PRIMEIRO SEMESTRE 2025
Entre o enigma e a fixação de gozo
Retomaremos nosso trabalho de pensar a clínica com crianças na contemporaneidade, tomamos como pontos de partida: o “Nome do Pai”, a “feminilidade” e “a criança e sua subjetividade”. Estes conceitos vão se transformando e ampliando à medida em que Lacan buscava novas elaborações que incluíssem as mudanças rápidas e significativas que observava na sociedade.
Em seu texto: “Um real para o século XXI”, Miller comenta (p.24) – sobre a lei natural, definida por São Tomás de Aquino. Dentro desta concepção não se deveria “tocar na natureza”, pois havia o sentimento de que isto podia afetá-la “e que havia atos humanos que iam contra a lei natural” (…) pois todo mundo pressente que o real escapou da natureza”1.
Com o avanço do capitalismo e da tecnociência, produz-se uma desconexão entre as escolhas possíveis e a lei natural. Com o advento da pílula anticoncepcional na década de 60 tornou possível o controle da natalidade pelas mulheres. Por outro lado, hoje pode-se prescindir do contato sexual para se ter um filho com novas tecnologias: inseminação artificial, ovo doação, barriga de aluguel…
Diante destes fatos há uma desconexão entre a natureza e os costumes. Hoje temos a família estendida, onde vários arranjos são possíveis: um casal heterossexual que se separa, pode formar uma outra família, também um casal de homossexuais onde um assume o papel de pai e buscam uma mãe biológica etc. O sintoma da criança revela o funcionamento destas novas configurações.
A criança depende de adultos para sobreviver e se constituir como sujeito. Ela recebe uma linguagem, que já estava lá antes do seu nascimento e também os significantes do Outro que vestem e dão corpo à história deste sujeito e como consequência uma perda de gozo.
No trabalho analítico com criança temos oportunidade de acompanhar sua infância e isto nos propicia escutar suas histórias in loco, seus significantes, seus sentimentos de prazer, vergonha, satisfação, medo…
É no segundo tempo do complexo de Édipo (este que nunca é lembrado pelo sujeito) onde se converge a historicidade do sujeito e o real. Lacan (1968) mostrou que os analistas, à época destacavam a maternagem (relação mãe e filho), mas ele priorizou a questão sexual. Ao considerar a sexualidade feminina marcando a subjetividade do filho, questionamos “o que é a criança para esta mulher?”
A questão de Freud “was will das weib? – o que quer a mulher? -, Lacan propõe “o que quer uma mulher”, destacando que a mulher deve ser tomada uma a uma. Também separa o “querer” do “desejo”. Onde abordou de diferentes modos até chegar ao mal-entendido. A criança nasce de um de mal-entendido, que já estava lá antes e este possui uma parte que não se revelará jamais. A psicanálise explora o mal-entendido e ao final revela a fantasia.
Com o objetivo de responder às questões pensadas para este semestre, segue abaixo o programa e a bibliografia.
Para participar do Núcleo é imprescindível realizar, ou renovar sua inscrição junto à secretaria da Clipp através do e-mail: secretaria@clipp.org.br
A efetivação da inscrição estará sujeita à realização de uma entrevista com as coordenadoras, quando solicitada por estas.
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Um real para o século XXI Ondina Machado, Vera Lucia Avellar Ribeiro, org. – Belo Horizonte: Scriptum, 2014
- COORDENAÇÃO: Célia M. B. Siqueira, Luciana Carvalho Rabelo e Maria Cristina Merlin Felizola
- PERIODICIDADE: terças-feiras (quinzenal) 20h30 às 22h
- INÍCIO: 18 de março
- MODALIDADE: híbrida
- INVESTIMENTO: R$ 340,00
PROGRAMAÇÃO
MARÇO
- 18/03 A (barrado) mulher: nascer de um mal entendido
ABRIL
- 01/04 Do Nome-do-Pai aos Nomes-do-pai
- 15/04 Que lugar a criança pode ocupar para a sua mãe”?
MAIO
- 06/05 O que é um filho para uma mulher?
- 20/05 O que agita corpo da criança?
JUNHO
- 03/06 Convidado
- 17/06 Avaliação