ATUALIDADES PSICANALÍTICAS
São contribuições de colegas do Campo Freudiano, inéditas em português, refletindo sobre questões candentes da contemporaneidade.
Os textos abordam os acontecimentos a partir da orientação lacaniana e recolhem as elaborações acerca do impacto na clínica, na cultura, na subjetividade.
São contribuições que buscam “alcançar, em seu horizonte, a subjetividade de sua época” (Lacan).
Boa leitura!
2021
Atualidades Psicanalíticas #035
A existência da Mulher
Por Keren Ben-Hagai
A feminilidade instigou Freud durante todo o desenvolvimento das teorias psicanalíticas, de modo a se referir a ela como um continente obscuro e até mesmo um enigma. Lacan avança na abordagem do feminino produzindo modificações na teoria, num prolongamento das descobertas freudianas. Keren Ben-Hagai trabalha em seu texto o ‘Wie es wird, wie sich das Weib’ de Freud destacando que a mulher vem à existência.
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Atualidades Psicanalíticas #034
O Dizer do Sexo
Por Rosa Elena Manzetti
A identificação ao sinthoma é uma das condições esperadas no final de uma análise. Mas também, é preciso “fazer-se um nome próprio” como resultado da desconstrução do nome comum vindo do Nome-do-Pai. O sujeito que advém dessa construção tem como referência seu gozo, que dá a esse nome próprio sua consistência. Rosa Elena Manzetti desenvolve seu texto a partir da afirmação de Lacan que “o neurótico é, no fundo, um Sem-Nome”.
Atualidades Psicanalíticas #033
O que chamamos de “Acontecimento de Corpo”?*
Por Daniel Roy
“Deixemos o sintoma no que ele é: um acontecimento de corpo, ligado a que: a gente o tem, a gente tem ares de, a gente areja a partir do a gente o tem. Isso pode até ser cantado, e Joyce não se priva de fazê-lo”, nos diz Lacan em seu texto “Joyce, o sintoma” publicado nos Outros Escritos. Daniel Roy, a partir do questionamento do motivo pelo qual Lacan nos pede para “deixar o sintoma no que ele é: um acontecimento de corpo”, faz uma excelente articulação que nos esclarece sobre a origem do sintoma em sua relação com a linguagem e o corpo do ser falante.
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Atualidades Psicanalíticas #032
As mulheres contam suas histórias
Por Marco Focchi
“O que quer a mulher?”, questionou-se Freud diante do enigma da sexualidade feminina. Marco Focchi faz neste texto um percurso sobre a mulher e seu desejo, partindo da experiência analítica de Freud no caso Dora à época vitoriana. Destaca ainda a presença de mulheres que utilizaram sua voz na literatura: “Hoje, temos um corpo significativo de literatura de mulheres que não apenas falam sobre sua sexualidade, mas que passaram por experiências radicais e nos contam sobre elas sem inibições”.
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Atualidades Psicanalíticas #031
O significante, a letra e o corpo: a mudança de perspectiva na histeria
Por Avi Rybnicki
“Como a psicanálise pode contribuir para compreender e lançar luz a algumas das situações enfrentadas pelos sujeitos no surto de Covid-19 e as disposições legais para isolamento e distanciamento social?” A psicanalista Marta Goldenberg se aprofunda no tema neste texto e conta com exemplos de sua experiência na prática analítica. “O que se espera da psicanálise por meio de seu instrumento – o psicanalista – é que ele possa contribuir para interpretar o que hoje é indizível e desconhecido”.
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Atualidades Psicanalíticas #030
Desafios para a Psicanálise em Tempos de Pandemia e Distanciamento
Por Marta Goldenberg
“Como a psicanálise pode contribuir para compreender e lançar luz a algumas das situações enfrentadas pelos sujeitos no surto de Covid-19 e as disposições legais para isolamento e distanciamento social?” A psicanalista Marta Goldenberg se aprofunda no tema neste texto e conta com exemplos de sua experiência na prática analítica. “O que se espera da psicanálise por meio de seu instrumento – o psicanalista – é que ele possa contribuir para interpretar o que hoje é indizível e desconhecido”.
