Carmen Silvia Cervelatti
Um dia, em meio a colegas da CLIPP, surgiu o desejo de promover uma atividade de ensino que se dedicasse aos aforismos, esquemas, grafos, sonhos e casos clínicos trabalhados por Lacan no decorrer de seu ensino. Principalmente evoco aqui os matemas – capazes de transmitir a psicanálise integralmente, como quis Lacan ao localizar neles a vocação da psicanálise –, uma transmissão mediante a escrita, que convoca, induz produção: na psicanálise sempre é necessário colocar algo de si.
Eis uma primeira ressonância a assinalar, é o que Lacan propôs na abertura de seus Escritos. À frase de Buffon “o estilo é o próprio homem” ele substituiu o “homem” da frase pelo objeto causa do desejo. Entre saber e verdade o sujeito, eclipsado pelo objeto, faz emergir, convoca uma resposta a algo que venha a funcionar como enigma: O que é isso? Que queres? #qqueisso?
Por acaso não é isso que Freud, no final de sua obra em “Análise terminável e interminável”, ao discutir a transferência negativa no final de análise e a possibilidade de despertar novos conflitos que não surgiram no decorrer da análise, tira toda a esperança de que se produza algum efeito a partir unicamente de um conhecimento, morto – a prevenção é sem remédio. Equipara também à transmissão de esclarecimentos sexuais à criança. Ele diz que, aproximadamente, ocorre o mesmo com a leitura de textos de psicanálise. “O leitor é ‘movido’ apenas naquelas passagens em que se sente atingido, que dizem respeito aos conflitos nele atu antes no momento. Tudo o mais o deixa indiferente” (1). Não se desperta os cães que dormem! Só há ressonância pelo vivo do ensino de Lacan. Não é à toa que Lacan descobriu Freud! Foi esse o contexto em que Lacan soube fazer renascer a obra de Freud das cinzas que a psicanálise da época a havia condenado ao extinguir a pulsão de morte e o fator quantitativo, ou seja, o gozo.
Passaram-se anos, aquele desejo ressoou pelos cantos e conversas na CLIPP. Assim, convidaremos colegas da Associação Mundial de Psicanálise e do Campo freudiano para trazer sua leitura, uma fala que gire em torno à questão subjacente ao aforismo proposto para articular os esquemas, grafos, sonhos e casos clínicos trabalhados por Lacan, sempre à luz de seu último ensino.
Serão reuniões mensais, preferencialmente às quintas-feiras das 20h30 às 22h30. Aqueles que se sentirem atingidos, como disse Freud, pelo #qqueisso? serão vivamente bem-vindos! Eu e Niraldo de Oliveira Santos, meu entusiasmado parceiro, esperamos por vocês.
Aguardem a divulgação detalhada!