Laurent Dupont (AME/EFP/AMP)
Todas as escolas de psicanálise, quaisquer que sejam, conferem o título de analista àquele cujo procedimento de avaliação codificado considera que esse candidato a analista concluiu sua análise. Há, portanto, uma correlação entre o fim da análise e o ser analista. A formação do analista é, portanto, antes de tudo, a sua análise. Lacan acrescentará o controle e o cartel. Hoje, nos concentraremos na análise, pois ela é o eixo central da formação para todas as escolas.
O que é o fim de uma análise?
Para aqueles que seguem a orientação de Lacan, o fim da análise é marcado por um procedimento: o passe. Lacan formalizou esse procedimento em seu texto agora clássico: Proposição de 9 de Outubro de 1967 sobre o Psicanalista da Escola1. Essa proposição não surgiu de um contexto qualquer. Em 1964, ele foi – segundo sua própria expressão – excomungado da IPA. Essa excomunhão o levou a cancelar o seminário que se preparava para ministrar a fim de revisitar os quatro conceitos fundamentais da psicanálise: a pulsão, a transferência, a repetição e, claro, o inconsciente. Mas o título que Jacques-Alain Miller deu ao capítulo sobre o inconsciente deve nos dar uma pista, O Inconsciente Freudiano e o Nosso, o que comprova o distanciamento de Lacan em relação a Freud, sua autonomia. A introdução do objeto a veio revolucionar as coisas, e três anos depois, em 1967, Lacan propôs uma dupla nomeação como analista na escola: AME e AE, que ainda hoje estão em vigor.
Na Proposição de outubro de 1967, ele esclareceu as coisas da seguinte forma: “O AME, ou Analista Membro da Escola, é constituído simplesmente pelo fato de a Escola o reconhecer como psicanalista que comprovou sua capacidade”2. Não vou me aprofundar aqui, mas temos a versão do analista em ação na sua prática, aquele que analisa os pacientes, faz supervisão, participa de cartéis, ensina, expõe sua prática etc.
O AE, ou analista da Escola, a quem se imputa estar entre os que podem dar testemunho dos problemas cruciais, nos pontos nodais em que se acham eles no tocante à análise, especialmente na medida em que eles próprios estão investidos nessa tarefa ou, pelo menos, sempre em vias de resolvê-los3.
Aqui tem sido frequentemente traduzido como “capazes de dar testemunho dos problemas cruciais da psicanálise”, mas Lacan é muito claro: esses são os pontos cruciais ou críticos em que chegaram e nos quais estão trabalhando ou, pelo menos, na iminência de resolvê-los. Isso também é sobre colocar-se a trabalho, mas não como um profissional analisando pacientes, mas dando testemunho a favor da análise, da lógica de um tratamento [cure], seus efeitos e seus pontos fortes [vifs].
Parece-me que vemos emergir um duplo movimento: AME – analista reconhecido [confirmé] em sua prática; AE – analista capaz de dar testemunho da psicanálise. Há uma disjunção entre prática, análise didática e o passe que dá testemunho da psicanálise e seus desafios; é isso que é crucial. Para quem pensa ter concluído sua análise, trata-se de expor os significantes-mestre em jogo, o principal objeto pulsional ligado ao fantasma fundamental e sua travessia, isto é, a cessão de gozo vivenciada nessa travessia. Mas, com o ultimíssimo [le tout dernier] Lacan, há um para além [au-delà] – trata-se de identificar aquilo que resta, aquilo que itera repetidamente e sempre, e que ele chamará de sinthoma. É isso que vamos explorar, mas, primeiro, precisamos ver que essa articulação do fim da análise e tornar-se analista é muito antiga.
Freud e o Rochedo da Castração
Freud se fez essa pergunta sobre o final da análise ao longo de sua exploração da psique humana. Obviamente, o ponto alto de suas reflexões é uma obra tardia de 1937: Análise terminável e interminável.
Neste texto, Freud questiona a própria noção do fim da análise, primeiramente em termos de sua duração. Ao longo da primeira parte do texto, ele se interroga sobre o desejo legítimo de encurtar a duração das análises. Recomendo sua leitura, pois é de extrema relevância hoje; ele fornece indicações clínicas fundamentais e faz uma crítica ao modelo americano de análise:
Não se pode negar que a linha de raciocínio de Rank era audaz e engenhosa; mas não resistiu a um exame crítico. De resto, seu experimento era filho de seu tempo, concebido sob a impressão do contraste entre a miséria da Europa no pós-guerra e a “prosperity” americana, e votado a adequar o ritmo da terapia analítica ao afã da vida americana4.