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Atualidades Psicanalíticas #029
Urgência: Entre a Verdade e o Gozo
Por Ricardo Seldes
A urgência subjetiva é “uma modalidade temporal que corresponde ao advento de um traumatismo”, nos diz Miller. A urgência seria isso que impulsiona, não comporta demora, o que põe em movimento a demanda de um potencial analisante diante da emergência do que faz furo como traumatismo. Ricardo Seldes desenvolve seu texto a partir da questão de “como o analista-trauma intervém na urgência?”
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Atualidades Psicanalíticas #028
A Formação do Analista
Por Peggy Papada
Sigmund Freud, além de ter sido o inventor da psicanálise, inspirou a criação de um movimento psicanalítico internacional com o objetivo de formar analistas e expandir a regra da operação analítica mundo afora. A formação de um psicanalista, segundo Freud, tem seus famosos três pilares como base fundamental: análise pessoal, supervisão da prática e estudo da teoria. Para Lacan, “não há formação do analista; há apenas formações do inconsciente”. Neste Editorial da Edição nº 36 dos Psychoanalytical Notebooks, Peggy Papada nos convida a examinar o desejo de Lacan por uma Escola de psicanálise que seja é “o organismo em que deve realizar-se um trabalho”.
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Atualidades Psicanalíticas #027
De Nova York … Com Corpo ou Sem Corpo
Por Maria Cristina Aguirre
Em 1999, em conferências no Brasil, Miller diz não acreditar que a análise à distância seja possível, mas que “vale a pena refletir mais sobre isso”. Acrescenta ainda: “parece-me difícil eliminar o ‘estar presente’ de dois corpos […] por tudo o que esses corpos não fazem juntos. […] eles tornam presente uma interdição, uma separação, uma não-relação.” Diante da pandemia estamos vivendo intensamente a experiência do virtual, o que não será sem consequências. Neste texto, Maria Cristina Aguirre retoma, lá em 2016, a questão dos atendimentos de terapia digital, difundidos nos EUA, dando como exemplo o Talkspace.com – Terapia ilimitada por mensagens, terapia de preço acessível, confidencial e anônima com o toque de um botão.
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Atualidades Psicanalíticas #026
A interpretação como um Acontecimento vem da Posição Feminina
Por Keren Ben-Hagai
Keren Ben-Hagai desenvolve seu texto com base na posição do analista como aquele que “também deve pagar” – com suas palavras, sua pele, sua persona, seu ser. Há então subtrações e também limites para o significante: “Há uma área que permanece parcialmente abandonada pelas palavras”. A posição e o ato analíticos se engancham exatamente nesse ponto onde faltam palavras: no feminino e no sinthoma. Isso muda tudo no que diz respeito à interpretação analítica a partir do não-todo.
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Atualidades Psicanalíticas #025
O Laço Social no Mundo Hiperconectado
Por Marco Focchi
Em Lacan, o conceito de discurso está intimamente ligado à noção de laço social. Quatro são os discursos radicais: do mestre, da universidade, da histérica e do analista. Em uma conferência em Milão (1972) Lacan formaliza a estrutura de um quinto discurso, aquele do capitalismo – no qual o mundo está fundamentado. Neste texto, Marco Focchi teoriza sobre as mudanças de status que vêm ocorrendo nesse discurso que dialoga com a evolução tecnológica da Internet e das redes sociais e sua capacidade contagiante de influenciar o comportamento humano.
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Atualidades Psicanalíticas #024
A Civilização e seus Objetos a
Por Yaron Gilat
Em seu texto O mal-estar na civilização, Freud aponta que o homem deve abrir mão de sua satisfação – do seu prazer – em prol do coletivo e, para tal, tenta civilizar sua agressividade que escapa à civilidade. Os fatores que limitam a realização do prazer no homem são, segundo Freud: o poder da natureza, a fragilidade do humano frente a seu corpo e a insuficiência das normas que regulam os vínculos recíprocos entre os homens, em sua família, Estado e sociedade. A evolução da cultura estaria ligada à luta entre a vida e a morte, que representa, em Lacan, o real como impossível. Yaron Gilat se questiona, nesse texto, como o mundo sairá dessa pandemia, articulando as renúncias do homem civilizado ao objeto a lacaniano.
