Rosangela Carboni Castro Turim
Associada fundadora da CLIPP
Diretora Secretária e Tesoureira – CLIPP
Convidada por Analicea Calmon da Seção Bahia, Sandra Grostein (AME/AE da EBP/AMP) apresenta um brilhante trabalho abordando «Reflexões sobre a realidade virtual na experiência analítica».
Tendo como referência o texto de Lacan «Da psicanálise e suas relações com a realidade» (Outros Escritos, p.350), usa como ponto de partida sua afirmação «a psicanálise é a realidade». Explorando ainda outros trechos como «o que nos garante que o que fazemos como analistas se mantém no campo da psicanálise enquanto freudiana, que tem como fundamento a associação livre?», traz como exemplo a consequência da realidade na psicanálise, com o conceito de “eu autônomo”. O nazismo na Europa fez com que alguns psicanalistas migrassem para os Estados Unidos e, no contexto do American way of life, trouxeram uma mudança na própria psicanálise.
Neste ponto, Sandra adverte quanto ao risco que a Psicanálise corre de se adaptar a uma realidade, e problematiza: a realidade não pode ser questionada por si mesma, não é passível de interpretação; a psicanálise não é uma visão de mundo. Em que medida poderíamos dizer que o que estamos fazendo hoje é uma tentativa de adaptação? Estamos advertidos do risco de buscar um meio adaptativo que poderia impactar a psicanálise propriamente dita?
Algumas questões importantes são levantadas sobre o atual da nossa clínica, com o uso da tecnologia nos atendimentos virtuais. Recorrendo a Freud, a respeito do princípio da realidade e do princípio do prazer, Sandra diz que o princípio da realidade produz uma modificação no princípio do prazer. Não se trata simplesmente de uma mudança de técnica ou de prática, mas de modificações impostas pela realidade da pandemia e do confinamento.
Trata-se de uma crítica? O que nos autoriza, enquanto psicanalistas e praticantes da psicanálise a atender dessa forma? Quais efeitos e quais elementos nos autorizam? Estaríamos simplesmente adaptando nossa clínica a essa realidade? Como fica o ato analítico quando estabelecemos que no campo da realidade o corpo sai de cena? Sandra continua: ao priorizar a fala com o uso da tecnologia, ao valorizar a fala desvitalizando o corpo, cria-se uma barreira ao saber, um saber sobre o gozo. Estas e outras questões desenvolvem-se ao longo deste vídeo e ajudam a refletir sobre as alternativas que temos neste momento para manter nossa clínica e a psicanálise vivas.