Após discutir e refutar todos os motivos para se querer encurtar uma análise, Freud nos conduz por outro caminho: estarmos atentos à transferência, particularmente, à transferência negativa, bem como à atuação de mecanismos de defesa pelo paciente – defesas contra a pulsão, além dos excessos do id e do superego, porque não dizer, do gozo. Esses dois eixos são o sinal de que o sujeito se defende do ponto que, para Freud, constitui um obstáculo intransponível: o rochedo da castração sobre a qual, o cito: “todos os nossos esforços fracassam”.
Ele especifica o penisneid para as mulheres e a recusa da feminilidade para os homens. Isso levou Jacques-Alain Miller a dizer que todo fantasma [fantasme] é um fantasma de virilidade. Voltaremos a esse ponto.
Assim, para Freud, uma análise termina quando se chega a esse ponto de parada, e ele sugere, sem jamais ter aplicado isso, refazer um período [une tranche] de análise a cada 5 anos, para saber um pouco mais sobre o que está em jogo, para aquele que se diz analista, na sua relação intransponível com a castração.
Miller e o Rochedo da Castração
Proponho orientar a nossa pesquisa a partir de uma referência de JAM: “Quando o nomeiam AE, Analista da Escola, é por considerar que, doravante, você está em condições de prosseguir sozinho seu trabalho de analisante. E nada além disso!”5. O passe não é uma garantia, é colocar-se a trabalho de outro modo.
Seguindo a proposta de Freud de retomar uma análise a cada cinco anos, Lacan propõe que para além do fim da análise e da travessia do fantasma há algo que itera, e, com a indicação de JAM de que, a partir desse momento, continua-se o trabalho como analisante sozinho, temos um eco do título de Freud: finito e infinito.
Seguindo Freud, o analista analisante é aquele que foi analisado até o intransponível rochedo da castração. Freud sugere que ele retome uma análise a cada 5 anos para retraçar sua relação com a castração. Esse rochedo é definido como recusa da virilidade para o homem e como penisneid para a mulher. Ou seja, para usar a expressão de JAM, o que vem tapar [boucher] a castração é, em ambos os casos, o fantasma [fantasme]; todo fantasma é, portanto, fantasma de virilidade.
No que diz respeito à psicanálise, portanto, precisamos identificar o lugar central do “e”: análise finita e infinita, não é “ou”. Como resultado, esse “e” levanta a questão: algo termina e algo continua.
Uma pequena joia acaba de ser publicada pela Navarin. Agradeço a Eve Miller-Rose por seu trabalho de edição e a Christiane Alberti e Philippe Hellebois pela preparação do texto. Esta pequena jóia são três palestras de JAM proferidas em Salvador, Bahia, em 1998. Sem dúvida, começa a ficar evidente que estou lendo Lacan com Miller passo a passo e que, se leio Lacan, é porque primeiro encontrei o corpo de Miller animando seu percurso, sua “vociferação”, a fim de retomar seu “desenvolvimento da obra de Lacan”.
Dei um testemunho sobre isso em Questões de Escola. Para que haja transferência, é preciso um corpo; para que haja análise, é preciso um corpo; para que haja analista, é preciso um corpo. Voltaremos a isso.
Para essas palestras, o JAM parte de um poema brasileiro, de Carlos Drummond de Andrade, No meio do caminho:
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Não vou copiar e colar a fabulosa análise de Miller sobre esse poema, mas vamos apenas dizer, para a demonstração de hoje, que há um caminho e há uma pedra, que a pedra está lá, no meio, você não pode perdê-la, ela está lá. Digamos também que o caminho é o caminho falado de uma análise e que a pedra é o ponto que faz a parada, mas também um para além [au-delà]. Se a pedra está no meio do caminho, há um para além [au-delà] da pedra. O que é que faz parar, o que é essa pedra? Diremos que esta pedra assume formas variadas [protéiforme], conforme seja identificada por Freud ou por Lacan no seu primeiro, segundo, último ou mesmo no seu ultimíssimo ensino.
Para Freud, a ideia é que no meio do caminho há uma pedra, um rochedo, o rochedo da castração, que, segundo ele, diz respeito à assunção do sexo, e não à da morte6.
Por que evoco a morte aqui? Porque, ao contrário de Freud, o primeiro ensino de Lacan sugere que há uma mortificação da libido. A palavra viria para mortificar a coisa. Este é um dos significados da famosa proposição lacaniana: a palavra é o assassinato da coisa.
Quando continuamos o caminho, contornando a pedra que está no meio, a pedra freudiana, o rochedo da castração; quando vamos até lá segurando a mão de Lacan para não nos perdermos, com seu primeiro ensino como bússola, encontramos a morte.