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Atualidades Psicanalíticas #023
O Real da Abstinência Analítica
Por Geert Hoornaert
A pandemia da COVID-19 nos impôs o isolamento, o distanciamento social, o afastamento de corpos falantes. Graças à evolução tecnológica da nossa época, temos a possibilidade de romper a barreira da solidão via conexão online em tempo real. Comunicação virtual. Presença virtual. Podemos, inclusive, nos encontrar com nossos analistas e analisandos para sessões online. Mas seria a sessão analítica possível sem a presença material dos corpos? Jacques-Alain Miller destacava em 1999 que “ver um ao outro e conversar não é uma sessão analítica.” É esse o tema levantado no texto de Geert Hoornaert que aponta “o analista em um lugar onde, para encarnar a Coisa, ele se afasta da comunicação simbólica.”
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Atualidades Psicanalíticas #022
Invenções vs. Certezas
Por François Ansermet
As questões de Gênero e Transexualidade vêm sendo intensamente debatidas no âmbito da psicanálise de orientação lacaniana (Campo Freudiano), há alguns anos, por várias frentes de trabalho – Observatório de Gênero, biopolítica e Transexualidade da FAPOL, textos na Lacan Quotidien, entrevista de Jacques-Alain Miller a Éric Marty sobre seu livro “Le sexe des modernes” e no mais novo lançamento do canal do YouTube Lacan Web Télévision. François Ansermet traz nessa entrevista muitos esclarecimentos acerca de temas relacionados à prática clínica envolvendo sujeitos transgêneros e identidade de gênero na sociedade da nossa época.
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Atualidades Psicanalíticas #021
Um Bom Analista
Por Bogdan Wolf
A contratransferência aparece, numa primeira conceituação de Lacan, como “a soma total dos preconceitos do analista”, sendo algo que o analista precisa se livrar para poder operar. Posteriormente, ele interpreta a contratransferência em seus eixos simbólico e imaginário, desenvolvendo o conceito do desejo do analista. No analisando, há o amor de transferência; no analista, o desejo do analista. Bogdan Wolf, em seu texto, destaca como a retomada de Freud por Lacan, também no que diz respeito à contratransferência, foi decisiva tanto para sua excomunhão da IPA quanto para a reinserção do objeto causa de desejo na prática da psicanálise.
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Atualidades Psicanalíticas #020
Amor em tempo de Isolamento
Por Alan Rowan
Falar do amor. Falar do novo no amor. Esse é o tema do nosso próximo Encontro Americano – X ENAPOL, quando teremos a oportunidade de compartilhar impressões sobre as modalidades contemporâneas dos laços. Neste texto, publicado na LRO há 1ano, quando apareciam os primeiros casos de Covid-19 no Brasil, Alan Rowan se questionava sobre os efeitos da pandemia/isolamento nos laços de amor: “essa árdua experiência de vulnerabilidade e de perda, em escala global, poderia se tornar uma base para um novo tipo de identificação com o outro?”.
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Atualidades Psicanalíticas #019
Responsável, Mas Não Culpado
Por Jérôme Lecaux
Jérôme Lecaux, em sua atividade preparatória para as Jornadas da ECF de 2020, põe em discussão um artigo polêmico do psicanalista Karl Abraham e seu delicado tema: a responsabilidade das vítimas de abuso sexual pelo que lhes acontece. Abraham esclarece: “De forma alguma se trata de culpar as vítimas de agressão sexual pelo que lhes acontece. Não é disso que se trata, mas do fato de que vários deles estão se condenando; eles se sentem culpados. Por quê?”
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Atualidades Psicanalíticas #018
Solidão Organizada
Por Gustavo Dessal
“Por que a repetição demoníaca se prolifera na pandemia, mostrando-nos mais uma vez a careta do totalitarismo?”, questiona-se Gustavo Dessal neste texto provocador. Discute o conceito de ‘solidão organizada’, termo forjado por Hannah Arendt, sendo “o solitário aquele que abre mão de sua faculdade de pensar e, em busca da segurança perdida […] está prestes a abraçar o mundo estável e coerente oferecido pela ideologia”. Entretanto, a psicanálise com sua dimensão do inconsciente oferece outra resposta possível.
