfatizar a diferença entre o enunciado e a enunciação – ao fazer uma enunciação, o sujeito não sabe o que está dizendo; o dizer vai além desta.

Daniel Gomes Batelli em CROSSCAP: UMA BICONDICIONAL E UM POUCO MAIS, numa leitura atenta do primeiro capítulo do Seminário A Lógica do Fantasma de Jacques Lacan, aborda o signo “punção” no axioma do fantasma – $ <> a – afirmando ser uma bicondicional; ou seja, embora apresente várias nuances, o importância da “punção” se dá quando seus dois elementos têm valor de verdade.

Por último, o texto de Rodrigo Camargo PERSPECTIVAS DO ULTIMISSIMO LACAN, a partir da leitura de Perspectivas do Seminário 23 de Jacques Lacan e do Ultimíssimo Lacan, curso proferido por Jacques-Alain Miller, numa forma mais completa das Perspectivas. Rodrigo destaca que Lacan vai em direção ao forçamento de uma nova clínica, a escrita do real: não uma escrita direta, porque depende de um conjunto que ele tratou borreanamente.

Finalizo renovando o convite ao leitor para ler e estudar cada um dos textos, que são de uma grande riqueza.