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Editorial Hades #07

Bernadette S. de S. Pitteri (EBP/ AMP)

HADES, na mitologia grega, é o guardião dos mortos. Por que os mortos, vagando como sombras que perderam caracteres humanos como sensações e sentimentos, precisariam de guardião? Para não voltarem à terra, e vagarem em sua errância, assombrando os vivos? Talvez tenhamos que invocar o HADES para nos livrar dos fantasmas – que aparentemente conseguiram fugir do HADES atravessando o Estige (rio dos horrores, rio do ódio) e o Lete (rio do esquecimento) – que nos assustam com sua insensibilidade abissal, frente ao horror vivido diante de uma pandemia global.

HADES, deus das profundezas, é possuidor das riquezas encerradas no interior do planeta. O boletim HADES da CLIPP também busca extrair as riquezas, as pedras preciosas produzidas por nossos associados, visando a formação psicanalítica de cada um e a do instituto enquanto tal.

Leny Mrech questiona a questão do ensino à distância, buscando uma medida, tendo em vista que esse tipo de educação não é novo. Será que o ensino feito atualmente preenche os requisitos desse processo, será que nossas crianças estão recebendo ensino à altura de suas necessidades?

Nossos coeditores Wilson Braga Jr. e Cláudio Ivan garimparam num excelente documentário “O século do Ego – Máquinas da Felicidade”, do cineasta Adam Curtis, produzido pela BBC. Wilson polemiza em torno do tema dos poderosos que “usaram as teorias de Freud na tentativa de controlar a perigosa multidão, em uma era de democracia de massa”. As referidas teorias foram divulgadas pelo sobrinho de Freud, o americano-austríaco Edward Bernays. Cláudio Ivan discute o fato de parte da história recente utilizar técnicas psicanalíticas na construção da Comunicação Social (meados de 1940), por agências americanas de publicidade.

Em “Ressonâncias”, a questão a discutir foi sobre violência pensada em diferentes produções. Maria Helena Barbosa em, “A gente tava brincando senhor!”, trabalha um texto de Daniela Affonso em ressonância com o artigo “Dócil ao trans”, de Jacques-Alain Miller. Maria Cristina Felizola com “Tratar a violência?”, parte do extraordinário filme de Stanley Kubrick, “Laranja Mecânica” (1971), no qual jovens externam atitudes violentas e cruéis, sem contorno algum, sendo que o tratamento proposto, terapia baseada no behaviorismo, revelou-se tão violento quanto a violência dos jovens. Perpétua Medrado aborda em “Violência é sintoma?” a violência em nossos dias que, generalizada, torna-se um fenômeno de civilização, relacionada ao declínio das referências simbólicas, à fragilidade da função paterna e às exigências de gozo.

Eis algumas de nossas preciosidades, trazidas à luz do dia!