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Atualidades Psicanalíticas #017
Dor e gozo
Por Keren Ben-Hagai
Obra-prima do artista italiano Gian Lorenzo Bernini, a escultura ‘Êxtase de Santa Teresa’ (1647-1652) esculpida seguindo as tendências do estilo barroco, encontra-se na igreja Santa Maria della Vittoria, em Roma. Podemos encontrá-la ainda ilustrando a capa do Seminário 20 – mais, ainda (1972-1973), seminário no qual Lacan fala do outro gozo: “Basta ir a Roma e olhar a estátua de Bernini para perceber imediatamente que ela goza, não há dúvida sobre isso.” Keren Ben-Hagai destaca a relação da dor, característica existencial do parlêtre, e o gozo feminino.
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Atualidades Psicanalíticas #016
O Tabu do Toque
Por Gil Caroz
A neurose obsessiva, descrita por Freud a partir de um de seus casos emblemáticos – O homem dos ratos, caracteriza-se clinicamente pelos seguintes sintomas: distúrbios do pensamento (ideias obsessivas) e atos compulsivos (rituais). A grande questão do neurótico obsessivo é como lidar com seus impulsos agressivos e, para isso, seu mecanismo de defesa é o isolamento – separação da representação da ideia de seu afeto pulsional. Gil Caroz destaca esse mecanismo e a condução de Freud via interpretação psicanalítica.
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Atualidades Psicanalíticas #015
Finnegans Wake: Um Sonho de Joyce – e seu Real *
Por Howard Rouse
O Seminário de Lacan dos anos 1975-1976, O Sinthoma, dedicado à Joyce, marca uma reviravolta em seu ensino – a partir da escrita do nó borromeano – impactando, assim, teoria e prática da psicanálise. Questões sobre a loucura, a heresia, a santidade e o final da análise, entre outras, são reformuladas. Neste texto, o psicanalista Howard Rouse mergulha, sob a perspectiva de Lacan, na obra mais enigmática de Joyce – seu sonho e seu real.
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Atualidades Psicanalíticas #014
Evaporação
Por Gustavo Dessal
Há um número crescente de pessoas desaparecidas pelo mundo. No Brasil em 2019 esse número ultrapassou 79 mil. São múltiplas suas causas, podendo ser de modo voluntário (fuga do lar por violência ou abuso), involuntário (acidentes, desastres naturais) ou forçado (sequestros, perseguição). Mas há nesse grupo “uma outra versão: as pessoas ‘evaporadas’”, nos diz Gustavo Dessal. Pessoas que optam por ‘desaparecer’ e abandonar suas vidas, empregos, casas e famílias. E existem empresas especializadas nisso.
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Atualidades Psicanalíticas #013
Ódio nas Bolhas
Por José R. Ubieto
Nos últimos anos temos nos deparado com a proliferação do discurso de ódio irrompendo como fenômeno mundial, principalmente na política. As redes sociais e seus filtros-bolha facilitam a aproximação e o agrupamento de pessoas, e proporcionam a formação de comunidades que têm o ódio como ponto de atração. O psicanalista José Ubieto nos traz algumas pistas psicanalíticas dessa dinâmica contemporânea que se difunde com tanta facilidade tal como o vírus.
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Atualidades Psicanalíticas #012
O Lugar do Segredo
Marie-Hélène Brousse
Na abertura da temporada 2021 das Atualidades Psicanalíticas, a CLIPP traz o texto de Marie-Hélène Brousse, “Psicanálise e Tecnologia”, proferido na Bienal de Tecnologia Italiana em Turim, 2020. Sua proposta é discutir os efeitos da tecnologia nos seres humanos na contemporaneidade – o capitalismo do consumo de massa, os algoritmos de controle via mercado de objetos que influenciam as escolhas universalizantes dos sujeitos – contrapondo-se ao único discurso que não é de dominação, o discurso analítico. A psicanálise é uma prática onde “ouvimos nossos analisandos”, nos diz Brousse. E o saber extraído dessa experiência é uma conquista que se deve apenas ao sujeito em sua “irredutível singularidade” onde Um segredo é seu núcleo central.
