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O MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO E A MALDIÇÃO DO SEXO

QUINTAS FREUDIANAS

O MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO E A MALDIÇÃO DO SEXO

18 de junho de 2009 – CLIPP

Carmen Silvia Cervelatti

            Este semestre, estamos trabalhando o Mal-estar na civilização – texto de Freud de 1929. Iniciamos com a palestra de Vladimir Safatle “Para além do mal-estar na civilização – sobre a obsolescência do paradigma repressão/recalque na psicanálise”, na qual ele explicitou a existência de uma teoria alternativa da mente no interior da obra freudiana, a verleugnung (recusa ou desmentido) além da verdrangung (recalque), dois modos de lidar com a castração, característicos da perversão e da neurose. Depois recebemos Maria Cristina Ocariz que trabalhou o tema “Culpa e responsabilidade no mal-estar na cultura no século XXI”, enfatizando que hoje em dia o mal-estar está relacionado ao imperativo de gozo, diferentemente da época de Freud, que o associava à renúncia pulsional, tendo no superego a instância que representa o funcionamento civilizatório, desde seus primórdios – esta a razão de Totem e Tabú, a ordem primeva da constituição dos grupos e das famílias.
Hoje vamos, tendo a sexualidade como tônica, poder retomar alguns dos pontos já trabalhados nas reuniões anteriores.
Iniciei os debates com Cristina trazendo uma questão a partir de uma afirmação de Lacan em “Televisão”. Já que dizemos ser esta a época  em que o Outro não existe, poderíamos pensar que o recalque não reinaria mais nesta cultura porque os ideais já não servem mais de sustentáculo para a identificação. Então, Lacan falou em 1973 na Televisão:
“Mesmo que as recordações da repressão familiar não fossem verdadeiras, seria preciso inventá-las, e não se deixa de fazê-lo. O mito é isso, a tentativa de dar forma épica ao que se opera da estrutura.” Darei  continuidade ainda com Lacan neste mesmo texto e trecho: “O impasse sexual secreta as ficções que racionalizam o impossível de onde ele provém. Não digo que sejam imaginadas, leio aí, como Freud, o convite ao real que responde por isso.” 
Primeiro, é necessário trazer mais uma noção, Lacan lê, neste texto, que Freud em seu “Mal-estar” evoca uma “maldição sobre o sexo”, atestada pelo discurso analítico, e que de maneira alguma seria possível suspendê-la. O impasse sexual vem do impossível da relação sexual, isso “é de estrutura”, disse Miller no manuductio.
O impossível é um dos nomes do real, e o real convida, requer que ficções sejam inventadas para tentar recobrir o seu furo. As ficções são uma maneira de racionalizar, de dar uma forma, mesmo que épica, ao furo da não-relação sexual. Tais ficções não são imaginadas, enfatizou Lacan, ou seja, algo que é da ordem do simbólico. A ordem familiar traduz o Édipo, um mito, uma maneira de simbolizar algo deste real.
Tentemos acompanhar Lacan quando ele diz que seria preciso inventar as recordações da repressão familiar, e mais, quando ele afirma que sempre se inventa, mesmo que elas não sejam verdadeiras.  Ou seja, a repressão familiar é uma ficção construída, não imaginada, por cada sujeito para poder se situar frente ao desejo do Outro; é o falo, elemento central da constituição subjetiva e, consequentemente, da ordem familiar, que organiza o caos da subjetividade, por isso a necessidade de inventar as recordações da repressão familiar, para colocar um limite, uma barreira ao gozo autoerótico para estabelecer relações objetais, fazer laço social.
Freud já disse, em nosso texto de base, que o Pai é uma proteção diante do desamparo . Na neurose, por haver o Nome-do-Pai e a significação fálica, o fantasma constitui o campo da realidade, lhe dá uma fixidez, e oferece material para as ficções. O psicótico faz “ficções” no ar, fora do discurso, tecendo um delírio, porque o Nome-do-Pai está foracluído – o delírio é uma maneira de tentativa de tratar o desamparo frente a um gozo sem limite. Para as psicoses ordinárias, Miller propôs o “fazer-crer compensatório”, uma invenção bem particular. O perverso por desmentir a castração, cria um substituto para o pênis, o fetiche. Todas elas são invenções para tratar o real, já que o real secreta ficções, como disse Lacan. Entendo que aqui está implícita a noção de foraclusão generalizada, que todos deliramos, característica do ultimíssimo ensino de Lacan.
Ainda neste texto Lacan cita o exemplo dos jovens que ao se entregarem a relações sem repressão são acometidos pelos sentimentos de tédio e morosidade. Falta lembrança da repressão sexual, falta ficção, porém é efeito de quê? Este é um ponto que poderemos discutir ao final. Já adianto que somente o Outro situa o gozo sem direção.

