João Paulo Desconci (CLIPP)
De uma reportagem sobre um cardume anormal que passava pela Barra, no Rio, Adriana Calcanhotto produziu o single Ogunté (uma das imagens de Iemanjá). Aquela que no encontro das águas com as pedras, indomável feiticeira, representa o mar do gozo feminino diante da encosta da castração, ressoa Lituraterra. Freud que nomeou o enigma do feminino como um “continente negro” em seu artigo A questão da análise leiga, afirmou que essa ideia não evoca apenas o negro da noite, pois também alude à África, que em relação à Europa ocupava um lugar de diferença. Quando o pescador entrevistado chama aquilo de “obra de arte de Deus”, Adriana emerge denunciando a ação destrutiva do descarte e da segregação. No clipe, a superfície marítima é uma imensa saia de saco de lixo revelando-se por debaixo e Ogunté, à deriva e mergulhada em mistério, nos pergunta: “o que será que cantam suas sereias/baleias?”.
https://www.youtube.com/watch?v=N4aQ3sjX2Oo