Editorial #9
EDITORIAL #09 | 26 de agosto de 2021 – www.clipp.org.br
HADES #9
EDITORIAL
M. Bernadette S. de S. Pitteri (CLIPP/ EBP/AMP )
A CLIPP completa 18 anos e, às vésperas da Assembleia que vai eleger diferentes funções para o próximo biênio, o HADES#9 vem à luz mais uma vez. Nascido em tempos de pandemia, percorre este período especialmente delicado para a humanidade, que corre o risco de derrota diante de algo invisível a olho nu. Mas a CLIPP continua sua missão, na valorização e difusão da psicanálise.
O “Curso de Psicanálise” teve sua abertura realizada pela convidada internacional, Nieves Soria (EOL/AMP), colega psicanalista argentina que nos brindou com a palestra “Novas Histerias, Anjos do Capitalismo”. Iniciando pelo paradigma paterno característico do chamado “primeiro ensino” de Lacan, Nieves passa pela afirmação de que “A Mulher não existe”, dizendo que “o sujeito histérico se localiza no ponto preciso da inexistência da mulher”. Qual o lugar do analista nesta nova configuração sintomática?
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CONVIDADA INTERNACIONAL
NOVAS HISTERIAS , ANJOS DO CAPITALISMO (*)
Nieves Soria (EOL/AMP)
O paradigma paterno.
A inexistência da relação sexual é consequência da perda do instinto, articulada à incidência da linguagem no parlêtre (falasser). Diferente das linguagens animais, feitas de signos, somos atravessados por uma linguagem de significantes. Significantes soltos (livres), que se encadeiam pelo efeito de uma operação de nomeação, de enodamento, que constitui o eu, o corpo e a realidade. Para que ocorra esta operação, torna-se necessária a função de um significante que se distinga do resto como um todo, fazendo um conjunto. Assim é que, na moldura de uma ordem simbólica, realiza-se a operação do espelho.
Na ordem simbólica que se instaura no Ocidente desde a cultura greco-romana até a judaico-cristã, destaca-se um significante que funciona em regime de exceção, localizando um furo, um vazio e possibilitando o encadeamento dos significantes. O Nome do Pai é o que opera, então, uma ordem que possibilita assumir simbolicamente o corpo recebido. É um paradigma que tem como referência a natureza, é uma simbolização da natureza, e nisso pode-se considerar uma suplência do instinto; Lacan refere-se a isso em múltiplas oportunidades, desde o começo de seu ensino 1.
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ATUALIDADE PSICANALÍTICA
TRANSIDENTIDADE: QUE IDENTIDADE?
Dalila Arpin (ECF/AMP)
Na atual polêmica sobre as “disforias de gênero”, uma questão sempre surge: a urgência do diagnóstico precoce. Os defensores dos procedimentos médicos de transição advogam a importância de diagnosticar a disforia aos primeiros sinais de inadequação, e chegam a dizer que o atraso no tratamento poderia levar a suicídios. Como podemos acompanhar, da melhor forma possível, essas crianças que não se reconhecem em seu corpo anatômico, “sem ceder à pressão de uma resposta que se pretende inequívoca e generalizada” (1)? Levar suas palavras a sério significa, necessariamente, impor a uma criança ou a um jovem um tratamento médico e uma categoria ou, até mesmo, uma identidade específica?
Jean-Claude Maleval (2) destaca o fato de que, ao mesmo tempo que a disforia de gênero (introduzida em 2013 pelo DSM 5) não é considerada como patológica, ela está sujeita a tratamentos médicos.
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ENSINO
ESCOLHAS, INVENÇÕES, TRANS-FORMAÇÕES: SOLUÇÕES PARA O REAL DO SEXO
Blanca Musachi (EBP/AMP) e Niraldo de Oliveira Santos (CLIPP/EBP/AMP)
A queda do falocentrismo diz menos sobre o falo do que sobre o lugar central. Lacan soube ler que o véu se deslocou e que um real se manifestou, não sem angústias; isto implica em dizer que o lugar central é um lugar vazio, um furo, e que o falo é um semblante. A pluralização do Nome-do-Pai é um operador que vem dar conta dos efeitos que a queda dessa crença tem produzido na civilização.
Não se trata de dizer que as categorias neurose/psicose/perversão tenham caído, mas, certamente, perderam o lugar de referência uma vez que tomamos o rumo do ‘além do Édipo’. O que interessa hoje é o que, com Ansermet1, podemos chamar de uma clínica das invenções, das soluções para o real do sexo.
Assistimos a uma época do empuxo ao trans? Ou trans é um dos nomes que circulam no outro social para satisfazer uma demanda de identificação? Pode servir a alguns sujeitos para nomear algo do seu gozo?
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RESSONÂNCIAS
ECOS DA HISTERIA
Débora Garcia (CLIPP)
A série turca “8 em Istambul” nos leva com sensibilidade e dureza às trilhas inventadas por cada sujeito para lidar com uma sociedade marcada e dividida pelo extremismo em relação à mulher, ao feminino, ao amor, ao desejo, ao sexual e às diferenças. É também um belo retrato sobre como o inconsciente encontra formas de se manifestar.
Trata-se de uma trama que envolve 8 pessoas com vidas diferentes que se encontram e têm seus caminhos afetados por esses encontros.
Duas personagens em especial ressoaram em mim algo do que aprendemos em Freud sobre a histeria. A personagem que é o ponto de partida da série: uma jovem que busca uma psicanalista por causa de seus desmaios e sua cunhada que apresenta uma profunda depressão. Ambas apresentam, cada uma ao seu modo, ou melhor, cada uma com seu sintoma, algo que não pode ser dito.
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ACONTECE
A CLIPP NA ERA DIGITAL
Cláudio Ivan Bezerra (CLIPP)
Fundada em 19 de agosto de 2003, a CLIPP tem com missão a oferta da experiência do ensino de Psicanálise através da sua grade de atividades, que vai do curso de psicanálise à formação continuada através de núcleos de pesquisas, seminários de leituras, conferências, publicações de artigos e a própria investigação teórica e clínica que marcam a tradição desde sua fundação.
Com sua forma intrínseca marcada pelo acolhimento, a CLIPP é reconhecida por reunir um coletivo de praticantes analistas em prol da causa analítica que constroem artesanalmente sua grade de conteúdo a partir do rigor à tradição psicanalítica, produção de conhecimento técnico e científico juntamente com as áreas de Saúde e Cultura. Cada encontro é um acontecimento único que tem como premissa ressoar seus efeitos.