A mal-dição do sexo

“Entre o homem e o amor
Há a mulher,
Entre o homem e a mulher
Há um mundo,
Entre o homem e o mundo
Há um muro.”
(Antoine Tudal em Paris en l’ane 2000)

            Esta poesia metaforiza a condição humana, talvez por isso Lacan a tenha citado em dois de seus textos, “Função e Campo da Fala e da Linguagem em Psicanálise” e “O Saber do Psicanalista”. Nela percebemos que entre dois termos, que supostamente se complementariam, entra um terceiro, fazendo barreira.
Isto vem a calhar com a impossibilidade apontada por Lacan em Televisão, a impossibilidade de um saber no real sobre a relação entre os sexos caracteriza a condição humana. Os animais, diferentemente dos homens, por serem seres instintivos, sabem o que devem fazer frente ao outro sexo. O instinto é um saber já inscrito no organismo, fazendo da cópula uma invariável porque há um padrão determinado pela espécie. Variações somente são observadas nos animais domesticados, que mimetizam o homem, e em machos de algumas espécies que mudam de sexo quando faltam fêmeas suficientes para a preservação do grupo.
Nos seres falantes não há este saber a priori, aprende-se, mas não se sabe bem o que fazer quando estão frente a frente, não se sabe “naturalmente” o que complementa os sexos, qual a devida proporção entre os sexos. Se imaginarmos um casal de jovens que cresceram sem nenhum contato com a cultura, como o mito do Bom selvagem de Jean-Jacques Rousseau; eles supostamente poderiam aprender quase tudo, poderiam descobrir o mundo e o que fazer com suas próprias necessidades, só não saberiam o que fazer quando formassem um casal. Seres de desejo, desejo este que subverte a necessidade, somos sujeitos divididos pela intrusão da linguagem no organismo; porém, nem o simbólico nem mesmo o imaginário, recobrem o todo do falasser, uma parte fica exposta, fora da possibilidade de ganhar sentido, fora do simbólico, instalando no cerne do sujeito um fracasso, algo que rateia, por mais explicações, fantasias e ficções que se possa erigir para tentar remediá-la, para encontrar a justa medida que responderia à eterna pergunta: o que o Outro quer de mim? Como ser feliz?
Esta última questão acompanha Freud em todo “O mal-estar na civilização” [1929], ele postula que a renúncia à satisfação é o preço pago pelo homem para entrar na cultura, há uma antítese entre a sexualidade e a civilização. No capítulo IV deste texto, ele escreve: “a descoberta feita pelo homem de que o amor sexual (genital) lhe proporcionava as mais intensas experiências de satisfação, fornecendo-lhe, na realidade, o protótipo de toda felicidade, deve ter-lhe sugerido que continuasse a buscar a satisfação da felicidade em sua vida seguindo o caminho das relações sexuais e que tornasse o erotismo genital o ponto central desta mesma vida”. A renúncia pulsional, o desvio dos objetivos sexuais ou a inibição da finalidade sexual da pulsão constitui a base do processo civilizatório. É claro que tal renúncia não se dá impunemente; para Freud, ela deve ser economicamente compensada para que não se traduza em distúrbios, pois a pulsão sempre busca a satisfação, é seu propósito e sua vocação. Uma das saídas se dá pela formação do sintoma, uma satisfação substitutiva, um modo de obter satisfação frente à defasagem instalada pela inserção do ser na linguagem, ou frente à castração, como diria Freud.
