Celia Maria B. Siqueira (CLIPP) , Luciana Carvalho Rabelo (CLIPP) e Maria Cristina M. Felizola (CLIPP)

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Certamente, o psicanalista está convocado a tomar a palavra nas discussões que tratam das profundas transformações que se processam nas relações de sexo/gênero na atualidade.
Freud foi atraído pelas questões ligadas à sexualidade, buscando apreender, através da sua clínica, como se constituía a sexualidade humana. No seu texto “Algumas consequências psíquicas das distinções anatômicas entre os sexos”1, já demonstrava suas tentativas de desvincular o sexo anatômico da escolha da posição sexual. A Psicanálise tem um longo percurso procurando desvendar toda a complexidade de como se constitui um homem ou uma mulher.
Alguns autores falam da discussão puramente naturalista, em que a anatomia define o sexo como um destino que o sujeito deve acolher e aceitar. Em contrapartida, a outra posição é a de que a diferença entre os sexos é uma construção cultural, “resultante de uma ordem de poder engendrada pela Lei patriarcal que apenas legitima a sujeição de um corpo a outro”2
Entretanto, a política lacaniana não se confunde com as discussões políticas concernentes às relações de poder entre o gênero e as diversas identidades sexuais, pois “não crê apenas na ação causal e performativa dos semblantes”3. Antes disso, pensa que a diferença entre homem e mulher está orientada pelo real. A base desta diferença está ligada, portanto, ao gozo pulsional.
Nesse sentido, a contribuição da psicanálise é demonstrar a particularidade de cada sujeito na relação com o seu ser sexuado, na posição sexuada e na escolha de objeto, e no modo singular de seu gozo. Afinal, é disso que se trata em psicanálise.
11 Freud, Sigmund. Algumas consequências psíquicas das distinções anatômicas entre os sexos. In Obras Completas, volume XIX, p. 303, Rio de Janeiro: Imago,1996.
2 In Santiago, J. O inconsciente e a diferença sexual: o que há de novo? p. 82, Minas Gerais, In Revista Curinga nº 45.
3 Ibid. p. 82.