SEGUNDO SEMESTRE 2025

 

“Um passeio pela loucura humana

Lacan – das estruturas clínicas às solúções borromeanas”

A loucura aparece como algo fora do comum, do normal: o louco, o insensato não tem senso, não tem direção, está perdido, desbussolado, como disse Miller. O sensato é o que tem direção, tem uma bússola a guiar seus passos. De onde viria a bússola, a direção? Qual a medida do normal?

Para Platão (o diálogo Fedro dá exemplos), loucura é um conceito que envolve aspectos negativos (a loucura humana) e também positivos (a loucura divina – theia mania); não é apenas uma doença mental, pode ser fruto da inspiração divina e caminho para o conhecimento.

A carência de saber no que respeita à sexualidade se escancara com o rebaixamento do Nome-do-Pai e arranca de Lacan que “Todo mundo é louco, isto é, delirante” (LACAN, J. Transferência para Saint Denis? Correio – EBP n. 65, São Paulo, 31-32), o que estende a loucura a todos os seres falantes.

Antes de Lacan, no final do período medieval, Erasmo de Rotterdam escreveu o “Elogio da Loucura”, crítica impiedosa dirigida aos sistemas da época: do poder político ao religioso, do militar ao econômico: ele coloca a loucura como mulher, incondicional e fora da lei. Erasmo viveu em época de crise, o que prenuncia mudanças incognoscíveis; mudanças radicais acarretadas pela Renascença emergindo do Medieval; crise como a passagem do paganismo para o cristianismo; crise como a da época em que vivemos, época de queda de ideais, de valores, do Nome-do-Pai, da evaporação do pai. Por que seria esta mais grave?

Em crises anteriores colocou-se outra Metáfora Paterna tamponando o furo que havia sido escancarado: o Deus cristão no lugar dos deuses antigos, a ciência no lugar do Deus cristão. Permaneceu, no entanto, o dado de estrutura, a foraclusão generalizada tamponada pela metáfora paterna – esta, ao se evaporar nessa época pós-tudo, desvela a loucura generalizada.

Para participar do Núcleo é imprescindível realizar ou renovar, a cada semestre, sua inscrição junto à secretaria da CLIPP através do email: secretaria@clipp.org.br

  • COORDENAÇÃO: Maria Bernadette Soares de Sant´Ana Pitteri e Márcia A. Barbeito.
  • PERIODICIDADE: Segundas-feiras (quinzenal), das 18h30 às 20h.
  • INÍCIO: 25 de agosto
  • MODALIDADE: híbrida
  • INVESTIMENTO: R$ 340,00

PROGRAMAÇÃO:

  • 25 de agosto
    A Loucura Humana, da Filosofia à Psicanálise
  • 15 de setembro
    Loucura e Filosofia – Loucura na Antiguidade Clássica: o Fedro de Platão
  • 29 de setembro
    Loucura e Filosofia – A Loucura do final do Período Medieval ao Renascimento: Erasmo de Rotterdam e o Elogio da Loucura.
  • 13 de outubro
    A Nau dos Loucos (Stultifera Navis, Das Narrenschiff)
  • 27 de outubro
    Análise de Foucault sobre a História da Loucura
  • 10 de novembro
    As Estruturas Clínicas, de Freud a Lacan
  • 24 de novembro
    Lacan e a Loucura Generalizada
  • 8 de dezembro
    Lacan, das Estruturas Clínicas às Soluções Borromeanas

 

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

LACAN, J. O Seminário – Livro 3: As Psicoses. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 1985.

LACAN, J. De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

LACAN, J. O Seminário – Livro 23: O Sinthoma. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2007.

LACAN, J. Transferência para Saint Denis? In: Correio nº 65 – abril, 2010. São Paulo: Escola Brasileira de Psicanálise, p. 31-32).

MILLER, J-Alain. Todo el mundo es loco. Buenos Aires: Paidós, 2015.

MILLER, J-Alain et alii. El Saber Delirante. Buenos Aires: Paidós. 2009.

SCILICET – Todo mundo é louco – XIV Congresso da AMP – fevereiro de 2024. São Paulo: EBP, 2024.

ERASMO DE ROTTERDAM. Elogio da Loucura. São Paulo: Abril Cultural, 1984.

FOUCAULT, Michel. Histoire de la folie à l´âge classique. França: Gallimard, 2005.

PLATÃO. Fedro (da Beleza). Edição bilingue. Tradução Leon Robin. Paris: Les Belles Lettres, 1933.

Platão, Fedro. Tradução do grego, apresentação e notas de Maria Cecília Gomes dos reis.São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2016.