Quando Lacan fala em “maldição sobre o sexo”, implica não uma promessa de bem-estar e sim a impossibilidade de “bem-dizer” sobre o sexo. Sugiro a escrita “mal-dição” para incluir aí a linguagem, desde que para erigir-se como ser falante, ou falasser, renuncia-se à possibilidade de dois fazer um, renuncia-se à satisfação autoerótica, instalando uma impossibilidade lógica, de haver um saber fazer com o Outro sexo por não haver um parceiro sexual “natural” para a espécie humana. Do encontro, sempre traumático, com o real do sexo resultam sintomas e dificuldades no laço social, prova do mal-estar na civilização. A civilização exige sacrifícios, um deles é o da satisfação sexual, razão da formação dos sintomas. É o que encontramos nas palavras de Freud:
“O trabalho psicanalítico nos mostrou que as frustrações da vida sexual são precisamente aquelas que as pessoas conhecidas como neuróticas não podem tolerar. O neurótico cria, em seus sintomas, satisfações substitutivas para si, e estas ou lhe causam sofrimento em si próprias, ou se lhe tornam fontes de sofrimento pela criação de dificuldades em seus relacionamentos com o meio ambiente e a sociedade a que pertence.” (p. 129)
“No descaminho de nosso gozo só há o Outro para situá-lo, mas é na medida em que dele estamos separados”. (Televisão, p. 58). Com a entrada na civilização, com a entrada do Outro da linguagem, produz-se no gozo do vivente uma perda (-φ). Esta perda é ocasionada pela operação que na psicanálise chamamos de castração que se inscreve como significação da castração.
Essa precariedade instalada pelo Outro em nosso modo de gozo, faz com que, desde esta perda, o gozo “só se situa a partir do mais-de-gozar” (Lacan, p. 58), esta é uma maneira de recuperar algo desta perda, patente pelo advento da linguagem, da perda da satisfação.
A inscrição do Outro no gozo primordial instala o (-φ) e o objeto a é uma maneira de recuperá-lo. Há uma terceira formulação de Lacan, o falo simbólico (ϕ), que oferece uma orientação simbólica aos modos de gozo. O falo localiza, orienta o gozo, antes caótico, desorganizado, dá um contorno ao caos inicial; para Lacan, trata-se de uma função, operada através da castração que permite ao sujeito organizar simbolicamente o gozo e encontrar satisfação a partir do Outro. O falo torna-se um instrumento com o qual se pode lidar com a falta de um parceiro natural.
Para os dois sexos, lá onde falta um saber sobre o sexo, no inconsciente, inscreve-se a função fálica. O falo é então o referente comum para os sexos, masculino e feminino, porém cada um deles sustentará e exercerá esta função de maneira diferente. Não se trata de papéis imaginários, nem de conceitos ou comportamentos esperados para o homem ou para a mulher. A virilidade orienta o comportamento do homem, por sua subjetividade estar praticamente toda recoberta por esta função, a fálica, o que permite tomá-los como um conjunto; o mesmo não é válido para a mulher, parte de sua subjetividade fica fora deste referente, conserva-se fora desta lógica, impedindo a universalização do feminino. Por esta razão, Lacan fala que a mulher, não-toda submetida à significação fálica, somente pode buscar no homem o seu falo. O homem, “aquele que se vê macho sem saber o que fazer disto” (Lacan, Seminário 20), aborda a mulher através do objeto causa do desejo; às vezes um pequeno detalhe no corpo da mulher pode funcionar como condição para o homem se apaixonar. Estas são as maneiras do homem e da mulher buscarem recuperar a perda de gozo, pois o sexo biológico por si mesmo não indica o parceiro a nenhum dos indivíduos da espécie humana, e mais, não é isto que faz com que dois sujeitos se tornem parceiros.