Assim, se o passe tivesse sido concebido neste ponto do seu ensino – não é o caso, proponho-o puramente em termos hipotéticos – o fim da análise naquele momento teria sido a assunção da morte, que é como Miller a descreve, e está escrito assim:
A / J barrado
Para esta demonstração, JAM baseia-se na pintura que adorna a capa do Seminário XI, Os Embaixadores de Holbein: “o que está sob as imagens, o que está sob o prestígio, sob a fascinação, seria a verdade imóvel e dura sob o movimento das ilusões, como se pudéssemos dizer: eu, a verdade, sou a morte” 7. A consequência de um passe orientado pelo simbólico como aquilo que mortifica o gozo seria fazer do gozo uma quantidade a ser negativizada. Contudo, não funciona assim. Se a operação do simbólico sobre o gozo ocasiona uma mortificação – que é o sentido da fórmula A sobre J barrado – há um resto. Esse resto é ao mesmo tempo condensador de gozo e causa do desejo, pois testemunha a falta inerente à operação de mortificação: o objeto a.
É para onde nos conduz o segundo Lacan – o fim da análise não é mais uma mortificação, mas uma travessia. O sujeito é barrado por causa da mortificação, por causa da operação do significante, mas permanece articulado com esse resíduo, esse fragmento, esse resto, esse objeto, e isso produz a fórmula do fantasma baseada no losango. No meio do caminho, uma vez contornado o rochedo da castração, há uma pedra que permite que você se oriente de outra maneira. É o objeto a.
Lacan, Sintoma, Sinthoma ou Fantasma da virilidade
Com Lacan e a proposição de outubro de 1967 sobre o psicanalista da escola, Lacan propõe um para além [au-delà] do fantasma de virilidade, permitindo o acesso à posição feminina tanto para homens quanto para mulheres. Essa é a famosa “travessia do fantasma”. Digo “famosa” porque, como JAM nos lembra, Lacan usou essa expressão apenas uma vez. Aqui, o analista-analisando, essa é novamente a função do “e“, é aquele que testemunha a travessia do fantasma e seu para além [au-delà].
Para além [au-delà] implica que o analista-analisando continua seu caminho, mas não é o mesmo. Assim como nunca entramos na mesma água duas vezes, poderíamos dizer que nunca percorremos o mesmo caminho quando fazemos uma análise. Há, portanto, um caminho para além [au-delà] do rochedo da castração, e a pedra, a pedra no meio do caminho, é o objeto a.
Continuemos com Miller: “ser analista é tão somente trabalhar para o devir. A análise finita, dizia eu, também é infinita” 8 . Esta é uma nova versão do analista: não é um título, não é uma função, é um ‘pôr-se a trabalhar’ [mise au travail], e como tal é uma versão da expressão francesa un côté demain on rase grátis – amanhã, você se barbeará de graça – o que significa que é necessário retornar à sua tarefa a cada vez e continuar trabalhando nela mais uma vez. Por quê? Porque não podemos dizer: “É isso, sou uma ‘tábula rasa de gozo’, acabou. Sou psicanalista?” Bem, não devemos exagerar, podemos dizer isso e, na verdade, podemos dizer qualquer coisa. Podemos até pintar um cachimbo e dizer: isto não é um cachimbo. É por isso que as pessoas não esperam o passe ou qualquer outro procedimento para se autodenominar psicanalistas – neste momento, um psicanalista é um pouco como o cachimbo de Magritte; pode-se dizer: isto não é um psicanalista.
A fala pode dar sentido a tudo, pode dizer qualquer coisa, tanto que Lacan coloca desta forma em Joyce, O Sintoma: “A fala, é claro, define-se aí em ser o único lugar onde o ser tem um sentido” 9. E se há algo que leva alguém à análise, é para encontrar um sentido, um sentido para o que lhe acontece. Bem, como diz Lacan, isso só pode ocorrer na fala, na fala como locus. O ser é feito de palavras, ou seja, tentativas de dar sentido; esse sentido é dado pela fala. Uma análise é feita de fala.
O convite à associação livre não é um desejo de dizer algo, muito menos um dever de dizer algo, mas sim de falar [énoncer] tudo o que lhe vem à cabeça. A aposta é que desse discurso possa emergir um dizer [um dire] que será um acontecimento, isto é, produzirá um antes e um depois. É, portanto, como sempre, sob transferência que pode ocorrer subitamente um ato de dizer que será um acontecimento na análise.
Há, portanto, um duplo movimento que já nos faz perceber uma dupla articulação do Outro com O maiúsculo: a função do Outro como lugar do significante e o Outro como corpo 10, dando uma nova definição do fantasma:
o fantasma é o lugar, por excelência, onde se juntam o significante e o gozo. É uma linda solução, porque ela junta [noue] o imaginário, o simbólico e o real, porque o fantasma em si mesmo, é uma representação, uma cena da ordem do imaginário, é uma articulação significante onde está presente o sujeito do significante e é, ainda, completada por uma quantidade libidinal marcada pelo pequeno a 11.
