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O ENSINO DE LACAN, O SABER, O SENTIDO, O GOZO E O REAL

 

La Muralla Roja by Ricardo Bofill

 

Leny Magalhães Mrech (CLIPP/EBP/AMP)

 

Neste semestre, o Núcleo de Pesquisa de Psicanálise e Educação (NUPPE) da CLIPP irá trabalhar o Seminário XX, Mais Ainda, de Jacques Lacan, abordando os temas: o ensino de Lacan, o saber, o sentido, o gozo e o real.

Em Meu Ensino Lacan assinala: não prevejo nada do futuro que se refira ao meu ensino, isto é, a psicanálise. Não se sabe o que a psicanálise se tornará. (2006, p.11). A Psicanálise aparece aqui em um lugar estratégico: o de ensino. E Lacan revela que não sabe no que ela se tornará.

Um pouco abaixo do texto ele especifica: (…) trata-se, para mim, de colocá-los no curso de uma coisa que está engajada, que está em vias, alguma coisa de não-finda (…) (2006, p.11).

Essa coisa “não-finda” que Lacan remete a Psicanálise e o seu ensino pode-se dizer que se encontra no inconsciente real. Em Prefácio à edição inglesa do Seminário XI ele revela que: Quando o esp de um laps – ou seja, visto que só escrevo em francês, o espaço de um lapso – já não tem nenhum impacto de sentido (ou interpretação), só então temos certeza de estar no inconsciente. (Lacan, 2003, p. 571).

O ensino da Psicanálise e a própria Psicanálise aponta para algo de não-findo. Algo que escapa do sentido, da significação. Algo da ordem do real.

Em A Alocução sobre o ensino Lacan destaca que, em um Congresso sobre o Ensino, do qual ele participava, havia algo a ser desgelado. (2003, p. 297) Mas o quê? Ele explicita: Que algo seja para vocês, ao nos exprimirmos assim, um ensino não significa que com ele vocês tenham aprendido alguma coisa, que dele resulte um saber. (2003, p. 297).

A ideia tradicional, revela Lacan, é que o ensino e a transmissão de saber estão juntos. Mas será? A resposta é a seguinte: (…) pode ser que o ensino seja feito para estabelecer uma barreira ao saber. (2003, p. 303).

Lacan alerta ainda que o saber é uma coisa mais disseminada do que o ensino. A relação entre ensino e saber é uma relação bastante complicada e não evidente, como se costuma pensar.

No saber há o gozo. E Lacan aprofunda: A realidade é abordada com aparelhos do gozo. (…) aparelho, não há outro senão a linguagem. É assim que, no ser falante, o gozo é aparelhado. (Lacan, 1982, p. 75).

Pensar em saber e gozo especifica ainda mais o cuidado a ter no ensino da Psicanálise. O saber pode se enroscar nos aparelhos de gozo, assim como os meandros do saber podem gerar barreiras ao saber. No Ensino da Psicanálise as resistências podem aparecer a qualquer momento.

Ficar na via do sentido e da significação pode remeter a uma luta entre diferentes sentidos e significações. Quando Lacan aponta a importância do Ensino da Psicanálise é para que se trabalhe via enigma, fora de sentido, sem-sentido. Via real.

Isso não quer dizer que não se possa utilizar o sentido e a significação. O inconsciente transferencial ou simbólico está também sempre presente. Há uma multiplicidade de saberes. A questão é como o falasser pode construir a sua via de ensino em relação à Psicanálise. Que ele possa se ensinar através dela transformando o ensino da Psicanálise em uma coisa viva para ele. E não uma coisa morta e solidificada.

 

Inscrições na atividade: psicanálise.clipp@gmail.com

 

Referências Bibliográficas

Lacan, Jacques – Meu Ensino. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2006.

___________ Alocução sobre o ensino In Outros Escritos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor,

2003.

___________ Prefácio à edição inglesa do Seminário XI In Outros Escritos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor,

2003.

___________ Seminário XX – Mais, Ainda. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1982.