O real, o sintoma e a parceria
“O sintoma não é ainda verdadeiramente o real. É a manifestação do real em nosso nível de seres vivos. Como seres vivos, somos ordenados, mordidos pelo sintoma. Somos doentes, é tudo”. (Lacan, “O triunfo da religião”, p.76) – uma entrevista coletiva realizada em Roma em 29 de outubro de 1974. Ele continua com algo que esclarece de uma vez por todas a maldição do sexo:
“Este real (o verdadeiro) é justamente aquele que nos falta por inteiro. Estamos completamente separados dele. Por quê? […] Nunca chegaremos ao cabo da relação entre esses falasseres que sexuamos como macho e esses falasseres que sexuamos como mulher. Aí, perdem-se totalmente as estribeiras. É inclusive o que especifica o que chamamos de ser humano. Neste ponto, não há nenhuma chance de que isso um dia dê certo, isto é, que tenhamos sua fórmula, uma coisa que se inscreva cientificamente (que se pode ter acesso com pequenas fórmulas). Daí o pulular dos sintomas, porque tudo se prende a isso. É nisso que Freud tinha razão ao falar do que chama de sexualidade. Digamos que, para o falasser, a sexualidade é sem esperança.”  (p.77)
O sintoma, desde Freud, é uma forma de satisfação, um modo de recuperar o gozo perdido, de responder a “não-relação sexual”; porém o sintoma também se constitui num envoltório formal, apresenta-se de uma forma e possui um sentido inconsciente, por esta razão ele torna-se decifrável pela interpretação psicanalítica. Esta segunda parte, por articular-se como uma linguagem, depende do Outro, envolvendo assim a dimensão da civilização ou da cultura. Busca-se recuperar algo perdido, o objeto primordial, para sempre perdido, isto através do Outro. Este é o fundamento que, ao aliar as dimensões do gozo, da satisfação pulsional, e do Outro da linguagem, faz do sintoma o sustentáculo do saber-fazer frente ao mal-estar da cultura, irremediável, e da existência de cada um no mundo.
Para a psicanálise lacaniana, quando se estabelece uma parceria, ela é sempre sintomática, pois o sintoma, além de obstáculo, é mediação, é o melhor a ser feito. Neste sentido, a tentativa de bem-dizer o sexo seria estabelecer uma parceria com o Outro sexo, cada um poder seduzir o parceiro a partir de sua particularidade e da diferença das posição feminina e masculina.