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2020
Atualidades Psicanalíticas #011
A ‘Fadiga do Zoom’ – Uma Nova Forma De Cansaço
por José R. Ubieto
O isolamento nos trouxe uma forma nova e paradoxal de fadiga: a fadiga das vídeo-chamadas. Paradoxal porque, apesar de agora os corpos não circularem pelos corredores do metrô, pelas ruas lotadas ou nos engarrafamentos sem fim, eles terminam o dia, contudo, mais exaustos do que antes.
9 DE DEZEMBRO DE 2020
—Atualidades Psicanalíticas #010
Intervir
por Virginie Leblanc
Dizer algo sobre sua prática, avançar com o significante psicanalítico é se expor ao florilégio do discurso atual destacado acima. O real do século, o real do mal-estar da civilização – aquele que Freud se esforçava para mostrar – ainda ressoa na psique individual, mas de uma maneira profundamente diferente.
Podemos todos estar à altura – ao invés de ceder ao modo dominante de discurso – e também responder a isso, sabendo que tal questionamento vai além de Freud – e os dois períodos do ensino de Lacan, até o limite onde uma psicanálise-para-além-do-semblante parece correr o risco de seu próprio desaparecimento?
9 DE DEZEMBRO DE 2020
—Atualidades Psicanalíticas #009
Dizer o indizível
por Hélène Bonnaud
Em uma análise, o sujeito vem para falar sobre o que não funciona, o que o incomoda, o torna obcecado ou angustiado. Algo do seu gozo é opaco para ele. Uma vez que o Sujeito Suposto Saber está instalado, surge um fenômeno na análise: a fala se modifica. Não está mais aberta aos quatro ventos, nem a todo significado e convoca uma nova maneira de se dirigir ao Outro: “a sessão analítica é um espaço em que o significante mantém sua dignidade” [1] nos diz Jacques-Alain Miller. Dizer o indizível só é possível nessa condição.
9 DE DEZEMBRO DE 2020
—Atualidades Psicanalíticas #008
Interpretando a Corrida Presidencial dos EUA como um Sintoma
por Jorge Assef
Em 26 de setembro de 1960, foi realizado o primeiro debate presidencial televisionado da história dos Estados Unidos. Os presidenciáveis eram John F. Kennedy e Richard Nixon. Pela primeira vez na história, os candidatos da maior potência mundial adaptaram sua linguagem aos códigos da televisão para 70 milhões de telespectadores.
A vantagem foi amplamente obtida por um jovem de 43 anos, que havia ensaiado durante dias com consultores especializados em imagem televisiva, tomado banho de sol pela manhã e dormido uma hora antes de ir para o estúdio de TV, vestido com um terno escolhido para se destacar da cenografia do set e da maquiagem que realçava seu rosto de ator de cinema.
9 DE DEZEMBRO DE 2020
—Atualidades Psicanalíticas #007
Memórias de sexo
por Philippe Hellebois
Se Deus existe, ele certamente inventou o sexo para nos atormentar. Mas, o feitiço virou contra o feiticeiro e ele foi o primeiro a ser incomodado: Zeus não fez nada além de lançar um feitiço nos adoráveis mortais, e depois dele, Cristo escolheu ser contemplado por toda a eternidade em um traje muito duvidoso. Sua sexualidade agora está demonstrada, embora ele claramente preferisse evitar a cópula. Lembremo-nos destas palavras de Lacan em Mais, ainda: “Em tudo o que se seguiu aos efeitos do cristianismo, sobretudo na arte […] tudo é exibição do corpo evocando gozo […] mas sem cópula.” (1) E não é por nada, ele especifica, mas porque está fora do lugar, feita apenas de fantasias. Em nenhuma outra religião, essa exclusão do ato sexual foi admitida de maneira tão aberta; a arte que inspira o cristianismo é, portanto, obscena e até perversa, uma vez que o pai está em jogo.
