Gate Keepers by Shira Barzilay
Marizilda Paulino (CLIPP/EBP/AMP)
Perpétua Medrado Gonçalves (CLIPP/EBP)
Tomamos como ponto de partida uma pergunta: por que as apresentações de pacientes seriam um dispositivo adequado para o sujeito psicótico? Essa pergunta surge do título do texto de Claude Léger, “Elogio de la apresentación de enfermos. Um dispositivo adequado”.
As apresentações de pacientes que Lacan fez no Hospital Sainte-Anne em 1976 subverteram o dispositivo médico ao colocar o paciente no lugar de sujeito, e não mais apresentado como um objeto de investigação e de saber médico. Lacan coloca-se na posição de não-saber a priori sobre o paciente, e estimula que o paciente fale e ouça o que ele tem de dizer. Essa entrevista conduzida por um analista é assistida por uma plateia silente em um primeiro momento. Depois de terminada a entrevista, e de o paciente sair da sala, são discutidos os diversos aspectos da apresentação, hipóteses diagnósticas e direção do tratamento, entre outros, possibilitando um entrecruzamento entre a psiquiatria e a psicanálise.
Para Jacques-Alain Miller, na abertura do Conciliábulo de Angers (1999), “a apresentação de pacientes é um dispositivo adequado para o sujeito psicótico testemunhar as transformações por ele sofridas e a elaboração que ele esboça”.
Podemos dizer que o dispositivo de apresentação de pacientes traz à luz o cruzamento da psicanálise em intensão e extensão, entre o saber exposto e o saber suposto, fazendo com que tanto o entrevistador como aqueles que assistem, a partir da posição de analisante, se deixem ensinar.
Nas palavras de Jésus Santiago, “a apresentação de pacientes é o valor de encontro particular que acontece tanto para o paciente quanto para o entrevistador e para assistência em uma única entrevista, cujo alcance é dado pela modulação temporal do que é preciso falar. A pressão de saber que isso só acontecerá uma vez reforça dizer o que não é dito, não haverá outra vez.
Esta situação favorece que algo novo surja com o paciente: ou seja, a emergência de um efeito de verdade, que pode produzir alguma mudança na condução do caso, na concepção do sujeito em relação ao seu delírio, ou, até, na revelação de um segredo que não foi dito. Este algo novo possibilita importantes efeitos no tratamento, como o esclarecimento do diagnóstico, (mesmo não sendo uma entrevista diagnóstica) ou, ainda, a posição subjetiva na relação com o gozo, ajuda a definir o essencial da direção do tratamento.”
Temos, portanto, a evidência de que a apresentação de pacientes promove um verdadeiro encontro analítico, o encontro com um analista.
Estamos falando de um paciente psicótico e, por isso, não poderíamos deixar de aprofundar o estudo sobre a psicose.
UM POUCO DA HISTÓRIA SOBRE O NÚCLEO DE APRESENTAÇÃO DE PACIENTES E PSICOSE DA CLIPP
A CLIPP é herdeira da Seção de Psicanálise Pura na divisão dos três Institutos em São Paulo, trazendo na sua fundação a Seção Clínica, lugar onde se pratica a Apresentação de pacientes dentro de um Instituto de ensino de psicanálise de Orientação Lacaniana.
Inicialmente as apresentações de pacientes foram realizadas no Hospital Nossa Senhora de Fátima, graças à parceria com Andrés Santos Jr, diretor clínico deste hospital até 2004. A atividade de apresentação de pacientes desde a perspectiva psicanalítica, visando a interlocução entre a psicanálise e a psiquiatria continuou até 2017 no Departamento de Psiquiatria do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo a convite do Dr. Andrés Santos Jr. As entrevistas eram realizadas uma vez por mês por Sandra Grostein.
O Núcleo de Pesquisa e Leitura sobre Apresentação de Pacientes e Psicose tem se dedicado a investigar o dispositivo de Apresentação de pacientes desde abril de 2011, a princípio sob a coordenação de Eliane Costa Dias e Perpétua Medrado. E desde 2017, está sob a coordenação de Marizilda Paulino e Perpétua Medrado. A partir deste ano ampliamos a pesquisa e o estudo sobre a psicose.
A proposta do Núcleo desde o início é aprofundar o estudo sobre a Apresentação de pacientes, seguindo o caminho trilhado por Lacan. Neste ano de 2022, o Núcleo de Apresentação de Pacientes e Psicose retoma o estudo sobre a Apresentação de Pacientes. Teremos como eixo norteador as apresentações de pacientes feitas por Jacques Lacan em 1976 e por Jacques–Alain Miller em 1998. Nesta direção, o programa do Núcleo para o primeiro semestre tem como objetivo discutir a importância da Apresentação de Pacientes para a formação do psicanalista, além das questões diagnósticas e de tratamento.
Inscrições na atividade: psicanálise.clipp@gmail.com
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LÉGER, C. (1998) “Elogio de la apresentación de enfermos. Un dispositivo adecuado”, In: MILLER, J.A. (Org.) Buenos Aires: Paidós, 2005, p.29-35.
MILLER, J-A. “El conciliábulo de Angers” (Intervenção na Conversação)., “Elogio de la apresentación de enfermos. Un dispositivo adecuado” en Los inclasificables de la clínica psicoanalítica. Buenos Aires: Paidós, 1999, p.34.
SANTIAGO, J. “Sobre a eficácia clínica da Apresentação de Pacientes”. Inovações no ensino e na pesquisa em psicanálise aplicada. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2009, p.51.