O mal-estar na civilização atual

A civilização viabiliza sintomas. Na outra face do sintoma, o sintoma enquanto obstáculo e sofrimento, existe uma infinidade deles que conservam uma proximidade com a época em que se vive. Os manuais de classificação das doenças, mais atualmente o DSM-IV e o CID-10, baseiam-se, inclusive, em estudos sobre a maior incidência de alguns sintomas na sociedade capitalista, ou nas sociedades industrializadas; é o que acontece na anorexia e na bulimia, para citar um dos exemplos. Um aumento considerável destes sintomas, especialmente em sociedades onde não há rituais de passagem para a vida madura.
Lipovetsky, em Le crépuscule du devoir (1992), escreve:
“Desde a metade de nosso século, uma nova regulação social dos valores morais se configurou, e ela não se sustenta mais sobre o que constituía o móvel mais importante do ciclo anterior: o culto ao dever. […] O ‘É preciso’ cedeu lugar à encantação da felicidade; a obrigação categórica, à estimulação dos sentidos; o interdito irrefutável, às regulações à la carte.”
O conceito de civilização em Freud estava conectado às características vitorianas: uma sociedade que proibia falar, totalmente apoiada na repressão sexual, tendo no pai simbólico o fundamento da interdição e da instalação da castração, restringia e normalizava o acesso ao gozo, através do falo – o agente superegóico. No seminário El Outro que no existe y sus comités de ética, Jacques-Alain Miller, comenta esta passagem:
“Se acreditou que uma sociedade permissiva, no lugar da repressiva, acabaria com a repressão no sentido psicanalítico. No entanto, a experiência histórica passada permite a Lacan sustentar que isso não ocorre desta maneira, que é a repressão enquanto tal que engendra a coerção social e que é em vão esperar de uma sociedade permissiva o desaparecimento da repressão.” (309)
Para Freud, o recalque não provém da repressão e sim o contrário (o recalque é originário), por isso a sociedade e a família foram criadas a partir do recalque primário. Esta articulação foi desenvolvida por Lacan em “Televisão” a partir da pergunta de Miller sobre o rumor existente de que “se gozamos tão mal é porque há repressão do sexo e a culpa é, primeiro, da família e, segundo, da sociedade e particularmente do capitalismo”; donde recupero algumas de suas afirmações. Para Freud: “A gulodice com a qual ele denota o supereu é estrutural, não efeito da civilização, mas ‘mal-estar (sintoma) na civilização'” (o empuxo ao gozo é o sintoma de nossa época -; e aquela citada no início: “Mesmo que as recordações da repressão familiar não fossem verdadeiras, seria preciso inventá-las, e não se deixa de fazê-lo.” Se transplantarmos estas afirmações para o século XXI, a época da globalização, da sociedade líquida, conforme propõe o sociólogo Zygmunt Bauman, estas afirmações de Lacan, ainda se sustentam?
A gulodice do supereu é uma constante. A oferta frenética dos objetos fabricados pela ciência e pelo capitalismo incita ao consumo na medida em que viabiliza a compra, uma maneira de distribuir o gozo; adquirir, consumir sempre mais, compulsivamente, traduz a gulodice do supereu por seu viés imperativo: goza! Vemos assim uma transposição, do supereu freudiano (o proibido, o dever e a culpabilidade), onde incidia sobre o pai uma função repressora e sublimatória, para o supereu lacaniano, que o além do Édipo se traduz num imperativo de gozo, o que não deixa de ser uma leitura do supereu freudiano, especialmente a partir de “Totem e tabú” – o acesso ao gozo se daria com o assassinato do pai primevo – outro mito proposto por Freud.
Atualmente prevalece a identificação imaginária à simbólica, o direito e o empuxo ao novo, a imersão nos semblantes (aparências) a despeito da referência paterna, um declínio dos ideais e da autoridade, que angustiaram tanto a juventude das gerações passadas. A busca da estabilidade familiar, financeira, nas relações interpessoais e de trabalho, hoje é substituída por errância e desorientação, não há mais uma referência para sustentar o desejo. A busca desenfreada do objeto, caracterizada pelo objeto de consumo, que traz uma satisfação imediata, torna-se generalizada e sem limite.
Mais ainda, é perceptível um movimento mais global da civilização, um hedonismo de massa, reino do acesso ao gozo a mais para todos, objetos prontos a serem consumidos.
Se pudéssemos falar de uma grande neurose contemporânea, segundo Miller, ela teria como principal determinação a inexistência do Outro, condenando o sujeito a sair à caça do mais-de-gozar. Proliferam-se sintomas como a toxicomania, a bulimia, a obesidade mórbida, a compulsão ao jogo, ao sexo, à Internet, às compras, às academias de ginástica, etc – puro exercício do automático da pulsão, compulsão que tem como determinante um real excluído do simbólico, ou seja, sintomas que não se endereçam ao Outro, modos de gozar que dispensam o Outro, num circuito autoerótico.
O psicanalista deve estar atento ao movimento civilizatório e sua prática interligada à época em que ele está inserido. A psicanálise não pode estar à mercê da nostalgia dos bons costumes e da orientação que o pai simbólico oferecia, nem visar à retificação do mal-estar atual através do bem-estar, oferecendo soluções prontas. Os sintomas atuais são legíveis para a psicanálise, o psicanalista acolhe estes sintomas, inéditos ou não na civilização, para que a angústia dos sujeitos possa  ancorar-se em algum saber, muito mais num saber-fazer a partir da particularidade do sintoma de cada um. Esta é mais uma das parcerias possíveis, além da parceria entre os sexos, uma maneira de incluir o Outro pelo amor de transferência.

LACAN, J. Televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993, p. 55.

FREUD, S. “O mal-estar na civilização”. Rio de Janeiro: Imago Ed., vol XXI, p. 90.