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NUCLEO DE PESQUISAS EM PSICANÁLISE E FILOSOFIA

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M. Bernadette S. de S. Pitteri (CLIPP/EBP/AMP)

Márcia Barbeito (CLIPP)

A filosofia, que desde seus primórdios buscou entender as condições de possibilidade do conhecimento humano, vivenciou o paulatino desprendimento de ramos do saber que se tornaram fortes o suficiente para ter crescimento independente, das matemáticas à psicologia e, mais recentemente, pode-se pensar na própria psicanálise. No entanto, a filosofia parece estar sempre presente enquanto epistemologia de base, garantindo o raciocínio lógico necessário ao desenvolvimento de conceitos específicos a cada ciência, a cada saber. Tal raciocínio aplica-se muito bem à teorização da psicanálise que, embora já tenha reclamado em algum momento a filiação científica, recusa atualmente tal denominação, face à diferença dos discursos entre psicanálise e ciência.

Pode-se falar em Filosofia da Psicanálise? Para o filósofo Luiz Roberto Monzani1 (1946-2021), nem todo o filosofar que discute a psicanálise pode receber tal denominação: que haja filosofia e que esteja em interlocução com a psicanálise são condições necessárias, mas não suficientes.

Nesse sentido, considerando que psicanálise e filosofia são discursos diferentes (assim como psicanálise e ciência) e apresentam uma tensão de origem – a psicanálise se constrói a partir da descoberta do inconsciente, a filosofia está associada à vida psíquica racional e consciente – a passagem entre estas diferentes linguagens está sempre exposta a tropeços, como se aquela abrisse um vazio abissal, sem possiblidade de construir pontes entre ambas. Insuperável impasse?

A relação de Freud com a filosofia é polêmica, aparece ao mesmo tempo como desejo e recusa, mas há quase fascinação em Lacan, que recorre a filósofos e suas teorias como apoio aos conceitos psicanalíticos desenvolvidos durante a sua práxis.

A proposta deste Núcleo é articular psicanálise e filosofia, na busca de uma teorização rigorosa dos conceitos psicanalíticos; não é fazer filosofia da psicanálise e menos ainda psicanálise da filosofia.

Neste semestre, propomos examinar conceitos veiculados no Seminário 18, De um discurso que não fosse semblante. Lacan, na busca de “um discurso que não fosse semblante”, deixa claro, no decorrer dos capítulos, que “só há discurso do semblante”, o que nos coloca frente a um paradoxo. Como pensá-lo?

Miller2 oferece a chave: trata-se da sexualidade para além do biológico, passando pelos significantes imaginários “que constituem o que chamamos semblantes”.

Há um caminho lógico a percorrer para além dos mitos freudianos, questionando a lógica aristotélica, passando por Pierce e a teoria da quantificação, além da tentativa de elucidar a natureza do escrito, valendo-se do chinês e do japonês, caminho que desagua no aforismo “não há Relação Sexual”, melhor explicitado nas “tábuas da sexuação”, cujo formato acabado encontra-se no Seminário 20, Mais, Ainda.

Inscrições na atividade: psicanálise.clipp@gmail.com

1 Monzani, L. R. Discurso Filosófico e Discurso Psicanalítico: Balança e Perspectivas. Artigo de 1988.
2 Miller, última contracapa do Seminário Livro 18.