Claudio Ivan Bezerra (CLIPP)
Ainda sobre o efeito contagiante da edição piloto que se fez ente, marca significante. Não se tratou de um significante qualquer, mas do tipo que contorna, cinge e resguarda[1], bem mais precioso da nossa comunidade psicanalítica. Se pudesse definir o que foi a experiência da primeira publicação, eu diria que foi um triunfo. Não me refiro à quantidade de impressão e reimpressão. Nem da estética, design, papelaria e sua exposição. Não se trata valor quantitativo! Este triunfo deu-se no seu impacto, no efeito de aterrissagem. Pela forma como a Revista foi incorporada e seu duradouro efeito de júbilo. Entre nós, quando se fala na Cairel, é perceptível a entonação de um carinho genuíno.
Novamente, estamos aqui sob impacto! Para alguns ele se dá através de sorrisos e alegria, para outros em formato de lágrimas furtivas[2], e há ainda aqueles que têm como impacto o frio na barriga. Eu me encaixo neste grupo, e vou contar o porquê …
A missão de coordenar a sequência desta publicação esbarra num alto padrão de excelência. A Revista piloto alcançou determinado status, deixando-nos em alerta para manter a qualidade do conteúdo estético e epistêmico. É um trabalho que começa cinco meses antes consistindo na escolha de textos, conferências e personalidades que tiveram relevância em nosso ensino, organização do trabalho, criação de cronograma, brainstorm de capa, orçamentos, aprovações de custos e o angustiante tempo da produção gráfica!
Em nosso briefing constava a seguinte direção: imagem que remetesse a um aspecto impenetrável, com a estrutura defensiva como das fortalezas medievais, mas com um toque de modernidade. Algo duro, pesado, mas que ao mesmo tempo pudesse revelar-se um caminho, uma abertura. Foram entregues alguns modelos em composição fotográfica, produções de inteligência artificial, e para nossa surpresa, gostamos de quase todas! Sorte do briefing, que apesar de enigmático utilizou palavras-chave para penetrar a mente do designer criativo.
Uma das capas trazia uma história, não uma história uma qualquer, tratava-se de uma instalação arquitetônica, ou melhor um close-up de uma obra. Seguindo nosso dever ético institucional e nossa curiosidade genuína, solicitamos mais informações – ao chegar à história não tivemos mais dúvidas. Já tínhamos a capa! A foto em questão retrata o Projeto Gijs van Vaerenbergh,[3] um labirinto em aço produzido por arquitetos e artistas belgas. A instalação encontra-se no Centro de Arte “C-mine”, uma antiga mina de carvão na cidade de Genk, Bélgica. Esta imagem traduz perfeitamente aquilo que estava em nosso mindset: um labirinto da neurose obsessiva.
Agora vamos falar sobre o recheio.
A curadoria dos textos promoveu uma movimentação moebiana com escritores e participantes de dentro e fora do Instituto. Quero agradecer ao nosso time de escritores que nos emprestaram suas palavras para cingir a edição: Carmen Silvia Cervalatti, Romildo do Rêgo Barros, Ruth Gorenberg, Gil Carroz, Elisa Alvarenga, Kátia Ribeiro Nadeau, Bernadette Pitteri, Perpétua Medrado. E por fim Ariel Bogochvol, cujo texto é um último escrito seu, que estava em minha caixa de e-mail. Em agosto de 2022, no Núcleo de Ensino e Pesquisa de Psicopatologia e Psicanálise, com os “estudos sobre a criminologia” e no segundo ano investigando “os crimes de guerra”, passando pelas questões políticas mundiais, epidemia do coronavírus, além de todo mal-estar político em solo brasileiro que enfrentávamos. Era uma atividade muito viva que contemplava todas as indagações e questionamentos que surgiam no decorrer das semanas no grupo de WhatsApp. Nesta época o auxiliei durante este percurso, recebendo direto do Ariel com referências, imagens, matemas e links para repassar aos participantes. Um dos últimos materiais trazia um texto não finalizado intitulado Psicanálise em tempos de guerra. Diante do tema da revista, sugeri incorporá-lo dada a importância da pesquisa e como uma homenagem póstuma. Com aprovação unânime do conselho editorial e de Bruno e Júlia, os herdeiros, aos quais dirigimos nosso público agradecimento por ceder os direitos desta publicação.
Meus agradecimentos às minhas colegas e pares de trabalho: Kátia Ribeiro Nadeu, Perpétua Medrado Gonçalves e Rosangela Carboni Castro Turim e, um agradecimento especial, a Daniela de Camargo Barros Afonso, editora e revisora, com quem tive oportunidade de aprender muito com seu estilo de trabalho.
A revista também é fruto do trabalho da Comissão de Diretoria de Publicações, uma equipe determinada e que leva muito a sério a formação. Meus sinceros agradecimentos para: Giolana Nunes, João Paulo Desconci, José Wilson Ramos Braga Júnior, Maria Noemi de Araújo e Olenice Amorin. Agradeço também a Kátia Regina Oliveira pelo projeto gráfico e a diagramação da revista. E, por fim, meu último agradecimento é para nossa diretora-geral Maria Helena Barbosa que sustentou este projeto desde o início.
O frio na barriga está passando, ainda mais porque acredito que conseguimos entregar mais uma bela edição! Espero que todos possam desfrutar da leitura. Foi uma honra fazer parte disto. Muito obrigado!
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