Editorial #1
EDITORIAL #1 | 08 de agosto de 2020 – www.clipp.org.br
Paula Christina Verlangieri Caio de Carvalho.
Caros leitores
É com prazer que a Clipp apresenta a nova edição do boletim Hades, convidando-os ao seu desbravamento.
O boletim Hades #1 traz como fio condutor a praxis psicanalítica no mundo pandêmico.
Rosângela Turim, em sua apresentação sobre as reflexões de Sandra Grostein, pontua algumas importantes questões que se aproximam muito da prática da psicanálise hoje. “O que nos autoriza, enquanto psicanalistas e praticantes da psicanálise, a atender desta forma?”, questiona Sandra a respeito das sessões virtuais. A fala de Sandra traz uma profícua problematização sobre o que fazemos na prática em tempos de pandemia.
Daniela de Camargo Barros Afonso faz uma instigante digressão sobre o desejo do analista em seu texto “Parasitas da solidão”. Após tecer comentários sobre a solidão em Freud e Lacan, afirma: “Se o parasita é aquele que se hospeda no interior de outro organismo do qual retira nutrientes necessários para sua sobrevivência, logo, podemos inferir que nos aproveitamos da solidão. Tiramos vantagem dela.” Por quê? Vale a pena ler.
Quase como um desdobramento dos textos anteriores, Avi Rybnicki em seu trabalho “O Mal-estar na civilização e a insustentável leveza do corpo ausente”, traz uma contribuição generosa para a clínica ao relatar sua própria invenção para os atendimentos não-presenciais: preferiu o telefone ao atendimento online porque assim poderia estar “mais perto do corpo e ouvir”. Traz, assim, sua invenção singular para dar sustentação ao desejo do analista.
Rodrigo Camargo, por sua vez, em seu texto “Da carta à letra”, faz uma articulação do inconsciente como sendo uma carta que cada um carrega singularmente consigo.
Outro ponto de destaque no boletim é a imperdível entrevista com o atual diretor-geral da EBP Sérgio de Castro. Ele faz articulações importantes sobre o termo “infamiliar” e sua presença no mundo contemporâneo.
Boa leitura para todos!
ENTREVISTA
Entrevista: Sério de Castro
CLIPP – “Das Unheimliche” foi traduzido como “O estranho”, “O inquietante”, “A inquietante estranheza”, “O inquietante familiar”, “O sinistro”, “O ominoso”, “O perturbador”, o que mostra o desafio presentificado por uma tradução, como Freud mesmo coloca em Os Chistes e sua relação com o inconsciente, fazendo uso da expressão “traduttore, traditore”.
A tradução de “Das Unheimliche” como o “Infamiliar” provocaria certa “estranheza” por ser um neologismo? Como justificar esta tradução para a nossa língua, como tentativa de recuperar o sentido dado por Freud, com um mínimo de traição?
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Rosangela Carboni Castro Turim
Associada fundadora da CLIPP
Diretora Secretária e Tesoureira – CLIPP
Convidada por Analicea Calmon da Seção Bahia, Sandra Grostein (AME/AE da EBP/AMP) apresenta um brilhante trabalho abordando «Reflexões sobre a realidade virtual na experiência analítica».
Tendo como referência o texto de Lacan «Da psicanálise e suas relações com a realidade» (Outros Escritos, p.350), usa como ponto de partida sua afirmação «a psicanálise é a realidade». Explorando ainda outros trechos como «o que nos garante que o que fazemos como analistas…
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CONTRIBUIÇÕES EPISTÊMICAS
Parasitas da solidão
Daniela de Camargo Barros Affonso
Freud considera a própria análise formação imprescindível para tornar-se analista. Para ele, toda e qualquer análise seria terapêutica, tanto para quem procura alívio ao seu sofrimento quanto para aquele que deseja ser analista. Daí a distinção entre analista, e analista didata, ser questionável. Para Lacan, toda análise levada ao seu término seria “didática”, na medida em que produziria um analista. O próprio processo analítico pode levar o sujeito a um ponto em que o analisante vira analista. Este ponto, o “passe”, seria o final da análise e é a condição do ato de tornar-se analista – o “ato psicanalítico” seria justamente aquele em que o analisante passa a analista. Aí se encontra o desejo do analista. Este não é sem importância para Lacan, que chega a dizer em “Do ‘Trieb’ de Freud e do desejo do analista” que “O desejo do analista é o que, em último termo, opera na psicanálise”.[1]
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PESQUISA
Da carta à letra
Rodrigo Camargo
O inconsciente é uma espécie de carta. Uma carta que chega ao seu destino. A experiência da análise serviria então de caixa postal deste envio. E o psicanalista seu “carteiro da verdade”. Falar nesses termos não nos pode ser estranho, na medida em que Lacan abre seus Escritos justamente com um texto sobre uma carta extraviada.
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ATUALIDADES PSCANALÍTICAS
O Mal-estar na Civilização e a Insustentável Leveza do Corpo Ausente
por Avi Rybnicki
Nas últimas semanas, na Escola, muito foi escrito, e por muitos, sobre o fenômeno misterioso desta epidemia, na tentativa de elaborar algo: os desafios que ela suscita para todos e cada um de nós, tanto em nossas vidas particulares quanto em nossa posição como analistas. Eu pensei que fosse especialmente incapaz de elaborar algo que pudesse conter algum pensamento, ideia ou enunciação coerentes. Por fim, deparei-me com um fenômeno que tocou meu corpo e me levou a agir. É sobre isso que gostaria de falar em poucas palavras.