9 DE DEZEMBRO DE 2020
—Atualidades Psicanalíticas #006
As Mãos de Freud*
por Paula Hochman
Existe o real do vírus, um elemento que é ao mesmo tempo perigoso e abstrato, sua natureza é algo desconhecido, intraduzível. Mas reconhecer isso é já ter começado a superar essa abstração. Dar um nome às coisas as organiza em uma forma reconhecível, um mundo palpável em que o sujeito é capaz de fazer cálculos.
9 DE DEZEMBRO DE 2020
—Atualidades Psicanalíticas #005
O Navio e o Cisne
por Gustavo Dessal
Freud estudou os três grandes motivos que causam mal-estar nos seres humanos: a ação da natureza, o seu próprio corpo e o relacionamento com os outros. Hoje é urgente atualizar o primeiro, porque a noção de natureza mudou substancialmente.
A natureza, como reino da vida material que vai desde a partícula subatômica mais elementar até as galáxias mais distantes, não é mais uma totalidade da qual fazemos parte, mas se tornou algo que não existe sem nós porque estamos imersos nela.
9 DE DEZEMBRO DE 2020
—Atualidades Psicanalíticas #004
Mistério e o Canto dos Pássaros
por Anne Edan
“O que é esse vírus, Theo?”
Theo: “É um vírus que faz as crianças irem embora.”
Estas são as palavras de uma criança de três anos e meio que pergunta: “Por que não há crianças na escola?” durante os dias após a emissão da ordem de se proteger em casa.
Theo não disse que o vírus adoece os adultos, nem que assusta os pais e os professores. A criança estava fazendo uma observação subjetiva de sua experiência; desde a chegada do vírus, não havia mais crianças na escola. Theo concluiu que todos haviam voado [they had all taken flight].
9 DE DEZEMBRO DE 2020
—Atualidades Psicanalíticas #003
É fácil ver a segregação em outras culturas e não na sua própria.
por Jorge Assef
“Os Estados Unidos estão pegando fogo”, essa foi uma das manchetes das notícias nesses dias, em diferentes lugares do mundo, para descrever a magnitude e o significado histórico da explosão social que ocorreu após o assassinato de George Floyd na cidade de Minneapolis. O afro-americano foi sufocado por um policial que comprimiu seu pescoço com o joelho por mais de oito minutos.
O trágico acontecimento trouxe para o debate o racismo que ainda existe na América do Norte no século XXI e que é reproduzido em outras sociedades em todo o mundo.
9 DE DEZEMBRO DE 2020
—Atualidades Psicanalíticas #002
Tristeza COVID – O Novo Sofrimento
Por José Ramón Ubieto
Já se passou quase um ano desde que tudo começou. Vivenciamos estranheza, medo e angústia, raiva, amor, solidariedade e pesar. Agora, no início do outono – e sem a luz do verão – a tristeza surge com toda força. Seus sinais são claros: silêncio entre amigos, sem o alvoroço de grupos de WhatsApp ou encontros presenciais; esgotamento e insatisfação com atividades criativas ou profissionais; problemas de sono; inquietação no corpo; e uma sensação íntima de perda de sentido em muitas das coisas que fazemos, não tendo mais um objetivo ou perspectiva claros.
9 DE DEZEMBRO DE 2020
—Atualidades Psicanalíticas #001
Significantes Importam
por Thomas Svolos
Em nosso mundo, o mundo da psicanálise lacaniana, às vezes falamos do declínio do poder ou impacto da ordem simbólica como uma característica marcante de nossa época e ao corolário aumento da importância do imaginário e do real. Essa concepção faz ressoar outras – as observações de Lyotard sobre o declínio das narrativas globalizantes ou o declínio da universalidade (em nome da particularidade ou mesmo da singularidade, como a descrição de Jameson sobre a pós-modernidade, por exemplo); ou a ideia de um declínio do poder dos ideais no âmbito político ou social (substituída por uma sociedade da “decadência”, segundo a análise de Ross Douthat, do lado oposto do espectro ideológico).