O Seminário de Leitura dedica-se ao estudo do Seminário 4: a relação de objeto, onde Lacan trabalha a metáfora do pequeno Hans, ou seja, como ele conseguiu construir uma saída para a fobia. Também o Curso de Psicanálise se dedica a este caso clínico de Freud. Rodrigo Giovanetti frequenta as duas atividades e nos enviou este breve e interessante comentário.
PROBLEMATIZAÇÃO INICIAL SOBRE O MITO INDIVIDUAL DO NEURÓTICO
Rodrigo Manoel Giovanetti
Com orientação de Carmen Silvia Cervelatti
A reflexão sobre a clínica nos convida a pensar a atualidade de alguns operadores conceituais que norteiam a prática psicanalítica no contemporâneo, como o mito individual do neurótico – proposto por Lacan em 1952, para destacar a função do simbólico. Foi uma referência para a formalização, no seminário quatro – “A relação de objeto”, da estrutura do tratamento do “Pequeno Hans” conduzido por Freud.
Lacan propôs o mito individual do neurótico como a formulação discursiva de um roteiro fantasístico da relação inaugural do sujeito com pai e mãe, já que a “constelação do sujeito é formada na tradição familiar pelo relato de um certo número de traços que especificam a união dos pais” (p.19). No caso do pequeno Hans, as transformações do mito individual funcionaram como suplência para o sujeito diante da angústia e da fobia .
No entanto, consideramos, com a orientação de Miller , que o avanço da globalização remeteu-nos à perda da noção de lugar de referência simbólica e à banalização do sexual, ou seja, “à saída da época disciplinar (…) Há apenas percursos, arranjos e regimes de gozo” (p.11). As consequências para a clínica são a formalização de outras referências balizadoras para o que está fora do simbólico e atrelado aos excedentes não representáveis das fontes erógenas, que “já não se trata da palavra senão do gozo – o do gozo antes da palavra” (p.374), segundo Miller .
Podemos interrogar sobre as possibilidades de aproximarmos a leitura que Lacan fez da clínica freudiana, no seminário quatro, com a clínica contemporânea, ao tomarmos como referência o efeito de suplência advindo das transformações do mito individual e verificarmos seus efeitos para os processos de subjetivação do gozo excessivo e fora do simbólico.