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DELÍRIO, SIGNIFICANTE E SIGNIFICAÇÃO

Cinthia Marecelle: por via das dúvidas “@masp

Durval Mazzei (CLIPP/EBPSP)

(…)  No nível do significante, em seu caráter material, o delírio se distingue precisamente por esta forma especial de discordância com a linguagem comum que se chama um neologismo. No nível da significação, ele se distingue por isto:  ele só pode se mostrar se vocês partem da ideia de que significação remete sempre a uma outra significação, sabendo-se que, justamente, a significação dessas palavras não se esgota ao remeter a uma significação. (Lacan, J. O Seminário – Livro III As Psicoses. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., p. 43).

A leitura deste excerto do Seminário de Lacan permitiu uma viagem de ida e volta entre o clássico da primeira clínica e as consequências que Miller retira da última clínica de Lacan. A razão desta viagem é que um dos pilares da primeira clínica é a diferença notável entre significante e signo. A saber, um significante é o que representa um sujeito para outro significante; o signo representa algo para alguém.

A primeira formulação, se busca algo da ordem da significação esta, claramente, de saída, escorrega de modo a constituir um estado de coisas que cada significante como elemento do conjunto de significantes não remete a um significado em particular pois é o conjunto dos elementos da realidade que concernem ao conjunto de significantes e não é possível uma conjunção ponto a ponto à semelhança de átomos individuais apesar da existência dos dicionários onde essa utopia parece verdadeira.

A segunda formulação, que é referida ao signo, aposta que a significação está ali diante do olhar de um ser marcado pela aposta na objetividade como se a significação de uma palavra não se remetesse a uma outra significação e, portanto, nessa posição, haveria uma significação final que estacionasse todo o saber em um ponto absoluto. Constitui uma certeza irredutível.

Esta leitura sustentou a clínica estrutural onde a segunda formulação define o campo da psicose e a primeira o campo da neurose. O excerto comenta a restrição, no nível do significante, ao neologismo. Este, entretanto, se é discordante com a linguagem comum, vem ocupar o lugar de uma significação que não se remete a nenhuma outra assumindo de pleno direito o lugar de uma significação pura e absoluta. Como diz Miller (2015), a primeira clínica está vestida de estrutura e faz a distinção entre delirantes e não delirantes enquanto a última, despida, saca que, na impossibilidade de abandonar o imaginário da significação, todo mundo delira e mantem a certeza em algum recanto inegligenciável, para terminar com um neologismo.

REFERÊNCIA

Miller, J-A. Todo el mundo es loco. Paidós, Buenos Aires, 2015.