Lá onde isso emperra, e é isso que veremos hoje, é que Lacan, em relação à travessia do fantasma, dá um passo além ao trazer à tona a dimensão do gozo do significante, gozo infinito do sentido que cada significante convoca, metonímia S1(S2-S2-S2-S2…), cada S2 escondendo em si o que é: um S1, daí a expressão de Lacan: enxame [essaim], que em francês soa exatamente como o S1 que evoca. Então aqui está uma nova ocorrência de “e”: tivemos um “e” finito e infinito, o do fantasma “e” para além [au-delà] do fantasma (que tem um pequeno lado Buzz Lightyear), e temos hoje o grande Outro, como o lugar do significante “e” como corpo.
Antes de chegar a este ponto de identificar o que neste losango articulou o significante como mortificação e o significante como gozo, há o processo de análise. Uma análise é feita da fala e opera como uma redução da fala. É uma operação de redução. A liberdade insana [La folle liberté] da associação livre transforma-se em gosto pelo bem dizer. O bem dizer é a fala que, embriagada de sentido, se esgota em direção ao bem dizer ao longo do caminho do objeto a. Miller diz isso na página 29 de O osso de uma análise.
Uma análise quase sempre começa com uma ausência de significado [défaut de signification]. O gozo contido no sintoma, sendo opaco ao sentido12, cria um enigma ou um furo [trou], deixando o sujeito sem uma palavra, um sentido, uma explicação. Essa ausência de sentido se transforma em um pedido dirigido ao analista.
“Ao encontrar um significante cujo significado você desconhece, você vai em busca de outro significante para que ele possa ser articulado com o primeiro. Em outras palavras, o significante da transferência o impele a buscar seu significado em relação a um analista como outro significante” 13.
Entramos em análise com um S1, em busca de um S2 e o que descobrimos ao longo da análise e que se revela no final é que a transferência não é o S2, mas a própria busca. Esse S1 é o que chamamos de sintoma; é o suporte da demanda, do significante da transferência. “Uma análise associa um saber ao sintoma e, desse modo, ela em geral obtém o levantamento desse sintoma” 14. Esse saber, incluído na própria função do sintoma, está ele próprio no centro da relação transferencial, estabelecendo um duplo saber:
- O sintoma é o sinal de algo a ser descoberto. Essa descoberta já está incluída no sintoma. Descobri-lo é descobrir o saber contido no sintoma e, ao mesmo tempo, produzir um saber para si mesmo – S2.
- Há um segundo saber, este suposto, ao analista: saber ler um sintoma, saber produzir a interpretação, saber suspender o recalque [lever le refoulement]. Esse saber permanece suposto enquanto o analista não o utiliza. Daí o fato de o analista não escolher a opção de S2.
Porém, hoje em dia, quando o endereçamento é feito mais para um psicólogo do que para um psicanalista, essa demanda costuma vir acompanhada de um “como fazer?”, ou seja, a interpretação vem acompanhada de um guia de utilização. Ao responder à demanda de sentido e às instruções de uso, o psicólogo fecha o espaço aberto do sentido, deixando o inconsciente fora do trabalho que está sendo realizado e reduzindo o encontro à ideia de uma troca em torno da demanda, de comunicação, de intersubjetividade, bugigangas oferecidas à angústia.
O primeiro paradoxo da análise é justamente essa ausência de sentido que produz a transferência, pois o tão esperado S2 é adiado. A transferência se funda, portanto, no enigma que o sujeito é para si mesmo, e o fim da análise se dá, uma vez esgotados todos os sentidos, elaboradas [élaborées] e tecidas todas as construções, nesse ponto central do indizível, onde a parte de gozo opaco contida no sintoma testemunha o que há de mais singular em cada indivíduo.
Uma análise é, portanto, um caminho da fala onde ocorre uma redução; essa redução conduz ao bem-dizer [bien dire]. Esse bem-dizer nos permite desalojar o objeto a, mas há um para-além [au-delà] do objeto; uma análise não se reduz ao objeto. Há algo que não pode ser reduzido ao objeto, mas do qual o objeto testemunha; algo permanece opaco ao sentido e só pode ser definido logicamente.
O ser falante é o poeta, que tem seu estatuto iminente, o sujeito é antes o poema que o poeta. É assim que Lacan o indica, o sujeito é antes o ser falado. A psicanálise efetua, sobre o poema subjetivo, um tipo de análise textual que tem por efeito extrair daí o elemento poético, a fim de destacar o elemento lógico15.
