Editorial #7
EDITORIAL #07 | 21 de junho de 2021 – www.clipp.org.br
Bernadette S. de S. Pitteri (EBP/ AMP)
HADES, na mitologia grega, é o guardião dos mortos. Por que os mortos, vagando como sombras que perderam caracteres humanos como sensações e sentimentos, precisariam de guardião? Para não voltarem à terra, e vagarem em sua errância, assombrando os vivos? Talvez tenhamos que invocar o HADES para nos livrar dos fantasmas – que aparentemente conseguiram fugir do HADES atravessando o Estige (rio dos horrores, rio do ódio) e o Lete (rio do esquecimento) – que nos assustam com sua insensibilidade abissal, frente ao horror vivido diante de uma pandemia global.
HADES, deus das profundezas, é possuidor das riquezas encerradas no interior do planeta. O boletim HADES da CLIPP também busca extrair as riquezas, as pedras preciosas produzidas por nossos associados, visando a formação psicanalítica de cada um e a do instituto enquanto tal.
Leny Mrech questiona a questão do ensino à distância, buscando uma medida, tendo em vista que esse tipo de educação não é novo. Será que o ensino feito atualmente preenche os requisitos desse processo, será que nossas crianças estão recebendo ensino à altura de suas necessidades?
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ATUALIDADES PSICANALÍTICAS
QUAL É A MEDIDA?
Leny Magalhães Mrech (EBP/AME)
Uma fala revela muito o que ocorre com uma criança, um ser falante e, algumas palavras de uma criança de 10 anos, permitem investigar o que tem acontecido com ela no chamado ensino à distância. Essa modalidade de ensino tem sido utilizada pela rede pública para crianças de variadas idades para substituir o ensino presencial em época de pandemia.
A educação à distância não é nova. Tradicionalmente, a sua utilização apresenta algumas especificidades. Considera-se importante na educação à distância que o aluno jamais se sinta sozinho ou desacompanhado, isso porque há sempre uma mescla entre o ensino virtual e o ensino presencial. Há momentos de encontro presencial e até mesmo virtual em que o aluno pode sanar as suas dúvidas. Com isso, o ensino não se apresenta apenas de forma virtual.
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PESQUISA
A PROPAGANDA E A MANIPULAÇÃO DAS MASSAS
Um recorte sobre a primeira parte do documentário “O século do Ego” – Máquinas da Felicidade, do cineasta Adam Curtis.
José Wilson Ramos Braga Jr. (CLIPP)
No início da pandemia, enquanto eu estava em numa fase de isolamento muito mais restritiva que nos dias de hoje, deparei-me com essa obra do cineasta britânico Adam Curtisintitulada, em inglês,The Century of the self – um documentário televisivo semanal lançado pela BBC em 2002. O tema principal girava em torno da questão de “como aqueles que estão no poder usaram as teorias de Freud na tentativa de controlar a perigosa multidão, em uma era de democracia de massa”.i Freud acabara de apresentar uma nova teoria sobre a natureza humana: forças sexuais primitivas e agressivas escondidas na mente humana que, se não fossem controladas, poderiam levar os indivíduos e a sociedade ao caos e à destruição. O mestre que se utilizou dessas ideias para manipular as massas e as apresentou às corporações e aos políticos americanos foi nada menos que o sobrinho de Freud, o americano-austríaco Edward Bernays. De maneira exemplar, a aliança entre o discurso do mestre e o discurso do capitalismo se estabelecem.
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PESQUISA
PSICANÁLISE AMERICANA & MANIPULAÇÃO DAS MASSAS
“É possível enganar algumas pessoas todo o tempo; é possível enganar todas as pessoas por algum tempo; o que não é possível é enganar todas as pessoas todo o tempo” (Abraham Lincoln)
Cláudio Ivan Bezerra (CLIPP)
O documentário produzido pela BBC The Century of Self, dirigido por Adam Curtis, narra no segundo capítulo:A Engenharia do Consentimento (The Engineering of Consent), uma parte da história recente na qual técnicas psicanalíticas fizeram parte da construção da Comunicação Social, em meados de 1940, por agências americanas de publicidade.
Em resposta ao Holocausto, autoridades americanas passaram a questionar se seria possível, através do uso das descobertas de Freud, manter o “controle de forças” ocultas humanas para proteger a nação, evitando assim seu enfraquecimento democrático e uma possível instalação de regimes ditatoriais, como comunismo, nazismo, fascismo, etc.
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RESSONÂNCIAS
“A GENTE TAVA BRINCANDO SENHOR!”
Maria Helena Barbosa (EBP /AMP)
Este tema ressoa em consonância com o artigo A gente tava brincando, senhor, de Daniela Affonso, relançado no feito por nós #4, que por sua vez também faz ressonância com o artigo Dócil ao trans, de Jacques-Alain Miller.
Daniela Affonso elabora como a veiculação massiva de imagens construídas e manipuladas pelas mídias “afetam subjetividades, estabelecem modos de gozo que se manifestam em atos de ódio e segregação, e respondem pelo mal-estar na civilização em que os indivíduos são consumidos por imagens”.
Texto apresentado no VII ENAPOL, O Império das Imagens, em 2015, é absolutamente atual no que diz respeito ao momento em que vivemos, onde virtual é o meio de acesso que se impôs ao laço social, para a intersubjetividade.
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RESSONÂNCIAS
TRATAR A VIOLÊNCIA?
Maria Cristina Merlin Felizola (CLIPP)
Este tema me trouxe à lembrança um filme, que marcou muito minha geração: “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick (1971), baseado no livro de Anthony Burgess (1962). No enredo, jovens apresentam atitudes violentas e cruéis, sem contorno algum, e o tratamento proposto é uma terapia baseada na teoria behaviorista. Esta se mostrou tão violenta quanto o sintoma a ser extinto.
Como a psicanálise pensaria este tratamento? A violência é traduzível em palavras, é simbolizável ou simbolizada? Ou é sem fala, puro gozo no real? Como manter o vivo sem que seja mortífero?
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RESSONÂNCIAS
VIOLÊNCIA É SINTOMA?
Perpétua Medrado Gonçalves (CLIPP)
“[…] Acaso não sabemos que nos confins onde a fala se demite começa o âmbito da violência, e que ela já reina ali, mesmo sem que a provoquemos?” i
Agradeço pelo convite e pela oportunidade de escrever no Boletim HADES sobre questões tão complexas como são as manifestações de violência em nossos dias que, de tal forma generalizada, torna-se um fenômeno de civilização, com suas implicações sociais e subjetivas.
“É na perspectiva de uma política, mais precisamente de uma política do sintoma, que recolhemos estes três significantes (ódio, cólera, indignação) na tentativa de ler o mal-estar que vige impulsionado, sempre, pela incidência da pulsão de morte”.ii