Conferência de Vladimir Safatle
Professor dos Departamentos de Filosofia e Psicologia da USP
Sob a coordenação de Niraldo de Oliveira Santos, a conferência de Vladimir Safatle – Contingência e gênero: uma releitura do caso Dora, marcou a abertura das atividades da CLIPP e o início do Curso de Psicanálise que neste semestre é dedicado à unidade: O caso Dora e a novas histerias. O que é uma mulher?
Safatle nos lança uma questão central: Ainda é necessário conservar a histeria como uma categoria clínica? Por que não abandonamos de vez a histeria?
Percorrendo as leituras freudiana e lacaniana sobre o caso Dora, o autor localiza o modo de gozo de Dora na insistência no gozo oral, como uma forma de permanecer na posição de “filha de um pai” e recusar a posição de “mulher de um homem”. Afirma que a marca particular que distingue essa estrutura reside na incapacidade do Pai de dissociar desejo e morte, desejo sexual e gozo. Desta forma, o corpo, substância gozante, com zonas erógenas e circuitos pulsionais parciais, não se submete totalmente ao primado do falo, ao limite fálico ao gozo.
Sustenta a hipótese de que a identificação de gênero pode ser uma forma de nomeação, de organização da experiência sempre contingente de um encontro amoroso. A histeria caracteriza-se pelo sofrimento inerente à assunção de uma identidade de gênero e à diferenciação sexual. Um sofrimento em que não se trata apenas de recusar a identidade de gênero socialmente imposta e normativa, mas da impossibilidade de organizar a experiência de gênero, de articular a identidade de gênero e a contingência do gozo e do desejo.
Agradecemos a Vladimir Safatle pela parceria de trabalho sustentada nestes 10 anos e pelas inquietações levantadas a partir de suas elaborações, que certamente serão retomadas ao longo do trabalho deste semestre.
Eliane Costa Dias
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