Para além [au-delà] do sentido
Há, portanto, um para além [au-delà] do sentido que nos permite chegar a esse ponto que, se não pode ser dito, pode ser experimentado pelo efeito de um dizer ou por um efeito de dizer, de bem dizer. Em seu Prefácio à edição inglesa do Seminário XI, Lacan propõe assim: “quando o esp de um laps […] já não tem nenhum impacto de sentido (ou interpretação), só então podemos ter certeza de estar no inconsciente”16. Estar no inconsciente é estar para-além [au-delà] da linguagem, perfurar o muro da linguagem17. O que é visado na linguagem carregada por uma palavra não é o sentido veiculado pela palavra, não é mais o enxame de S1 produzido pelo S1; é quando a leitura da sessão, como propõe Lacan em O aturdito, carece da referência, dando lugar à solidão radical, ao silêncio e à não articulação. Assim, esse dizer, faz acontecimento na retroalimentação vazia, trazendo à tona, de repente, num vislumbre, a inexistência do Outro.
Pois bem, é assim com a formação do analista. O corte, o equívoco, a jaculação, é visar a ressonância e abandonar a razão do sentido. “Faz parte da formação do analista saber operar essa redução proposicional, saber reduzi-la a constante” 18. Por que visar a ressonância? Porque o que ressoa é o corpo, ele ressoa na repetição do que foi o primeiro golpe do significante sobre seu corpo gozoso, primeira mordida, primeiro impacto. Esse impacto implica um segundo gozo, gozo do encontro com o significante, é ele que itera, que se infiltra, que interfere. “O primeiro mecanismo em jogo na operação de redução, no fundo, é a repetição” 19.
Isso nos dá uma ideia do que levantamos: o inconsciente freudiano e o nosso, e o que estamos abordando hoje: o sintoma versus o sinthoma. O inconsciente freudiano é o inconsciente intérprete e que contém a parte do sentido a ser encontrada. O nosso tem uma dimensão do fora do sentido, do lado da referência vazia, da letra, do traço, da marca.
O mesmo vale para o sintoma versus o sinthoma, o sintoma é freudiano, quer dizer, algo para ser ouvido no equívoco do “quer”. Por um lado, ele insiste, tem algo a dizer, é a expressão cifrada da pulsão e a análise permite que seja decifrada. Há uma revelação do sentido recalcado, uma elevação do sintoma. Desse ponto de vista, o sintoma é uma formação do inconsciente freudiano. E, no entanto, algo insiste para-além [au-delà] do sentido, há uma persistência, uma iteração, a elevação do recalque nunca é completa. “O sinthoma, à diferença do sintoma, nunca é eliminado.” O sinthoma se relaciona com o inconsciente real, “pois ele inclui o real daquilo que se trata”20. Uma análise levada até o fim visa tocar, atingir esse limite do real, essa zona onde o esp de um laps não tem mais sentido, onde o inconsciente não mais interpreta ou é interpretável, ele é a própria coisa, o traço, a marca.
Proponho, portanto, uma distinção entre repetição e iteração; a repetição é a parte interpretável do gozo do sintoma; ela obedece a função do sentido que busca emergir, um impulso que implica um gozo-sentido [joui-sens]. A iteração é a parte do gozo real e, como tal, ininterpretável pelo sentido, opaca ao sentido proposto por Lacan: é o sinthoma.
Assim, esse duplo movimento é muito bem resumido por Jacques-Alain Miller: “Introduziremos aqui um pouco de dialética entre a pedra e o caminho. Inicialmente, é porque existe o obstáculo que existe a repetição. Mas é porque existe a repetição que se percebe e se isola o obstáculo“.21 Isso significa que é preciso passar primeiro por uma elaboração, uma elucubração, uma longa análise em nome de S2, antes de poder chegar a esse ponto que, se escapa ao sentido, escapa à fala e ao ser, mas, segundo a proposição de Lacan em “Joyce, o sintoma”, não escapa à repetição sob a forma de iteração.
Iteração é tanto repetição quanto convergência. Algo se repete para além do significado e é identificado por sua própria repetição e, ao mesmo tempo, converge. No caminho, não se pode deixar de ir em direção à pedra. Pode-se fazê-lo em espiral, com desvios, mas querer ir até o fim significa aprender a identificar tanto a repetição quanto o feixe. “O segundo mecanismo, após a repetição, vou chamar de convergência. O tratamento faz, com efeito, parecer que os enunciados do sujeito convergem para um enunciado essencial.” Ele também dirá: “esse enunciado da convergência que, digamos, é o significante mestre, o significante mestre do destino do sujeito”22.
