Vera Lúcia Dias
Grande foi a alegria ao constatar a expressiva presença da CLIPP no IX ENAPOL e XXI Encontro Internacional do Campo Freudiano, que neste ano foi sediado no Brasil, no Centro de Convenções Rebouças da cidade de São Paulo, de 13 a 15 de setembro.
Momento onde as comunidades psicanalíticas de orientação lacaniana, ligadas a AMP e FAPOL – EBP, EOL, e NEL -, se reuniram para debater e difundir a clínica empreendida pelos analistas destas Escolas que se encontram espalhadas pelo Continente Americano.
O Encontro contou com a presença de Ève Miller-Rose, representante da Fundação do Campo Freudiano que proferiu, juntamente com Flory Kruger, Presidente da FAPOL, as conferências de abertura. A EBP, enquanto anfitriã, contou com os psicanalistas Henry Kaufmaner e Ana Lídia Santiago, na função de coordenar o evento.
Composto por relatos de passe bem como por debates acerca dos impasses na clínica contemporânea, o IX ENAPOL teve como eixos norteadores dos debates, as paixões humanas explicitadas na temática “Odio, Cólera e Indignação: desafios para a psicanálise”.
Angelina Harari, Presidente da AMP, justificou o tema citando que: “revisitar os afetos freudianos a partir do gozo, situa como primeira consequência, a priorização do ódio em relação ao amor na abordagem do Outro”, visto que, “na perspectiva do gozo, o ódio toma a dianteira. O ódio passa a ser o status primeiro do par amódio”. Não deixou de lembrar que: “na oposição freudiana Eros/Tanatus o adversário do amor não é o ódio, é a morte”.
Já Ana Lídia, evocando Lacan citou que: “… a inerência do significante no inconsciente permite verificar mais seriamente a clínica dos afetos”. Que “desde Freud, os psicanalistas sabem que o afeto apresenta-se sempre deslocado e que não se pode julgar esse deslocamento sem considerar que o ser falante se constitui como defesa das incidências do Real”. Ressaltou que no âmbito da clínica psicanalítica, a clínica diferencial dos afetos constitui uma orientação de leitura que, ao se fazer presente no título, “Ódio, Cólera e Indignação”, inspirou a maior parte da produção dos trabalhos e contribuições do IX ENAPOL.
Muitas dessas contribuições foram apresentadas por integrantes da CLIPP. Elas se fizeram presentes não somente no âmbito dos debates teórico-clínicos, mas também organizacional.
Daniela Affonso e Niraldo Santos coordenaram, respectivamente, as comissões de Acolhimento e Livraria junto com Katia Nadeau, Perpétua Medrado, Rosangela Turin e Paula Caio.
Nas Mesas Simultâneas, as elaborações apresentadas por Bernadette Pitteri, Leny Mrech e Rosangela Turim que atualmente fazem parte da diretoria da CLIPP, fortaleceram a representatividade do Instituto. Bernadette articulando uma leitura sobre “O ódio e a fantasia em Sade”; Leny sobre “Wattpad e o demônio da máfia: formas de escrita a respeito do ódio e o estupro na sociedade contemporânea”; e Rosangela, sobre “O movimento Punk e sua relação com a cólera”.
Outros participantes da CLIPP também apresentaram trabalhos resultantes de suas experiências com a psicanálise. Enquanto numa mesa, Carlos Ferraz, aluno em monografia do curso, levava ao debate “O racismo revelado pela nuance no discurso em análise”, noutra, Perpétua Medrado colocava em discussão um caso clínico em que o ódio surge em destaque. Já Eliane Costa Dias expôs a elaboração de um trabalho coletivo do Observatório de Gênero, Biopolítica e Transexualidade da FAPOL e Juliana Gayoso discutiu acerca da cólera com a apresentação do caso clínico “O homem, a jovem, o menino e a cólera”. Mariana Ferretti debateu, no eixo da Indignação, algumas articulações possíveis entre o par dignidade/indignação.
Ainda nas Mesas Simultâneas acrescentam-se duas outras apresentações – de Júlio Castro, com o trabalho “Ódio, segregação e psicologia de massa sob a égide do Outro algorítmico”, e de Durval Mazey com “Pequenos Assassinatos”, além da coordenação de Daniela Affonso em uma das mesas.
Uma surpresa boa foi a contribuição de Katia Nadeau que entusiasmou os ouvintes ao apresentar em Sessão Plenária um caso clínico nomeado “Transferência como uma defesa contra o amódio”.
Para finalizar essa contagem, no âmbito do Ensino do Passe, Sandra Grostein proferiu seu testemunho, “Estética da indignação ou o sorriso de uma lágrima”, numa transmissão afiada que, imediatamente, passou a repercutir ao longo do Encontro nos comentários de colegas em diversos trabalhos.
Congratulação a todos que fizeram acontecer o IX ENAPOL.