Sandra Arruda Grostein

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Este número da Revista Hades convida o leitor a refletir sobre a formação do psicanalista desde a perspectiva na qual possamos localizar uma “disjunção entre prática, análise didática e o passe, que dá testemunho da psicanálise e seus desafios”, tal qual desenvolvido por Laurent Dupont em seu texto admiravelmente esclarecedor – “Formação do analista, final da análise”. Percorremos nesta leitura um longo desenvolvimento do conceito de castração em Freud e em Lacan a partir da releitura feita por Dupont do texto “O osso de uma análise” de Jacques-Alain Miller. Além da clareza do texto, ele nos oferece uma larga bibliografia sobre o tema.

A angústia de castração também está presente no texto “Saturno e o pequeno Hans – O pai impotente e o tempo reencontrado” de autoria de André do Nascimento Degi, ao conceitualizar o objeto em psicanálise a partir da inspiração lacaniana que se apoia em Lévi-Strauss para problematizar a “junção entre diacronia e sincronia mediada por um mito, ritual ou objeto.”

Daniel Gomes Batelli se arrisca ao estabelecer uma analogia entre o “anel mágico”, um tipo específico de nó, ponto de partida de um trabalho de crochê e, pasme leitor, e a Letra em Lacan, por “ser isso que instaura no real um furo”, vale a pena conferir se esta analogia facilita ou dificulta o entendimento da proposição feita por Patrício Alvarez Bayón ao falar do autismo – “a inscrição da letra implica a produção da borda simbólica de um furo”.

“Mães reborn: Perspectivas psiquiátricas”, este texto de Emanuelle Garmes, aborda o fenômeno do bebê reborn amplamente divulgado pela mídia como mais uma excentricidade feminina, quando tomado desde a perspectiva psiquiátrica define que por si só a aquisição de um gadget não favorece o estabelecimento de um diagnóstico é necessário incluir outras alterações clinicamente significativas.

Da perspectiva psiquiátrica do fenômeno reborn à abordagem psicanalítica do  Chemical sex (chemsex) desenvolvida por Durval Mazzei Nogueira Filho, a Revista Hades neste número ressalta de uma maneira muito interessante o que Dupont chamou de “bugigangas oferecidas à angústia”. Nesta sequência de textos pode-se atualizar a variedade de sintomas da contemporaneidade que fracassam em fazer uma borda simbólica ao furo produzido no encontro da linguagem com o corpo.

Convido a todos à leitura com o mesmo cuidado e rigor com que os autores dedicaram à produção destes textos tão esclarecedores.