VI) Iteração vs. Repetição:
A iteração também se identifica pelo que o sujeito evita, evita dizer, repetidamente. Há presença na repetição, feixe na convergência e ausência na evitação. “A rede de sucessões impossíveis que sempre evita a repetição, como aquilo que se repetisse de mais importante fosse a evitação.”23 No caminho da fala analítica, há a pedra que não pode ser evitada, e para alcançá-la, o analista se treina, repetidamente, a identificar repetição, convergência e evitação. Três termos cujo uso contém um duplo movimento de interpretação: o efeito de sentido, experimentado no [dans le] corpo, e o traço fora do sentido, experimentado pelo [du] corpo, uma iteração do primeiro encontro, sempre traumático, com o significante. Um encontro que separa, em seu teste de gozo, o corpo e o ser. Tornando, assim, o corpo o Outro. “Não se deve, simplesmente, se fascinar pela repetição e pela convergência, não somente com a repetição e a constante da presença, pois há também a repetição da ausência, da evitação, do contorno, que, para o sujeito, se constitui precisamente como uma pedra de tropeço.” 24
Ou seja, nada foi planejado para o encontro dos corpos. Os corpos existem, Um sozinho [Un tout seul]. Como consequência, há a linguagem. A linguagem é o que permite que os corpos humanos possam se encontrar, ao menos acreditar nisso. O pequeno humano, substância do gozo, é Um sozinho, isto é, sem Outro. Esse gozo é Um sozinho, não solitário, sozinho em sua radicalidade. O encontro do Outro, isto é, da linguagem, daquilo que há do Outro tanto quanto há do Um, vem minar esse corpo, Um sozinho. Fazendo-o entrar no um não-poder-ser sem um primeiro “fazer com” [faire avec] esse encontro incrível com o Outro da linguagem que veio morder nosso corpo.
Há, portanto, o Um, sozinho. O encontro com o Outro produz um real que introduz uma subtração; o Um é subtraído do Um, resta o zero e o enigma ou o furo do significante. O Outro emerge como S1, mas sob esse S1, arrasta o traço desse primeiro encontro fundamentalmente traumático. Esse traço é uma defesa inarticulável contra esse real. Como resultado, todas as categorias clínicas que encontramos, qualquer que seja o nome que lhes demos, são apenas defesas contra o real. E a relação com o Outro é marcada por isso abaixo do S1, letra, traço, marca… “Podemos formular, então – porque é assim que se passa na experiência analítica, ou pelo menos é assim que chegamos a conceituar essa experiência –, que entre a articulação significante, o saber, tal como o apresentamos há pouco, e o investimento libidinal existe um hiato, existe uma falha, uma ruptura de causalidade.” 25
O S1 se articulará ou não com um S2, produzindo um segundo tempo de gozo, fazendo emergir todo o aparato das formações do inconsciente, dos sintomas, dos delírios, o que fez Lacan dizer em seu ultimíssimo ensino, que em relação a esse gozo Uno, em relação à não relação sexual, tudo é semblante, tudo é delírio em relação a esse real.
Uma análise levada a termo é uma análise que remonta à cadeia significante até trazer à tona a relação do sujeito com o S1, a fim de identificar, no desnudamento do ser que o sujeito finalmente experimenta, a inexistência do Outro, isto é, S de A maiúsculo barrado. “O significante não tem um efeito de mortificação sobre o corpo […], mas que o essencial é que o significante é causa de gozo […]; que o significante tem, fundamentalmente, uma incidência de gozo sobre o corpo. É o que Lacan chama de sintoma.” 26
Esse percurso pela cadeia significante nos levará ao cerne pulsante da questão, o objeto a, na medida em que ele cria um laço íntimo com o Outro, ao mesmo tempo em que nos separa radicalmente dele. Pois o objeto a, se está localizado no Outro, só o é por ser uma produção de nós mesmos. Ele permite, em sua articulação fantasmática, fazer-nos acreditar no encontro, que está longe de ser desprovido de interesse. Porque o encontro só se dá acreditando nele sem se deixar enganar por ele.
