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Psicanálise e Arte: uma conversa sobre o estatuto da psicanálise na contemporaneidade

Mariana Bacigalupo Martins

O diálogo com a artista plástica, Ana Luiza Dias Batista, na Seção SP (05/09/2012), ajuda a pensar a clínica da Psicanálise nos tempos em que o objeto a seria a bússola da civilização comandando o mais-de-gozar e de como seria extrair o objeto a na clínica de hoje, ou “revogar seu desconhecimento”1, perante essa lógica atual.

Ao ouvi-la dizer não se preocupar com o olhar de seus espectadores, surgiu a questão sobre o que se veicula na sua arte. Em um cenário comum, o seu objeto de arte pode se misturar à paisagem e se perder em uma série de objetos. Seria essa a intenção da artista? Destacar seu objeto de arte em um cenário qualquer onde ele pode ser confundido com o fundo que o aloja e interrogar se ele ainda pode se sustentar como arte?

Ana diz estar sempre cheia de intenções quando realiza seu trabalho, mas que “não costuma se fazer essa pergunta assim, com essa objetividade”. Poderia até fazê-la, mas segundo sua visão, este não é seu objetivo. Se o resultado “vai ser arte ou não”, ela diz “nunca saber” a priori, “porque ele é contingente”, além de concordar que seu “trabalho pode se perder na paisagem”.

A Psicanálise praticada nos tempos em que impera o objeto a comandando o mais de gozar pode também não se sustentar como Psicanálise correndo o risco de se perder entre outros objetos da cultura, ou ser incorporada ao cenário da ciência onde o discurso do mestre “se ativa em mentir e progredir”2. Se há sucesso na Psicanálise, ele é contingente, não um objetivo, tal qual no trabalho da artista. Talvez, pudéssemos comparar e dizer que se há “obra” no caso do artista e do psicanalista, foi porque ambos se mantiveram cheios de intenções, mas como escreve Miller, “suficientemente longe na realização de seu desejo para reintegrá-lo à sua causa”1. O autor destaca ainda que frente a dominância do mais de gozar contemporâneo, a transferência com psicanálise é uma possibilidade de se fazer “uma mediação entre os um-sozinho”2, desde que não se ame o verdadeiro, “mais que o belo ou o bom”2.

Referência Bibliográfica
1-MILLER, Jacques-Alain. Os objetos a na experiência analítica. In: Opção Lacaniana, no. 46, Outubro de 2006, p.30-34
2-MILLER, Jacques-Alain. Uma fantasia. In: Opção Lacaniana, nº 42, Fevereiro de 2005, p.7-18.