O fim da análise, como propõe JAM em O inconsciente e o corpo falante, não é, portanto, a mortificação do gozo pelo simbólico, mas a identificação de que o próprio significante é fonte de gozo, de que a própria fala é gozo, há o sentido gozado e um gozo a mais abaixo da barra, na voz, no próprio corpo que fala, não é a voz, não é sem a voz, é o corpo na voz. É assim que podemos nos treinar para sinalizar seu traço na análise. Isso nos será magnificamente revelado com a vociferação, por JAM em seu curso, que ele toma emprestado de Lacan. O fim da análise não é, portanto, o fim do sentido, do fantasma, do gozo, não, é a identificação lógica desse saber constante, de saber como fazer [savoir y faire] com o real, isto é, esse encontro inicial de um corpo substância com o gozo incrível do encontro com o significante, do qual decorre então um duplo movimento: iteração lógica desse gozo e identificação metonímica nas produções que se seguirão, e que são redutíveis na análise por meio do significante. “Há, aqui, algo a pensar teoricamente. Há a pensar a atração da libido pela articulação significante. Há a pensar o significante mais a libido, isto é, o investimento libidinal do significante, e também a separação do significante e da libido, o significante menos a libido, o que Freud denomina de desinvestimento.” 27
Assim, nesta versão do “e” do significante, e efeito de sentido e gozo, o sujeito é barrado devido à mortificação do gozo, não do simbólico, e ele recupera uma parte do gozo através do objeto a, é a fórmula do fantasma, mas o falasser [parlêtre] é o gozo do corpo ligado ao significante como sua consequência. Passamos [Nous passons], assim que incluímos o corpo na equação analítica, de um menos para um mais. O sujeito S barrado é marcado com um menos [moins] pelo simbólico, pela operação de castração, da qual o objeto a é o produto que permite negá-lo, massacrá-lo, no gozo substitutivo que ele oferece, mas o falasser [parlêtre] é marcado com um mais [plus] na medida em que o corpo vivo está vivo com o gozo do significante tomado na fala. Lacan traz o corpo vivo para a psicanálise e, ao mesmo tempo, o gozo da fala: o falasser [parlêtre] goza falando. A simbolização não apenas cancela o gozo, ela também o mantém.
Assim, obtemos um novo “e”, o sujeito barrado, resultado de uma mortificação do gozo pelo significante e o falasser [parlêtre], um corpo vivo gozando de si mesmo. De um lado, a falta-a-ser, e do outro, o sujeito mais [plus] o corpo. No passe, esse duplo movimento implica não acreditar demais na história que contamos a nós mesmos, já que os testemunhos são tantas ficções que dão conta apenas da parte narrativa da cadeia significante. É claro que, ao secá-la, purificá-la, cada AE a reduziu a um nome, a uma letra, a um núcleo [trognon]; é “um discurso onde os semblantes obstringem um real, um real no qual se crer sem a ele aderir”. 28 Os nomes tornam-se pontos de referência que nos permitem ler a lógica do testemunho para que nos levem para além [au-delà], onde, tendo perdido seu brilho, sem mais farol, sem mais sentido, no limiar da inexistência do Outro, vislumbramos a solidão radical daquele que testemunha. A solidão nos ensina sobre o desprendimento [désarrimage] da cadeia significante, onde o Outro, tesouro de significantes, visa sempre nos oferecer um, um a mais vindo tapar [boucher] esse primeiro S1 com sentido, formando o par S1-S2. Há uma concatenação da cadeia significante na análise, trazendo-a de volta a esse ponto onde o deslizamento metonímico, onde a metáfora não mais opera. Surge então o Outro como S(A barrado), o corpo como oferta não para ser tomado na definição do sentido, mas na parte mais opaca do gozo do sintoma.
Aqui, novamente, não se deixar fascinar demais, vislumbrar não é se fixar ali, ninguém almeja vagar pelos horizontes desabitados do ser. Recordo a frase de JAM que orienta esta conferência: “Quando o nomeiam AE, Analista da Escola, é por considerar que, doravante, você está em condições de prosseguir sozinho seu trabalho de analisante. E nada além disso.”29 Então, aqui estás, analista-analisante. É que, neste momento, não se pode mais ignorá-lo, engajar-se no procedimento do passe, querer testemunhar, primeiro aos passadores, depois, no pedestal [escabeau] do passe, é confrontar-se com a experiência do acontecimento do dizer, dizer através do testemunho. “Fazer do seu sintoma um escabelo, não é precisamente o de que se trata no passe?”30 No passe, no testemunho público, há um acontecimento de dizer, um corpo que fala. É assim que Jacques-Alain Miller propõe esse momento do testemunho como uma demonstração que poderíamos chamar de de-monstração [dé-monstration], ou algo que se mostra no vazio, no vazio daquilo que a fala não pode dar, mas que o dizer, na medida em que inclui o corpo, permite que ele seja transmitido, ou não. Nenhuma garantia nos testemunhos, apenas um acontecimento, para carregar uma palavra que pode ou não ser um acontecimento. “Resta ainda ao falasser analisado demonstrar seu saber-fazer com o real, seu saber fazer com ele um objeto de arte, seu saber de dizer, seu saber bem dizê-lo“31 e acrescenta: “um dizer é um modo da fala que se distingue de fazer acontecimento” 32.
Por que os ditos, os significantes, morderam profundamente nosso corpo, deixando uma marca indelével, por que este e não outro? Poderíamos considerar que todos esses ditos, essas frases, o próprio fantasma, são apenas retículas do primeiro ponto, Um do primeiro encontro de um corpo gozando com o significante. Isso introduz um duplo registro de gozo, o gozo Uno, e o gozo como traço iterativo desse encontro para sempre singular para todos. Este ponto não pode ser dito, ele é visado, cercado. Os testemunhos são ficções, os nomes de semblantes. E, no entanto, há efeitos. Efeitos no corpo de quem fala, efeitos no corpo de quem escuta. Nem todos os testemunhos têm os mesmos efeitos em todos, nem todos os Analistas da Escola da Causa Freudiana testemunham os mesmos efeitos. Esses efeitos corporais [en-corps] tentam expressar, não o real impossível, mas a singularidade de cada pessoa que se apoia, não na razão da demonstração, mas na ressonância sempre presente que o encontro com um analista nos permitiu ouvir. Assim, o acontecimento do dizer é ouvido ao longo da análise, dessa transferência que, da brecha aberta no sentido, faz sua substância e captura o corpo para além [au-delà] da fala. O testemunho do AE torna-se então, na própria fala que é tomada, ressonância do dizer que fez acontecimento, e acontecimento do próprio dizer.
Hoje, nos deteremos nesse “e”, finito e infinito, atravessado pelo fantasma e seu para-além [au-delà], e hoje, no sujeito e no falasser [parlêtre], isto é, na falta-a-ser e no corpo. Assim, o analista-analisante é aquele que permanece desperto desse corpo vivo que escapa à definição do sentido, fazendo desse sinthoma o cerne [point d’appui] do desejo do analista, isto é: conduzir cada um que o procura a se colocar nesse caminho da fala da análise, até a pedra, a pedra no meio do caminho e que testemunha a parte mais singular de si mesmo.
A formação do analista é levar sua análise até o fim, isto é, o atravessamento do fantasma e a identificação desse gozo que itera, irredutível. Esse novo ver-isso [ça-voir] traz então à tona a dimensão de buscar sozinho não a decifração do próprio inconsciente, mas o saber-fazer aí [savoir y faire] com esse ponto de real inicialmente encontrado, sempre traumático, mas do qual cada ser falante produziu seu saber-fazer-aí [savoir y faire] singular. É a partir desse saber-fazer-aí [savoir y faire] que o desejo do analista, também sempre singular, pode então ser identificado e articulado.
Notas:
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LACAN, J. (2003[1967]) “Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola”. In: Outros Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 2003[1998], p.243.
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Ibid., p.249
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Ibid., p.249
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FREUD, S. (1937). Análise terminável e interminável, Companhia das Letras, 2018, p. 275.
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MILLER, J-A. (2008). “Como alguém se torna psicanalista na orla do século XXI?”. In: Opção Lacaniana, n.55, 2009, p.16.
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MILLER, J-A. (1998). O osso de uma análise, Zahar, 2015, p. 28.
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Ibid., p.26
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MILLER, J-A. (2008). “Como alguém se torna psicanalista na orla do século XXI?”. In: Opção Lacaniana, n.55, 2009, p.18.
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LACAN, J. “Joyce, o sintoma”. In: Outros Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 2003[1998], p.561.
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MILLER, J-A. (1998). O osso de uma análise, ZAHAR, 2015, p.91.
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Ibid., p.91
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LACAN, J. “Joyce, o sintoma”. In: Outros Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 2003[1998], p.566.
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MILLER J.-A. (1995) “Come iniziano le analisi”. In: La Cause freudienne. Paris: Navarin/Seuil, n° 29, février, 1995, p.13.
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MILLER, J-A. (2008). “Como alguém se torna psicanalista na orla do século XXI?”. In: Opção Lacaniana, n.55, 2009, p.18.
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MILLER, J-A. (1998). O osso de uma análise, Zahar, 2015, p.34.
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LACAN, J. “Prefácio à edição inglesa do Seminário 11”. In: Outros Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 2003[1998], p.567.
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MILLER, J-A. (2014) “O inconsciente e o corpo falante”. In: O osso de uma análise, Zahar, 2015, p.118.
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Ibid., p. 36
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Ibid., p. 34
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MILLER, J-A. (2008). “Como alguém se torna psicanalista na orla do século XXI?”. In: Opção Lacaniana, n.55, 2009, p.18.
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MILLER, J-A. (1998). O osso de uma análise, Zahar, 2015, p.19.
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Ibid., p. 38
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Ibid., p. 52
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Ibid., p. 53
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Ibid., p. 56
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Ibid., p. 67
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Ibid., p. 59
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MILLER, J-A. (2014) “O inconsciente e o corpo falante”. In: O osso de uma análise, Zahar, 2015, p.135.
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MILLER, J-A. (2008). “Como alguém se torna psicanalista na orla do século XXI?”. In: Opção Lacaniana, n.55, 2009, p.16.
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MILLER, J-A. (2014) “O inconsciente e o corpo falante”. In: O osso de uma análise, Zahar, 2015, p.131.
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Ibid., p. 131
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Ibid., p. 132